Autoconhecimento Convivendo

Dia da Mentira – a palavra, o vírus e outras considerações

Pessoa com nariz comprido que está sendo substituído por pássaros voando como uma metáfora para a honestidade.
lightwise / 123RF
Escrito por Dulcineia Santos

Houve um tempo em que a palavra valia como um contrato: se você se comprometesse com algo verbalmente, ninguém tinha dúvida de que cumpriria. Pessoas se casaram, terras foram transferidas, tudo porque alguém “deu a palavra”. Será que hoje ela está perdendo um pouco de importância? O Dia da Mentira é um bom motivo para pensarmos sobre isso.

Para a antroposofia, a palavra é considerada uma das três conquistas: a primeira é o andar; a segunda, o falar; e a terceira é o entendimento do “eu”. Se você pensar na frase de Cristo “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”, vai conseguir ver as conquistas expressas nela também.

Compromisso com a verdade

Tanto para a antroposofia quanto para os indígenas, a palavra sem alinhamento com ações é vazia.

Os indígenas usam o termo “pôr as palavras para andar”, que a meu ver tanto pode ser entendido como colocar em prática o que se aprende quanto fazer o que se fala. As duas interpretações, porém, apontam para um compromisso com a palavra e a importância dela.

Para o hinduísmo, isso é chamado “satya” e é um dos preceitos da conduta de um yogi. Vai além de falar a verdade, mas também inclui a coerência e considerar como a palavra afeta outras pessoas.

Estátua de Ganesha com colar laranja rodeada por plantas e árvores.
Artem Beliaikin / Pexels

Conceito de mentira

Existem mentiras explícitas (falar que foi a um lugar ao qual não foi), mas penso que existe uma linha cada vez mais tênue do que é considerado mentira. Por exemplo: mostrar só positividade nas redes sociais é mentir? Esconder um detalhe importante sobre algo para aumentar a chance de venda é mentir?

No último mês, um reality show mostrou a conversa de um participante explicando como se pode plantar mentiras (ou distorcer uma verdade) para, por exemplo, mudar opiniões ou o resultado de uma eleição. Ou seja, uma mentira pode mudar o destino de um país inteiro.

Mentira e a pandemia

Alguns estudiosos da antroposofia consideram que a pandemia está relacionada à mentira, é resultado dela.

“Num momento global em que as mentiras se espalham como vírus (fake news), isso tem completo sentido. São manipulações em rede global espalhadas pelos próprios usuários, nas redes sociais – WhatsApp, Facebook e Twitter – com alcance e velocidade incríveis (similar à velocidade de contágio do coronavírus). Eles são contaminados por tais mentiras, que se apossam de sua consciência, distorcendo a percepção da realidade. Tais mentiras são tão contagiosas quanto o coronavírus. Estamos em uma pandemia de mentiras também. O coronavírus pode ser a reverberação de tal epidemia, tanto em velocidade de contágio quanto em escala.” (Biblioteca Antroposófica, comentando a fala de Rudolf Steiner em Teosofia Rosacruz, Leitura VI, A Lei do Destino, GA 99).

Globo terrestre segurado por duas mãos de luvas. Há uma máscara sobre o globo.
Anna Shvets / Pexels

Mentira e o impulso crístico

Cristo dizia: “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.”

Relacionado a isso, Rudolf Steiner disse o seguinte no texto “O nascimento do Cristo na alma humana”:

“Se vocês sentem uma reação cada vez que vocês mesmos ou outros não respeitam a verdade, quando se confrontam com a falta de verdade, quando sentem que no mesmo momento em que a falta de verdade entra na esfera das suas vidas, um impulso os cerca como que ameaçando e indicando a verdade, um impulso que não deixa entrar a mentira em suas vidas, que continuamente os anima a respeitarem a verdade, então sentirão a vida do impulso crístico em contraste à vida tão dada às aparências.”

Mentir para si mesmo

Por último, vale refletir sobre quanto mentimos para nós mesmos e quanto de sofrimento nossas incoerências nos trazem.

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Se você acha que não, pense: você realmente gosta do seu trabalho, ou é só algo que você continua a fazer por status? Você gosta de trabalhar, ou é só algo que você diz a si mesmo, porque pensa que é a coisa nobre a se fazer? Seus filhos são uma bênção na sua vida, ou te trazem uma dor sobre a qual você não consegue falar? Você bebe mesmo só uma vez por semana? Tudo que acontece com você é responsabilidade de outra pessoa?

Que mantenhamos cada vez mais o nosso compromisso com a verdade, para os outros e para nós mesmos.

Sobre o autor

Dulcineia Santos

Dulcinéia Santos é consultora de desenvolvimento para a maturidade, praticante certificada da ferramenta MBTI® de tipos psicológicos e coach. É também autora do livro “A Namorada do Dom”, em que conta as lições que aprendeu nos relacionamentos e na sua jornada até a Suíça.

Acredita que a vida é cheia de lições e que se não as aprendemos não passamos pro próximo nível do jogo. Saiu de casa cedo e foi morar no mundo – agora está na Suíça, onde estudou antroposofia por três anos. Gosta de tomar cerveja no boteco enquanto papeia, de aconselhar, da língua portuguesa, de cozinhar, de ficar só e de flexibilidade de horários. É esotérica, mas acha que estamos encarnados para viver as experiências terrenas com o pé no chão – de preferência dançando.

Formações:

Bacharel em línguas aplicadas

Brain Based Coaching Certification
NeuroLeadership Group – Londres

MBTI® – Myers-Briggs Type Indicator – Step I and Step II
Myers-Briggs Foundation – Florida, USA

Antroposofia
Goetheanum – Dornach, Suíça

Terapia Multidimensional
Genebra – Suíça

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