É natural do ser humano querer encontrar o amor. Alma gêmea, a tampa da panela, a metade da laranja, alguém para ser feliz a vida inteira. Há quem tenha a sorte de encontrá-lo ainda jovem. Para outros, o amor chega após uma eternidade. Ele pode chegar em uma situação engraçada. Na interminável fila do banco depois do feriado. Às vezes, o amor resolve aparecer no ambiente de trabalho. Outras, em ocasiões desagradáveis. O amor pode ter um rosto desconhecido. Mas também pode ser um velho conhecido.
No começo são olhares tímidos. Quando eles se encontram, o mundo fica em câmera lenta. Demora até alguém tomar a iniciativa e puxar conversa. É muito assunto para pouco tempo. Quando o amor tem a forma de amizade, aquela vontade de estar junto sempre, o ciúme por ver outra pessoa perto, o coração acelerando traz confusão. Será que estou confundindo as coisas? Será que ele (a) sente o mesmo? E se eu expuser meus sentimentos e colocar tudo a perder? As almas sabem que é amor, mas, leva tempo até as mentes se renderem.
Vem o namoro. A parceria para todas as horas. Carinho e cafuné para deixar tudo ainda melhor e para levar a tristeza embora. Leveza de alma. Amizade para falar bobagem, ficar de bobeira e dar bronca. Intimidade, a cumplicidade do olhar, aquilo que torna o sexo ainda melhor. Confiança para ser você mesmo e para pular de olhos fechados em mares desconhecidos. Respeito. Poderíamos passar horas falando sobre as delícias de namorar.
A vida de namorados é uma aventura. Briga-se agora, poucos minutos depois os dois já estão rindo. Se a coisa ficar feia, cada um vai para a sua casa e pronto. Amanhã ou depois de amanhã, uma mensagem, um telefonema, um abraço, um eu te amo e tudo fica bem. Ainda com todos os desafios da vida a dois, os pombinhos decidem se casar e dividir o mesmo ninho.
Do namoro para o casamento
Durante o namoro, os defeitos irritam em um primeiro momento, mas, logo depois fica engraçadinho. Porém, com o casamento, a calcinha esquecida no banheiro, a toalha molhada em cima da cama viram crimes indefensáveis. É um tal de usar o banheiro com a porta aberta, o rapaz não ajudar sua amada com as compras do supermercado.
Outra questão que marca a transição do namoro para o casamento é a não saudade. Os encontros entre namorados não são frequentes. A saudade é um afrodisíaco poderoso. Os casais trocam mensagens carinhosas e sensuais que instigam a imaginação. Os preparativos para o grande dia são muitos. A escolha da roupa, dos sapatos, maquiagem, perfume é um ritual. Com o casamento, o ser amado está ao seu lado todos os dias. Esta proximidade elimina a vontade de cuidar do visual. Ela dispensa a maquiagem, vive de rabo de cavalo, a lingerie é aquela do dia a dia. Ele prefere assistir o futebol pela TV, bebendo cerveja e comendo amendoim. A perda da vaidade é o primeiro sinal que a magia terminou.
A perda da individualidade é comum. Os programas que cada um fazia com seus amigos tornaram-se mais escassos.
Futebol com o pessoal do escritório, nem pensar. Almoço com as amigas, de jeito nenhum. O casal passa a viver para o outro, no pior sentido. Morar na mesma casa e fazer tudo juntos limita e sufoca. As almas se fundem, porém, são dois corpos que, embora dividindo um mesmo espaço, precisam ocupar outros espaços também, ter experiências e referências próprias.
Vida de rede social
Com o tempo o café da manhã não é mais repleto de beijinhos. Baladas e festas viram coisas do passado. O carinho e o cuidado são ofuscados. Nesse cenário tomado pela desilusão, o casal começa a olhar para a grama do vizinho e se admirar com a beleza dela. O casamento dos outros sempre parece ser mais feliz que o nosso. Os outros casais são bonitos e bem vestidos. Ganham muito bem, apresentam estilo de vida invejável. As fotos do Facebook e Instagram são das várias viagens e festas. Os outros casais demonstram viver um conto de fadas.
