Comportamento

Acordando no fundo da alma

Mulher branca usando máscara enquanto lê livro.
engin akyurt / Unsplash
Escrito por Nelson Niero

Então… Estava no Ciclo Básico da Unicamp. Sentado num banco lendo um jornal científico, uma entrevista com um cientista falando da pandemia e, de repente, só vi as perguntas do professor. E, em vez das suas subsequentes respostas, li os comentários do escritor Albert Camus sobre sua passagem pelo Brasil e mais todo o seu contexto filosófico, e depois trechos de sua obra “A Peste” – e até alguns pensamentos em voz alta. Foi assim:

Com tanto investimento, por que a ciência caminha a passos tão lentos?

Nos jornais americanos: “Uma arma mais terrível que a bomba atômica”. “A peste negra na Idade Média matou em certos lugares 60% da população. Não se sabe se os cientistas americanos encontraram um meio de espalhá-la, mas os japoneses não o conseguiram na China. Tinham semeado a peste negra no arroz.”

A PESTE: “O jornalista tinha assim se esgotado em visitas e formara uma ideia justa do que podia ser uma câmara ou uma prefeitura, de tanto esperar num banco estofado diante de grandes cartazes que o convidavam a subscrever obrigações do Tesouro, isentas de impostos, ou a alistar-se no exército colonial, de tanto entrar em repartições onde as fisionomias eram tão previsíveis quanto o arquivo e os fichários. A vantagem, como Rambert dizia a Rieux com uma ponta de amargura, era que tudo isso mascarava a verdadeira situação. Os progressos da peste escapavam-lhe praticamente, sem contar que os dias assim se passavam mais depressa e, na situação em que a cidade inteira se encontrava, podia-se dizer que cada dia que passava aproximava os homens, com a condição de que não morressem ao fim de suas provações. Rieux teve de reconhecer que esse ponto de vista era verdadeiro, mas que se tratava, em todo caso, de uma verdade demasiado genérica. Em dado momento, Rambert alimentou uma esperança. Tinha recebido da prefeitura um boletim de informações em branco que lhe pediam que preenchesse com exatidão. O boletim inquietava-se com sua identidade, a situação da família, seus recursos, antigos e atuais, e o que chamava de seu curriculum vitae. Teve a impressão de que se tratava de um inquérito destinado a recensear as pessoas suscetíveis de serem enviadas para a sua residência habitual. Algumas informações confusas colhidas numa repartição confirmaram essa suspeita. No entanto, depois de algumas diligências precisas, conseguiu descobrir o serviço que tinha enviado o boletim, e disseram-lhe então que essas informações tinham sido recolhidas ‘para o caso de virem a ser necessárias’.”

PENSAMENTOS ATEMPORAIS: “Estancamos diante do mal. E para mim é bem verdade que me sinto um pouco como esse Santo Agostinho que, antes da sua conversão ao Cristianismo, dizia: ‘Procurava donde vinha o mal e não saía nunca dele’. Mas é também verdade que eu sei, como outros, o que é preciso fazer, se não para diminuir o mal, pelo menos a forma de o não aumentar.”

Qual será a melhor forma de tratar a infecção por coronavírus?

Sim, parece-me que não posso falar de outra coisa senão o que vivi. E iria ainda mais longe: há pelo menos uma espécie de incapacidade que não expresso com satisfação, mas, em qualquer caso, incapacidade, para não falar de outra coisa senão o que experimentei por muito tempo; e muitas vezes me acontece, no meu trabalho como artista, poder dar forma a sentimentos ou ideias que, no fundo, venho experimentando há muito tempo sem ter ousado, até então, dar-lhes aquela exata forma de expressão.

A PESTE: “Rieux propôs-lhe caminharem até o dispensário do centro, pois tinha algumas ordens a dar. Desceram as ruelas do bairro negro. A noite se aproximava, mas a cidade, antes tão barulhenta a essa hora, parecia curiosamente solitária. Alguns toques de clarim no céu ainda dourado testemunhavam apenas que os militares se davam ares de cumprir o dever. Durante esse tempo, ao longo das ruas íngremes, entre os muros azuis, cor de ocre ou roxo das casas mouriscas, Rambert falava muito agitado. Deixara a mulher em Paris. Para dizer a verdade, não era sua mulher, mas era a mesma coisa. Telegrafara-lhe logo que a cidade foi fechada. Pensara primeiro, que se tratava de um acontecimento provisório e procurara apenas corresponder-se com ela. Os colegas de Oran tinham-lhe dito que nada podiam fazer, os correios tinham-no mandado voltar da porta, um secretário da prefeitura rira-se na sua cara. Depois de esperar duas horas numa fila, acabara fazendo com que aceitassem mandar um telegrama, onde tinham escrito: ‘Tudo vai bem. Até breve’.”

