Você já se fez essa pergunta um dia? Se você sofre com irritabilidade, ansiedade, tem muitos pensamentos negativos, não consegue vislumbrar a felicidade em sua vida, se recorda com frequência de dificuldades de seu passado, passou por situações de abuso (físico e ou emocional), tem sonhos perturbadores recorrentes, pânico, fobias, sente há anos pela perda de uma pessoa querida e nunca se consultou com um psicólogo, a pergunta desse título pode ser pertinente para você!
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), nossa saúde foi inicialmente definida como um estado de completo bem-estar físico, mental e social; não consiste apenas na ausência de doença ou de enfermidade. Essa definição é de 1946 e veio se aperfeiçoando ao longo dos anos, a partir da observação de mudanças nas sociedades. Dessa forma, outras dimensões foram acrescentadas: envelhecimento, status social e educacional, renda, acesso a saneamento básico, segurança, rede de apoio familiar, fatores genéticos, comportamentos, padrões de consumo, atividade física etc.
Com a transformação do conceito de saúde ao longo dos anos, se faz necessário abandonarmos a concepção, ainda comum, de que ter saúde é não termos dores, fraturas de ossos, funcionamento normal das funções fisiológicas, ou seja, precisamos ampliar de forma a não priorizarmos uma única dimensão de saúde (física), mas sim seu aspecto global.
Sabemos o que é saúde física, mas isso se torna mais difícil quando tentamos definir o que é saúde mental e social. Podemos considerar saúde mental e social como um estado de bem-estar em que a pessoa esteja em plenas condições de pensar, utilizar sua criatividade, relacionar-se com o meio social, sentir-se bem em seu meio, trabalhar por seus objetivos, sonhar e lidar com as emoções do cotidiano.
Hoje nossa rotina é marcada por situações de estresse profissional, escassez de tempo, pressão por resultados, tensões, risco de sofrer violência, discriminação e exclusão social, entre outros fatores que são importantes para pensarmos em possíveis riscos para a saúde mental da população.
Segundo a OMS, até o ano de 2030 a depressão será a doença mais comum do mundo. Por causa de seus sintomas, muitos se tornariam incapazes de continuarem em suas atividades do cotidiano, inclusive suas formas mais graves elevariam ainda mais os índices de suicídio na população.
Pois bem, estamos em 2021 e, além das previsões citadas, temos o agravante da crise gerada pela Covid-19, que nos aproxima do cumprimento dessas previsões.
Se entendemos que a depressão é incapacitante e coloca a vida em risco, não podemos deixá-la de fora da nossa concepção de saúde, certo? Do mesmo modo, podemos então afirmar que não há saúde sem saúde mental. E é por esse motivo que todos os estados membros da OMS aprovaram em 2013 um plano de ações que visa a uma série de medidas de prevenção e melhoria das condições de saúde mental global.
Mas, mesmo diante de todas essas informações, por que muitos não procuram apoio profissional? Há problemas sociais. Infelizmente, muitos não conseguem acesso público ao diagnóstico e ao tratamento dos transtornos mentais, mas há também o problema da desinformação e do preconceito acerca dos temas ligados à saúde mental.
Excluindo os fatores sociais, destaco os principais que observo no dia a dia:
1- Psicoterapia custa caro:
É claro que custear um processo de psicoterapia não é possível para boa parte da população, não precisamos nos estender sobre isso, mas quanto será que você investiria em uma viagem? Quanto lhe custaria a parcela do financiamento do seu carro novo? Da nova casa? Quanto você investe em compras de objetos, roupas, que, no final das contas, acabou percebendo que não tinha real necessidade?
Não tenho o propósito de afirmar que essas coisas não são importantes, mas é notável registrar que sempre fazemos escolhas. Se investimos em bens materiais e não em nossa saúde mental, nesses casos, não é por carência de recursos financeiros, mas escolhas.
2 – Resistência:
Outro fator importante é a resistência a permitirmos o acesso ao nosso inconsciente por meio da psicoterapia. Sobre essas resistências, menciono a resistência da repressão. Freud considerou que, nesse processo inconsciente, há uma tentativa de nosso Ego em bloquear o acesso a conteúdos indesejados que foram guardados em nosso inconsciente, por gerarem sofrimento se estivessem acessíveis à consciência.
Essa resistência naturalmente aparece no processo analítico como tentativa de impedir que o analista possa acessar os desejos e conteúdos inconscientes do paciente, ou seja, é um processo que atrapalha a compreensão que levaria à raiz dos sintomas que resultam em sofrimento ao paciente e que, arduamente, terá que ser superada pela compreensão e habilidade do analista.
3- Negação:
Prima da resistência, a negação é expressa em falas do tipo: “Isso não é nada”, “É frescura”, “Não preciso de psicoterapia — isso é para loucos”. Essas falas geralmente são exteriorizadas por pessoas em sofrimento, mas que negam a profundidade da dor, sendo assim uma tentativa de lidar com o sofrimento ou tentar diminuí-lo.
4 – Temos certa atração por propostas mais rápidas ou milagrosas:
A tecnologia tem mudado a forma como interagimos com o mundo. Atualmente, somos capazes de reunirmos muitas informações em poucos cliques. Com o tratamento psicoterápico, não acontece da mesma forma, esse processo tem seu tempo, pois cada sujeito é único.
Importante salientar que, para tratar a complexidade desses quadros, são exigidos tempo e formação do profissional. Hoje muitas outras profissões tentam adentrar o campo da psicoterapia, portanto é importante compreender os riscos de colocar sua saúde emocional sob os cuidados de alguém que, sim, estudou, mas para fazer coisas diferentes.
Você pode receber uma proposta para curar sua ansiedade, depressão ou outras questões com métodos que se mostram inovadores, realizados em curto espaço de tempo, mas será que essa não seria a saída mais confortável que você encontrou para não entrar em contato com suas angústias e permanecer em uma superfície emocional?
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Esses são apenas alguns motivos que fazem com que as pessoas não tenham acesso ou não invistam em saúde emocional. Espero que esse texto apoie sua reflexão e seu desenvolvimento pessoal!
Um grande abraço,
William Sousa
Psicólogo clínico e hospitalar – CRP – 06/103810