Convivendo

Saúde Mental: um bem tão raro no mundo pós-moderno

Palavra "mente" escrita em inglês num pedaço de madeira.
60dudek / 123rf
Escrito por Sandra Magrini

A Organização Mundial de Saúde (OMS) não define e não tem fechado o conceito de Saúde Mental, mas as Ciências Psicológicas e Médicas definem como o “bem-estar físico, psíquico, mental, espiritual, social” e, em minha interpretação – data venia tão importante –, incluo o bem-estar econômico.

Pois bem, é de se pensar como em pleno 2020, numa era também denominada de pós-modernidade ou de sociedade líquida (rápida, fútil e que escorre pelos dedos…), com tantos desejos e exigências internas e externas, em que o capital e o mundo tecnológico dominam o mundo, com a desumanização do ser humano em que se misturam os conceitos neurofisiológicos, psíquicos, emocionais e mercadológicos sobre o que o ser humano realmente necessita, deseja ou tem vontade?

Um mundo em que muitos mesmo morrem de fome literalmente e doenças tão primitivas e outras sutilmente gastam milhares de valores com roupas, carros, celulares e aparelhos tecnológicos, muitas vezes descartáveis e líquidos como os relacionamentos, família, emoções, comportamentos e sentimentos. A geração de hoje (tão inteligente na tecnologia) já nasce totalmente insatisfeita com o que é e com o que se tem.

Freud, no início do século 19, criou uma técnica e um método de tratamento para as doenças chamadas “dos nervos”, tendo em vista como propósito principal a cura pela fala das neuroses da época, como histeria, paralisias psicossomáticas, psicoses e perversões.

Entretanto, não nos esqueçamos de que a natureza do ser humano sempre foi a mesma desde que foi criado, ou seja, do ponto de vista da ontogenética, filogenética, bioquímica e sistema nervoso central, ele não mudou (existindo iPads e computadores ou não), ele sempre foi e será o mesmo. Suas necessidades de convivência, relacionamentos, aprovação, instintos básicos, pulsão, proteção e sobrevivência são os mesmos desde o neandertal.

Como pensar em termos uma Saúde Mental diante de tais demandas de um mundo interno e externo em que um capitalismo selvagem impera em um mundo e os governos dominam, escravizam, oprimem e aniquilam uns aos outros? Um mundo em que diagnósticos psiquiátricos, o mercado e os lucros da indústria farmacológica viraram moda e a mercantilização dos sintomas e das doenças mentais cresce cada vez mais?

Homem branco com as mãos no rosto.
Daniel Reche / Pexels

Um mundo em que a escravidão passa desde a patologização das condutas humanas ao domínio das chamadas redes sociais.

Quando Freud, Jung, Nietzsche, Schopenhauer, Dostoiévski, Machado de Assis, Juliano Moreira, Zygmunt Bauman, Nise da Silveira, Melanie Klein, Anna Freud, Goethe, Paulo Amarante, Maria Santiago, Carlos Torres, Bert Herring e tantas outras joias tentavam falar sobre o comportamento humano, os gênios da tecnologia tentavam dominar até os pensamentos, modas e formas de pensar, sentir e agir do ser humano.

O mal do século, a Depressão! Por que será que existe tanta tristeza e seus desdobramentos serotonérgicos, endorfínicos, adrenérgicos e noradrenérgicos? Já não conhecemos tudo sobre nós e sobre o mundo? Os aplicativos de computadores, como o “Google”, não são suficientes para nos fazer pensar sem tanta angústia e rapidez? Eles não pensam por nós?

Vida ou sobrevida?

O que falar dos chamados Transtornos do Humor que a Depressão está dentre outros distúrbios como a Ansiedade, a Bipolaridade, a Fobia, o Pânico e outros Distúrbios como a Hiperatividade, o Déficit de Atenção, os Transtornos de Personalidade, os Distúrbios Alimentares e os devidamente classificados e nomeados em nossa Nosografia e Etiologia Psiquiátricas perfeitamente adequadas em nossos manuais de Transtornos Mentais e com a medicação devida para cada um delas? O que nos falta?

Sem falar das Psicoses, Suicídio, Perversões Sexuais… Como obter este bem tão raro que não se vende e não se compra denominado hoje de Saúde Mental?

