Catarina estava diante de uma fase que considerava difícil e quase impossível de superar devido à grande dor emocional que estava vivenciando.
Ela rezava (praticamente implorava) para que algo acontecesse. Rezava para que uma mudança a transformasse em outra pessoa. Uma pessoa capaz de viver sem dores, angústias e sofrimentos.
Relutava e assim vivenciava uma longa fase de negação. Apesar da terapia e da medicação, ainda perdurava uma questão difícil de cuidar.
Essa dificuldade momentânea de cuidar de sua dor gerava esperança por mudanças. Mas com a mente entorpecida pela dor, sua capacidade imaginativa estava aguçada.
Olhava borboletas voando pelo jardim e almejava voar também. Imaginava a metamorfose. Leveza e liberdade para voar. Voar para vislumbrar flores, cores e perfumes. Desejava se transformar. Gostaria de romper os limites gerados por suas angústias.
Num dia qualquer, ao entrar na cozinha, notou que uma lagarta escolhera o quadro de avisos fixado ao lado da porta de entrada para se instalar.
Catarina considerou o episódio como um sinal! Um sinal maravilhoso da vida mostrando que as preces dela seriam atendidas: hora de mudanças! Se tornaria uma borboleta livre para voar.
Permaneceu parada diante do quadro, acompanhando cada instante da transformação: os impulsos internos transformando o corpo da lagarta em casulo.
Ela observou por vários dias. Olhava atenta para o casulo na expectativa de ver a borboleta nascer.
Passaram-se vários dias e nada. Nenhuma alteração no casulo.
Muitas semanas se passaram e o casulo não abriu. A borboleta não nasceu. Ao perceber que não aconteceria o rompimento do casulo, sentiu tristeza. Considerou a experiência como um sinal de fracasso pessoal. Se espelhou no episódio e considerou que estava condenada a ser lagarta e não se tornar borboleta. Condenou a si e condenou a borboleta. Condenou a natureza. Morta. Fracassada. Desabou.
Você também pode gostar
- Estude como lidar com as mudanças da vida e seja alguém melhor
- Reconheça que a mudança é a evolução do comportamento
- Veja por que todos nós precisamos mudar
Mesmo triste, Catarina decidiu não retirar o casulo do quadro. Apesar de estranho, muito estranho, serviria de lembrete. Uma lembrança sobre aceitar o que é. Tentaria não julgar e consideraria possibilidades e não desejos. A realidade era o que estava diante de seus olhos. Nem boa, nem má. Apenas a realidade.
Pensou sobre mudanças e sobre o exemplo que a natureza estava lhe dando.
Refletiu sobre ciclos, pausa, tempo, introspecção e silêncio. Talvez a metamorfose não seja um espetáculo único para marcar uma grande mudança. Não precisava necessariamente mudar de forma, ou de vida, bastava aprender a aceitar e acolher suas dores com a leveza de uma borboleta.
Nota da autora: Catarina é personagem fictícia de “Clara e o Caderno de Escrita”.