O atual momento sombrio, que se mostra esperançoso porquanto vacinas acenam salvação, contrapõe-se com exemplos danosos de desobediência civil que quem assim agir colocará o corpo na fila dos que esperam por covas, sendo responsabilizados como suicidas; e aquele que incentivar a não observância das normas sanitárias à contenção viral será tido por assassino ou até por genocida. Será igualmente assassino quem não seguir o rigor exigido e contagiar pessoas que por isso morrerão.
Não falo de justiça pela lei terrena, falo da lei transcendental de causa e efeito, a qual nos responsabiliza por nossos atos.
A situação mundial é grave, a brasileira é gravíssima. O descalabro atingiu tal ponto, que estamos nos acostumando ao número diário de mortes sem nos atentarmos que cada uma delas corresponde a uma vida ceifada, uma oportunidade de aprendizado tolhida.
Não imaginemos que exista um deus sentado num trono a julgar pessoas. Entendamos que levamos conosco o nosso histórico. O que fizemos não está catalogado no além, está anotado em nós, espírito, e por onde formos seremos vistos por todos como realmente somos, nos enxergarão pelo que fizemos.
As alegorias de céu e inferno, anjos tocando harpas e capetas fazendo diabruras, pode até ter efeito didático aqui ou ali, porém sabemos que são figuras folclóricas, porquanto céu e inferno são estados de consciência que perduram após a morte do corpo.
Logo, temos o ensejo de usar da peste atual a nosso favor, criando o nosso céu ao compreendermos que a atualidade exige reflexão, pede tolerância, induz a indulgência, promove a confraternização, é propícia à reforma íntima.
Inversamente virá a ser nosso inferno, se nos entregarmos à indisciplina, às críticas, ao desalento, às lamentações, à inobservância do rigor para com a saúde do corpo, à desobediência, à revolta.
Crer em Deus não é suficiente, pois, como está escrito, “até os demônios creem”. Esperar em Deus não é oportuno porquanto também foi dito que “será julgado cada um segundo as suas obras”.
A atualidade nos favorece produzir obras por ser necessário agir Deus, e agir Deus não é se dedicar ao pieguismo religioso, nem às beatices, nem aos rituais. Agir Deus é viver Deus, não destruindo a natureza, não poluindo a água.
É não sujar as ruas, respeitar e obedecer às leis, acatar as autoridades, não se prestar a qualquer tipo de promiscuidade, preocupar-se com a própria consciência e não com a consciência alheia. É sorrir para quem está triste, é tolerar o idiota, é compreender o inquieto, o desajustado. É respeitar as árvores, os animais, os pássaros, os vermes, os peixes e o ser humano; e, principalmente, cada um respeitar a si como emanação divina.
A covid-19 faz com que nos vejamos nus, sem as vestimentas da aparência que o mundo nos pede.
Abrimos o guarda-roupa e vemos roupas sobrando, calçados a mais, bolsas amontoadas. Usamos tudo isso sem que tenhamos percebido que não precisamos de tanto. Até o nosso jeito de falar está mudando.
A humildade, a simplicidade passou a ser nossa, não dos outros. O egoísmo quedou-se ao altruísmo; a ganância deu passagem à generosidade; a malícia se enfraqueceu frente à candura; a desesperança, ao ver o novo amanhã que se avizinha, transforma-se em coragem.
Não percamos a oportunidade que a pandemia nos oferece para nos reformar em espírito e interagir com o hausto divino que inunda o planeta e que sempre foi a contrapartida de todas as enfermidades.
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Obrigado por me ouvir.