Para que se fale de Saúde Mental temos de abordar o avesso dela, que são as Patologias, e assim vermos o quanto estamos em uma Epidemiologia Mundial de Doenças Mentais.

Mulher branca usando suéter branco e calça jeans rasgada, sentada no chão e com as mãos em um dos pés.
Imani Bahati / Unsplash

Qual o limite entre o absurdo, a loucura e a sanidade mental?

Será que não estamos a passos largos para uma desumanização do ser humano quando colocamos celulares e tablets nas mãos de bebês e crianças para que não deem trabalho e nos deixem quietos ou quando somos algozes ou vítimas de uma situação em que a família do pensamento está repleta de anões?

Nossos jovens estão se matando…

Como refletir sobre este tema de tamanha valia numa sociedade pós-moderna e cheia de conflitos?

Saúde Mental: um bem tão raro no mundo pós-moderno pretende lançar um pouco de luz e consciência a nossos passos.

Ora, se o ser humano está cada vez mais insatisfeito consigo e com o mundo que o cerca e ele sempre foi o mesmo desde que foi criado em sua origem instintiva, animal e espiritual, o que podemos inserir desses argumentos rabiscados propostos?

Se o ser humano é psicanaliticamente um sujeito da falta, do inconsciente, um sujeito desejante, que se distingue dos animais porque fala – posso dizer que os animais têm um instinto porque saciam sua necessidade em um objeto determinado e o humano tem uma pulsão porque nunca sabe o que quer, seu objeto de desejo é indeterminado –, por que acreditamos que em um clique podemos resolver nossa vida?

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Qual o lugar da fala e da palavra na vida do humano?

Qual o lugar do discurso do sofrimento e da dor na vida do humano que necessariamente sofre?

Desse modo, penso que a Saúde Mental do Indivíduo está intrinsecamente arraigada a fatores como o equilíbrio mental do ser, uma boa dose de tolerância às frustrações da vida (o que atualmente é de extrema raridade), somos seres que queremos tudo para ontem, mas não nos satisfazemos com quase nada na vida.

E para completar o que significa a meu ver de forma rasa o que vem a ser Saúde Mental reflito que seria também um equilíbrio entre id, ego e superegos freudianos, e não pode faltar uma boa dose de bom humor diante do sofrimento e da dor inerentes à existência humana.

Agora passemos às coisas simples da vida.

Como o discurso é árduo e incerto, sugiro apenas algumas considerações para que vocês apreciem com simplicidade em busca do humanismo que penso eu carrega a Saúde Mental dentro de si:

  1. Fale. Converse. Conte. RELACIONE-SE;
  2. LEIA;
  3. Pense. Não com a cabeça dos outros, mas com a sua própria cabeça;
  4. Conheça a você mesmo. Reflita. Medite. Reze. Ore. Faça terapia (independentemente de qual seja a linha);
  5. Se torne um com a Natureza – você e Deus são partes dela, plantas, animais, florestas, rios, mares, flores. TENHA MAIS CONTATO E DEPOIS ME CONTE;
  6. Busque seu bem-estar físico: comida, sono, esportes, cultura, lazer;
  7. Cultue o silêncio e a falta de imagens;
  8. Ame a si próprio e aos outros;
  9. Acima de tudo, tente amar a vida e quem exatamente sua identidade é. Busque sua identidade, mesmo que os outros a detestem;
  10. Mate a culpa, o remorso, a punição dentro de você;
  11. Encontre seu caminho espiritual;
  12. Cuide de sua família e dos relacionamentos.

Se alguma dessas recomendações das quais muitas delas você já deve estar cansado de ler e escutar servir, fico feliz; se não servir, procure o seu caminho, que traga sua própria Saúde Mental e seu bem-estar neste mundo louco, lindo e a meu ver cosmicamente perfeito.

Sobre o autor

Sandra Magrini

Escreve sobre áreas da Psiquiatria, Psicologia, Psicanálise, doenças mentais, medicações, Teologia, Psicopatologia, abuso sexual infantil e questões relacionadas à homossexualidade.

E-mail: magrinisandra8@gmail.com

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