Entretanto, a vida exposta nas redes sociais quase nunca corresponde à vida real. Ninguém posta fotos tendo remela nos olhos, estando com os cabelos desgrenhados. Redes sociais jamais devem ser parâmetros de comparação. Elas perderem sua função de facilitar a comunicação e tornaram-se vitrines. Cada um enfeita a sua, criam efeitos pirotécnicos para mostrar o quanto suas vidas são lindas e intensas. No Facebook e Instagram todo mundo é feliz.
Chegada dos filhos
O consenso é que os filhos melhoram o casamento. Porém, a chegada deles, por mais desejada e planejada que seja muda radicalmente a vida do casal. As mudanças hormonais, corporais e principalmente psicológicas vividas pela mulher podem separar o casal em um momento onde a união deveria aumentar. Os homens, em sua maioria não preparados para lidarem com emoções, pois, não foram educados nesse sentido, não conseguem apoiar suas mulheres.
Com os filhos, mudam os valores e a rotina. O bebê chora muito, acorda de madrugada. A responsabilidade sobre ele está sobre a mulher. As mamadas, banhos e troca de fraldas roubam o espaço da vaidade. Para o casamento não acabar com a chegada dos filhos, o casal precisa ter a consciência que não deixaram de ser homem e mulher. É preciso refletir a nova situação e chegar a um acordo sobre como conciliar filhos e vida a dois. A situação é difícil, mas, a harmonia não chega sem sacrifício.
Brigas
Elas acontecem mesmo nos casamentos felizes. Quando o relacionamento vai mal, uma palavra mal colocada pode ser o estopim de uma separação. Mas, o que não deve ser dito na hora da briga?
- Não é a primeira vez que você faz isso
Concentre-se no assunto da discussão. Jogar na cara o histórico de insatisfações com o parceiro agrava a situação. O “acusado” poderá fazer o mesmo
- Eu não faço isso
É a mesma coisa que dizer “eu sou perfeito (a), sempre faço o certo”. Quem ouve pode dizer “se você é tão perfeito (a), procure outra pessoa”.
- É bem coisa da sua família
Colocar a família no meio é o mesmo que jogar gasolina para apagar incêndio. Quem for alvo das críticas vai defender a família com unhas e dentes. Quem usa desse artifício também ouvirá coisas desagradáveis.
- Eu não estou bravo(a)
Então por que está brigando? Negar os sentimentos é altamente prejudicial.
- Você é infantil
Quem diz a frase coloca-se em uma posição superior. Se o outro é infantil, ele não vai querer discutir e o problema só aumenta.
- Você é louco(a)
Pior que chamar o outro de infantil. Alguns homens usam essa “tática” para desestruturar a mulher.
Vida fora dos padrões
Quando entramos em um relacionamento, não o fazemos sem ter um padrão em mente. Às vezes, queremos ter o mesmo casamento dos nossos pais, ou então, fazer tudo para não ter a infelicidade deles. Mesmo quando nossos pais não são os padrões, sempre temos ideais sobre a vida em comum. Sonhamos com declarações de amor açucaradas em público. Queremos também andar na chuva feito dois adolescentes. Não abrimos mãos de dormir de conchinha.
Esses ideais românticos nem sempre farão parte do casamento. Entretanto, isso não significa que o relacionamento passa por uma crise. Por mais que as declarações não venham na quantidade e intensidade desejadas, não quer dizer que o (a) parceiro (a) não ame você. Às vezes, o medo de pegar uma gripe não faça vocês andarem na chuva. E no dias que o cansaço é maior, se esparramar na cama é melhor que dormir de conchinha.
Amor após décadas
O amor pode sobreviver ao tempo. O professor de psicologia Arthur Aron na Stony Brook University de Nova York é um dos autores do estudo que analisou casais juntos há mais de 20 anos que ainda são completamente apaixonados. Os voluntários primeiro respondiam a seguinte pergunta: “Você ainda está loucamente apaixonado por seu parceiro de longa data?”. As outras questões eram sobre a frequência sexual – média de 2 vezes por semana- a importância do parceiro e reação corporal na proximidade do parceiro. Após os questionários, 10 mulheres e 7 homens foram submetidos a tomografias cerebrais enquanto olhavam fotos de amigos, familiares e do parceiro.
