Narcisistas, geralmente, estão tão autocentrados em encantamento com as suas próprias imagens que não há espaço para o desenvolvimento do amor ao outro. Aliás, não existe a possibilidade desse tipo de olhar.
Freud desenvolveu a sua fantástica teoria sobre o narcisismo e postulou que, ainda quando somos bem pequeninos, ocorre a transição de um período maturacional em que o prazer está centrado nas sensações que temos em nosso próprio corpo, fase que inclui o autoerotismo.
Numa evolução normal, o direcionamento desse afeto caminha do próprio corpo e vai para outros objetos e pessoas diferentes de si mesmo. Essa é uma passagem que, se bem-feita, desenvolve a percepção de que existem outros fora de nós mesmos e que estes têm sentimentos e gostos independentes.
Essa dinâmica pode ser gerada de crises por volta dos 8 meses de vida, quando o nenê percebe que o outro não é extensão de si mesmo. Conforme o limite do outro se revela, para amar alguém fora de si mesmo é preciso lidar com questões que envolvem a alteridade. Amar e aceitar as diferenças entre o que sou eu e o que é o outro são tarefas a serem concluídas.
Narcisistas adoecidos não conseguem amar ninguém além de si próprios, pois se imaginam grandiosos de tal modo que esperam que todos ao seu redor se sintam obrigados a compactuar com seus delírios de magnanimidade e transformam a vida de quem estiver à sua volta um verdadeiro inferno. Como são eternos insatisfeitos em suas infinitas demandas, causam toda a sorte de acuamento, de terror, de manipulações e de iras.
Como o narcisismo se manifesta na criança e no adolescente?
Crianças e adolescentes narcisistas sempre desejam que as atenções sejam voltadas para as próprias necessidades e próprios gostos. Além disso, há uma baixíssima tolerância às frustrações e dificilmente se contentam com algo.
Diante de dificuldades escolares, quando não vão bem em alguma disciplina, o que é comum, culpam professores por protegerem outros alunos e não lhes darem a atenção devida.
Por cultivarem uma grandiosidade e um senso de merecimento fora de contexto, muitos não conseguem seguir em frente com os estudos ou com o trabalho e encaminham-se para serem verdadeiros parasitas familiares.
Ademais, os narcisistas visam manipular tudo e todos e, se acharem necessário, não hesitarão em mentir na tentativa de gerar culpa por não serem suficientemente providos daquilo que imaginam que merecem e necessitam ter.
Tudo tem que girar em torno deles para satisfazê-los em suas demandas e, quando as coisas não ocorrem assim e devido à baixíssima tolerância que eles têm às frustrações, costumam ter ataques de fúria que, com o tempo e em casos mais graves, podem se transformar em violência física em quem estiver por perto, incluído os próprios pais.
Como as redes sociais podem influenciar o narcisismo nas crianças e nos adolescentes?
- Vida de selfies, em que tudo o que se passa se refere ao que é supostamente belo no momento, promoção ininterrupta do marketing pessoal desenvolvendo excessos como a exacerbação do “culto ao eu” e busca frenética pelo sensacional, pelo status e pelo sucesso pessoal.
- Vida voltada para fora e fuga do vazio interior. Pouco ou nenhum espaço para a construção da subjetividade, ausência de estrutura e aumento drástico da fragilidade em relação às frustrações. No universo on-line, a era do cancelamento chegou. O que incomoda e o que não se dá conta deixam rapidamente de existir sem a possiblidade de um desenvolvimento reflexivo anterior.
- Cria-se o imaginário do êxito sem esforço.
- A cultura do cancelamento já é o reflexo da ausência de vínculos estáveis ampliada pela volatilidade das inúmeras redes sociais, provocando aceleração massiva versus paralização da vida, além de incluir perturbadores sentimentos de desconexão.
Quais as consequências? Até que ponto é prejudicial? E o que pode ser considerado normal?
Inúmeras consequências devido ao excesso das falsas vidas sociais pela internet podem ocorrer.
Jovens não ampliam determinadas redes neurológicas, perdem a noção de respeito para com os pais e regras simples, como comer, dormir e ir ao banheiro, começam a ser negligenciadas, o que significa que um perigo maior está no ar.
Conselho para os pais:
Além de resgatarem o lugar de autoridade, precisam ser empáticos, mas sem deixarem de dar limites claros. A determinação de horários precisos para o uso da internet deve ser observada com bastante seriedade. Se os filhos insistirem em não fazer absolutamente nada ou tiverem ataques de birra no intuito de manipularem os pais para lhes devolverem a ‘alegria/internet’, os pais devem se manter firmes, oferecendo atividades alternativas e, em muitos casos, se puderem, participarem de algumas dessas atividades.
A ideia é descondicionar esses ritmos ao ponto de condicioná-los em outras atividades que também possam gerar prazer. Se os filhos já se encontrarem muito viciados nas redes sociais, é provável que essa mudança de costume seja mais trabalhosa, mas, de qualquer modo que seja, sempre valerá a pena todo o esforço que for dispendido.
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Observe o fato de que pais que reclamam de filhos com dificuldades para lidar com frustrações podem estar dando exatamente o mesmo exemplo a eles se acaso desistirem de fazer valer os seus limites devido às resistências e às dificuldades pelos filhos impostas.
Ninguém disse que ter filhos seria uma tarefa fácil…
Quanto mais despertos, melhor!