PENSAMENTOS ATEMPORAIS: “A obra de um homem não é senão esse longo caminho para encontrar, pelos desvios da arte, as duas ou três imagens simples e grandes sobre as quais o coração pela primeira vez se abriu.”

Mas o que fazer durante estes meses ou anos sem a vacina?

“A primeira coisa é não desesperar. Não prestemos ouvidos demasiadamente àqueles que gritam, anunciando o fim do mundo. As civilizações não morrem assim tão facilmente; e mesmo que o mundo estivesse a ponto de vir abaixo, isso só ocorreria depois de ruírem outros. É bem verdade que vivemos numa época trágica. Contudo, muita gente, confunde o trágico com o desespero. ‘O trágico’, dizia Lawrence, ‘deveria ser uma espécie de grande pontapé dado na infelicidade’. Eis um pensamento saudável e de aplicação imediata. Hoje em dia, há muitas coisas que merecem esse pontapé.”

Homem usando máscara.
Tai’s Captures / Unsplash

“É por demais evidente que o pensamento político se encontra cada vez mais ultrapassado pelos acontecimentos. […] Bem entendido, o espírito segue arrastado pelo mundo. A História corre, enquanto o espírito medita. Mas esse atraso inevitável aumenta hoje na proporção da aceleração histórica. O mundo mudou mais nos últimos cinquenta anos do que tinha mudado nos duzentos anteriores. E vemos hoje o mundo empenhado em regulamentar problemas de fronteiras, quando todos sabemos que as fronteiras são hoje abstratas.”

A PESTE: “Mas essa vertigem não se mantinha diante da razão. É verdade que a palavra ‘peste’ fora pronunciada, é verdade que, nesse mesmo instante, o flagelo abalava e derrubava uma ou duas vítimas. Mas, que diabo, aquilo podia parar. O necessário era reconhecer claramente o que devia ser reconhecido, expulsar enfim as sombras inúteis, tomar as providências adequadas. Em seguida, a peste pararia, porque ou não se podia imaginar a peste, ou então a imaginávamos de modo falso. Se ela parasse – o que era o mais provável –, tudo correria bem. Caso contrário, saber-se-ia o que ela era para, não havendo meio de se defender dela primeiro, vencê-la em seguida.”

PENSAMENTOS ATEMPORAIS: “Todas as gerações, sem dúvida, se julgam fadadas para refazer o mundo. A minha sabe, no entanto, que não poderá refazê-lo. A sua tarefa é talvez maior. Consiste em impedir que se desfaça, partindo unicamente das suas negações.”

Como reduzir a gravidade e mortalidade associadas a essa doença?

“O contraste mais impressionante é fornecido pela ostentação de luxo dos palácios e dos prédios modernos com as favelas, às vezes a cem metros do luxo espécies de bidonvilles agarrados ao flanco dos morros, sem água nem luz, onde vive uma população miserável, negra e branca. As mulheres vão buscar água no sopé dos morros, onde fazem fila, e trazem de volta sua provisão em latas de alumínio, que carregam na cabeça como as mulheres kabyles. Enquanto esperam, passam diante delas, numa fileira ininterrupta, os animais niquelados e silenciosos da indústria automobilística americana. Nunca o luxo e a miséria me pareceram tão insolentemente mesclados. É bem verdade que, segundo um dos meus companheiros, ‘pelo menos, eles se divertem muito’. Desgosto e cinismo – B., o único generoso. Vai levar-me às favelas, que conhece bem: ‘Fui repórter policial e comunista’, diz. ‘Duas boas condições para conhecer os bairros da miséria’.”

