Recentemente, ouvi um dado curioso em uma palestra virtual de uma psicanalista. Ela comentou que os aplicativos de relacionamentos, antes procurados para satisfação dos desejos sem compromissos, estavam tendo um novo uso durante a pandemia. As pessoas estavam utilizando-os para conversas longas, a fim de buscar uma conexão mais profunda umas com as outras. E, de repente, uma ferramenta que aparentemente servia para distanciar mais as pessoas dos contatos reais foi ressignificada, porque o que buscamos de verdade, seja no virtual ou no real, é a conexão humana, o afeto.
Em momentos desafiadores como o que estamos vivendo, como você tem lidado com a demonstração dos seus sentimentos? Você se sente mais livre para dizer ou mais contido? Confesso que, por algum tempo, eu não queria tantas aproximações em relacionamentos, porque achava que isso era exercer minha liberdade, mas ao mesmo tempo, com essa atitude, acabava negando algo essencial da minha natureza humana, que é se reconhecer no outro. E como as relações humanas têm acontecido de forma virtual, eu tive mais coragem para dizer. Eu comecei a valorizar mais o que suprimia, como elogiar alguém quando foi gentil comigo, como dizer que não me senti confortável quando ouvi algo que me machucou. Eu fiquei mais corajosa porque percebi que o tempo é o agora e as minhas vergonhas sem justificativas eram na verdade minha resistência a ser vulnerável.
O que é, de fato, vulnerabilidade? Segundo a autora Brené Brown, no livro “A coragem de ser imperfeito”: “Vulnerabilidade não é algo bom nem mau: não é o que chamamos de emoção negativa e nem sempre é uma luz, uma experiência positiva. Ela é o centro de todas as emoções e sensações. Sentir é estar vulnerável. Acreditar que vulnerabilidade seja fraqueza é o mesmo que acreditar que qualquer sentimento seja fraqueza. Abrir mão de nossas emoções por medo de que o custo seja muito alto significa nos afastarmos da única coisa que dá sentido e significado à vida.” (p.27)
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Acredito que, nos momentos em que nos sentimos testados pelas circunstâncias, passamos a dar mais valor ao tempo justamente por percebermos que não temos controle do que pode acontecer e, portanto, o que cabe a nós é a entrega ao fluxo da vida e ser o que nascemos para ser, ou seja, humanos. E como humanos, a vulnerabilidade é o caminho para o acolhimento e para a ressignificação das nossas experiências e para a criação de novos afetos.