A região segmental ventral e o estriado dorsal dos pesquisados ascenderam diante das fotos dos cônjuges. Pesquisas anteriores revelaram que as regiões ricas em dopamina –ligadas à recompensa e motivação – também ascendem nas pessoas que se apaixonaram recentemente. Tal reação é semelhante a quem cheira cocaína. Os voluntários também apresentaram alterações nas regiões cerebrais ligadas ao vínculo maternal e a sensação de afinidade com o cônjuge, afirma Aron. O aumento de atividade no hipocampo posterior, relacionada à fome e ao desejo está ligada a frequência sexual.
A pesquisa de Arthur Aron sugere que é possível se apaixonar novamente. Contudo, o psicólogo Robert Epstein, especialista em amor e relacionamentos não concorda com isso. Epstein revela ceticismo em relação às descobertas, pois, o estudo analisou um grupo pequeno e os cientistas podem ter tirado conclusões precipitadas.
Como reinventar o casamento
O estudo de Arthur Aron revela que é possível se apaixonar novamente. Mas, ciência à parte, tem como resgatar a magia, o frio na barriga e o prazer de estar juntos. Vamos conferir quais atitudes são necessárias para resgatar o casamento?
- Diálogo
Conversando a gente sempre se entende. Abra o jogo com seu parceiro (a), sem cobranças e acusações. Convide-o (a) para fazer o mesmo. Uma conversa franca pode revolucionar seu casamento.
- Organizar agenda
O casal precisa definir funções. Se você vai ficar com as crianças, o outro vai ao supermercado. Se um ajuda as crianças, o outro cozinha e lava a louça. Estabeleça horários para os filhos dormirem, para o casal poder ficar junto à noite.
- Cuidar do visual
Após a maternidade, muitas mulheres descuidam-se do visual. Mantenha uma rotina de cuidados com a aparência. Se a grana tiver curta, faça as unhas, cuide da pele e do cabelo em casa.
- Domine o orçamento
Pagar as contas consome tanto o casal que a relação fica em segundo plano. A situação piora quando falta dinheiro. Estabeleçam metas financeiras e aprendam a controlar os gastos. Falem sobre dinheiro, mas, não façam dele o centro do universo.
- Individualidade
Vocês são casados, mas, nem por isso devem fazer tudo juntos. Se o homem gosta de jogar futebol, qual problema? Se a mulher gosta de sair com as amigas, qual o drama? Os casais precisam entender que existe vida após o casamento. Manter a individualidade é essencial para a saúde do casamento.
- Reascender a paixão
Para muitos, o casamento significa fazer mais sexo. Entretanto, acontece exatamente o contrário. Os filhos, o cansaço do dia a dia não podem atrapalhar a vida sexual. Para reacender a chama é preciso ser criativo. Troca de mensagens sensuais, bilhetinhos atrevidos são bem-vindos. Usem os momentos a sós para conversar e terem momentos de intimidade.
Viver junto é uma arte.
Conviver com as falhas alheias sem enlouquecer é difícil. Contudo, não é apenas o outro que tem defeitos. Parar de criticar e reconhecer o que não é bom em si é muito importante. O diálogo jamais deve ser esquecido.
Não guarde mágoas. Ambos precisam expor seus medos, dúvidas e frustrações. A famosa “DR” sempre é colocada como algo chato, porém, discutir não os problemas, mas os objetivos que cada um tem para a relação e a vida como um todo permite o casal acertar os ponteiros. Por isso, nada de dormir brigado, isso apenas amplifica os problemas. Além do mais, dormir brigado afeta a qualidade do sono, trazendo ansiedade, irritabilidade, problemas de memória, aprendizado e até mesmo um quadro depressivo.
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Lembre-se do que fizeram vocês se casarem. Cumplicidade, conversas, abraços, a confiança e o respeito. Cumplicidade para dividir sonhos e lutas. Conversas despidas de medos. Abraços aquecedores e calmantes. Confiança para mergulhar de olhos fechados. Respeito para expor suas ideias. Respeito é a chave para um relacionamento feliz, seja ele qual for.
- Texto escrito por Sumaia Santana da Equipe Eu Sem Fronteiras