É muito comum em nossos círculos sociais ouvirmos falar de expressões como “fase ruim”, “inferno astral”, “tô numa bad” etc. Tais expressões podem significar tanto circunstâncias alheias ao nosso controle que demandam apenas paciência e aceitação — como desastres naturais que geram uma crise de abastecimento em um país, por exemplo — ou também podem significar aquilo que de vez em quando se manifesta dentro da gente e faz com que a mais bela das paisagens transforme-se em verdadeiros desertos cinzas e desolados aos nossos olhos. São aqueles momentos em que nada tá bom, que não paramos de reclamar e que não aguentamos nem a nós mesmos. Momentos assim podem durar dias, semanas e até meses, se assim permitirmos. Eu, por exemplo, não me canso de passar por fases assim na minha vida e se eu não fizer um esforço contrário, isso pode me levar a duras crises. Pois bem, depois de tanto apanhar nessas fases que já chegaram a durar meio ano ininterrupto, desenvolvi uma espécie de protocolo de escape para essas ocasiões.
O que eu vou escrever nos próximos parágrafos não se trata de uma receita milagrosa que nos afastará para sempre dessas questões que nos assolam — eu sinceramente gostaria muito que houvesse tal fórmula —, mas a minha proposição é apenas uma estratégia de saída a partir do momento em que já me vejo nessa condição. E é muito importante evidenciarmos que estamos assim, a aceitação é o primeiro passo para mudar qualquer coisa, independentemente do que seja, pois não há como mudar o que eu nem sei o que precisa ser mudado.
Como ser humano, percebi que somos dotados de vários aspectos que podem nos definir. Não somos só um corpo, tampouco só mente ou emoções… somos uma mistura de tudo isso e muitas coisas mais, cada uma delas com demandas diferentes de alimentos para que possamos viver em plenitude. Por esse motivo, percebi que quando estou nessa fase, a minha tendência é alimentar todos esses recortes de mim apenas com os piores alimentos possíveis. Não me refiro a alimentos somente no âmbito físico. Alimentos, a meu ver, é tudo aquilo que trazemos de fora para dentro. Um alimento ruim pode ser tanto um nugget gordurento quanto uma notícia de jornalismo policial ou até uma fofoca, por exemplo. Tudo isso vem de fora, não nos nutre adequadamente e nos agride quando absorvemos. A diferença está apenas no tipo de absorção. Tendo observado isso, comecei a perceber que quanto mais me alimento de coisas que me nutrem, mais rápido eu saio desta “maré ruim”. Não é minha intenção aqui dizer que devemos parar de fazer tudo aquilo que é considerado ruim, pois dessa forma eu cometeria uma baita hipocrisia. O foco aqui, principalmente quando estamos nessa fase, não é o deixar de fazer, mas sim o fazer, ou seja, não vou deixar de assistir a filmes de terror que eu adoro ou de comer batata frita ou de tomar aquele sorvete para viver uma vida quase estoica. Posso até fazer algumas coisas que me desviem do ideal de saúde, afinal somos todos humanos. Só que, além disso, procurarei ao máximo fazer coisas que me edifiquem. Um copo sujo de lama não se limpa se eu apenas parar de preenchê-lo com lama, ele precisa de água pura.
Para fins mais didáticos, tomei a liberdade de dividir o ser humano em quatro recortes essenciais neste texto. São eles: o físico, o mental, o emocional e o espiritual. E para que eu possa sair plenamente desse estado de desânimo e de desespero caracterizado pelo que chamamos de fase ruim, todos esses recortes devem estar bem nutridos, sem exceção. Mas antes de começar a explicar como alimentei cada um desses aspectos de mim, devo alertar ao leitor que tudo que está sendo escrito parte de impressões e reflexões obtidas por minha própria vivência. Desse modo, sinta-se à vontade para concordar, discordar, acatar, criticar, aproveitar ou adaptar o que eu abordo do jeito que achar melhor.
