Ouvi uma história outro dia. Um cara pegou coronavírus e passou em isolamento. Ele não teve sintomas, mas descobriu que estava doente quando estava na praia (nesse surto coletivo que fez as pessoas acharem que a pandemia tinha acabado).
Ele precisaria voltar imediatamente para sua cidade natal e se isolar, certo? Pois é, mas ele gastou uma grana com acomodações, só faltavam dois dias, e “todo mundo que estava lá sabia dos riscos mesmo, né?”. Ele voltou no dia em que ia voltar, tudo normal. Isolou-se mais por causa da família mesmo e vida que segue.
Sei que a maioria está bradando um “ai, que absurdo, por isso este país não vai para frente”, mas eu tenho más notícias. Uma pessoa que eu atendo e mora em Portugal falou que os bares na calçada – uma marca registrada portuguesa – estavam absolutamente lotados no mesmo dia do começo da flexibilização por lá. No mesmo dia havia hordas de seres humanos respirando o mesmo ar contaminado e, talvez, só acreditando na própria sorte. Não é coisa de brasileiro. É coisa de ser humano.
A questão que quero levantar não é só a falta de empatia e descaso pelo próximo. Na realidade, o próximo fica bem longe da equação nesses momentos. A questão é falta de responsabilidade por si mesmo. Por que nós, seres humanos, simplesmente não nos responsabilizamos pelas nossas ações e atitudes? Por que é tão difícil entender que tudo o que fazemos, para nós ou para os outros, voltará de alguma maneira?
Psicologicamente o estresse é uma das coisas mais difíceis de lidar. Ser autorresponsável exige que entremos frequentemente em estresse. Por estresse vamos entender aquele momento em que estamos em perigo – de alguma maneira, mesmo não fisicamente – e precisamos tomar decisões. Se um chefe chega para você e te dá mais um relatório para se somar à pilha de oitocentos que já tem atrasado, seu corpo entra em estresse. Estresse é chato, dói o estômago e não gostamos dele.
A resposta é simples: somos um bando de mimados. Mimados porque fomos – ou não – mimados na infância. Mimados porque ganhamos um pônei ou porque queríamos um e não ganhamos daqueles papais malvados que o universo nos deu. Aí é fácil contar uma historinha de que não, não somos culpados. Não, não precisamos nos responsabilizar. Os outros sim, eles sabiam que poderiam se infectar estando na praia, eu não tenho nada a ver com isso.
Mimo é o mal da humanidade no momento. Pessoas que querem tudo de mão beijada e que acreditam na força do pensamento positivo e no Papai Noel. Pessoas que não querem fazer o que têm de fazer, mesmo que seja chato e doa, porque não. Eu não vim ao mundo para ser infeliz e fazer o que eu não quero. E assim, de não em não, não ganham nada.
Na hora da doença, continuam acreditando no pensamento mágico de: comigo não vai acontecer. Minha mãe sempre falou que eu não sou todo mundo, então eu não pego. A mesma mãe que ele não tem dó de ver chorar, caso ele morra de covid-19. A mesma mãe em que ele não pensa quando dirige bêbado, fuma como uma chaminé ou usa analgésicos como se fossem tic tacs. Isso não é para mim. Só o bem, as coisas boas, as fadas e os gnomos.
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