Físico:
Para este recorte não há muito mistério. É bem comum estarmos prostrados quando estamos na fase ruim, a ponto de só querermos cama e isolamento. Qualquer tentativa de sair de casa rumo a alguma academia ou a qualquer outro espaço para atividades físicas seria torturante. Por esse motivo, quando assim estou, foco apenas na alimentação. Não deixo de tomar meu sorvete ou meu refrigerante quando tenho vontade, mas procuro preencher minha cozinha com bastantes frutas, legumes e verduras. Caso seja difícil alcançar uma alimentação nutritiva nos primeiros dias, polivitamínicos com supervisão médica são uma boa opção. Dentro de alguns dias, mantendo uma alimentação boa, a cama vai ficando cada vez menos atraente e nosso corpo já começa a responder com mais disposição.
Mental/Emocional:
Não sei vocês, mas acho difícil fazer uma separação precisa entre estes dois âmbitos. Para mim, um influencia o outro. A mente, associada ao raciocínio, interpreta a realidade de fora recebida pelos sentidos, que geram sentimentos e emoções, que por sua vez influenciam a mente e assim por diante, num looping infinito. Mas, enfim… Alimentos bons para a nossa mente e nossas emoções são aqueles que estimulam o nosso raciocínio e que também nos inspiram. No meu caso, procuro assistir a filmes, conhecer letras de músicas novas, ouvir palestras sobre assuntos construtivos, assistir a vídeos sem legenda em uma língua estrangeira… As possibilidades são infinitas e variam de pessoa para pessoa. Em essência, para alimentar essa parte do nosso ser, precisamos procurar coisas de que gostamos, mas que demandem um esforço mental para que apreciemos. Se você gosta de futebol, procure escutar uma partida pelo rádio ou procure saber mais sobre os jogadores e a história dos clubes para que torce etc. Devemos, em tese, desafiar a nossa mente para que ela se expanda e para que dessa forma olhemos a nossa realidade por diversos ângulos diferentes.
Espiritual:
Este é um assunto complicado para se tratar, principalmente para os céticos. No entanto, o sentido de espiritual que dou nesse texto nada tem a ver com vida após a morte, religiões, entidades extracorpóreas ou qualquer outra coisa que vier da crença humana. Para mim, a parte espiritual do ser humano é aquela parte mais sutil, até mesmo do que a nossa própria mente. Explicar o que é o espírito é como tentar gesticular com o corpo o que é a mente. Não há como explicar com exatidão. O próprio conceito de explicação das coisas se encontra no nível mental. Mas dá para descrever algumas manifestações daquilo que pode ser chamado de espírito humano. Aquilo que sentimos quando estamos em um cenário de natureza exuberante ou quando estamos ouvindo uma música bem-feita em seus mínimos detalhes ou quando observamos um gesto de carinho e de atenção de um estranho para com outro… Para que essa parte seja alimentada, precisamos praticar o que muitos chamam de espiritualidade, para os religiosos é mais fácil, pois uma oração bem-feita, um mantra bem cantado ou um sutra bem recitado nos leva a níveis de consciência bem nobres, no entanto, como eu havia dito nas linhas anteriores, o contato com a natureza, com as belas artes e as boas ações também alimentam e retroalimentam bastante essa nossa área. Uma boa leitura de livros de filosofia e meditação também são boas opções.
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Todos esses métodos aqui elencados podem ser feitos simultaneamente ou progressivamente. Não há uma fórmula certa de praticar. Eu sugiro apenas que a pessoa se permita estimular todos esses âmbitos, mas sem pressa e autocobrança.
Devo alertar mais uma vez que tudo que foi dito nesse texto parte de experiências pessoais. Não sou profissional da área de saúde nem coach e tampouco líder espiritual. Sou só uma pessoa que já passou por momentos bem complicados na vida, que aprendeu com alguns erros e que decidiu passar adiante alguns desses aprendizados. Sendo assim, caso você sinta que tem um problema grave, nunca deixe de procurar ajuda profissional. A internet é uma fonte inesgotável de informações que nos traz inúmeros benefícios, mas ela jamais vai substituir um profissional que se dedicou e estudou a vida inteira para ajudar outras pessoas. Tenha sempre em mente que o seu bem mais precioso é a sua saúde, seja ela física, mental, emocional e espiritual.