A PESTE: “A palavra ‘peste’ acabava de ser pronunciada pela primeira vez. Neste momento da narrativa, com Bernard Rieux atrás da janela, permitir-se-á ao narrador que justifique a incerteza e o espanto do médico, já que, com algumas variações, sua reação foi a da maior parte dos nossos concidadãos. Os flagelos, na verdade, são uma coisa comum, mas é difícil acreditar neles quando se abatem sobre nós. Houve no mundo tantas pestes quanto guerras. E, contudo, as pestes, como as guerras, encontram sempre as pessoas igualmente desprevenidas. Rieux estava desprevenido, assim como nossos concidadãos, é necessário compreender assim as duas hesitações. E por isso é preciso compreender, também, que ele estivesse dividido entre a inquietação e a confiança. Quando estoura uma guerra, as pessoas dizem: ‘Não vai durar muito, seria idiota’. E sem dúvida uma guerra é uma tolice, o que não a impede de durar. A tolice insiste sempre, e compreendê-la-íamos se não pensássemos sempre em nós. Nossos concidadãos, a esse respeito, eram como todo mundo: pensavam em si próprios. Em outras palavras, eram humanistas: não acreditavam nos flagelos. O flagelo não está à altura do homem; diz-se então que o flagelo é irreal, que é um sonho mau que vai passar. Mas nem sempre ele passa e, de sonho mau em sonho mau, são os homens que passam, e os humanistas em primeiro lugar, pois não tomaram suas precauções. Nossos concidadãos não eram mais culpados que os outros. Apenas se esqueciam de ser modestos e pensavam que tudo ainda era possível para eles, o que pressupunha que os flagelos eram impossíveis. Continuavam a fazer negócios, preparavam viagens e tinham opiniões. Como poderiam ter pensado na peste, que suprime o futuro, os deslocamentos e as discussões? Julgavam-se livres, e nunca alguém será livre enquanto houver flagelos.”

PENSAMENTOS ATEMPORAIS: “Lutamos por essa indelével nuance que distingue o sacrifício do misticismo, a energia da violência, a força da crueldade, por essa nuance ainda mais sutil que separa o falso do verdadeiro, e o homem em que nos esperamos tornar dos deuses cobardes com que vós sonhareis.”

Existem medicamentos que poderiam eliminar o vírus?

“Sabemos hoje que não há ilhas, e que são vãs as fronteiras. Sabemos que, num mundo em constante aceleração, quando o Atlântico se atravessa em menos de um dia ou Moscovo contacta com Washington em poucas horas, estamos obrigados à solidariedade ou à cumplicidade, segundo os casos. O pão fabricado na Europa vende-se em Buenos Aires, e as máquinas que trabalham na Sibéria foram fabricadas em Detroit. Hoje, a tragédia é coletiva. Sabemos, pois todos, sem sombra de dúvida, que a nova ordem que buscamos não pode ser somente nacional, ou sequer continental, e muito menos ocidental ou oriental. Ela só pode ser universal.”

Mãos com luvas fechadas em punho.
Branimir Balogović / Unsplash

A PESTE: “A imprensa, tão indiscreta no caso dos ratos, já não mencionava nada. É que os ratos morrem na rua e os homens, em casa. E os jornais só se ocupam da rua. Mas a prefeitura e a municipalidade começavam a se questionar. Enquanto cada médico não tinha tido conhecimento de mais de dois ou três casos, ninguém pensara em se mexer. Mas, em resumo, bastou que alguém pensasse em fazer a soma, e a soma era alarmante. Em apenas alguns dias, os casos mortais multiplicaram-se e tornou-se evidente, para aqueles que se preocupavam com a curiosa moléstia, que se tratava de uma verdadeira epidemia.”

PENSAMENTOS ATEMPORAIS: “Sim, são as faltas que originam os nossos piores sofrimentos. Mas que importa, na verdade, o que nos falta, quando o que possuímos se não esgotou ainda? Tantas coisas são suscetíveis de ser amadas que nenhum desfalecimento pode ser definitivo. Saber sofrer é saber amar. E quando tudo rui tudo recomeçar, com simplicidade, enriquecidos pela dor, quase felizes com a sensação da nossa infelicidade.”

Por que as pessoas mais idosas e aquelas com doenças crônicas, como diabetes e hipertensão, estão mais sujeitas a quadros graves de Covid-19?

“Fala-se agora muito de ordem. Porque a ordem é uma coisa boa que bem falta-nos fez. […] Evidentemente, a ordem de que se fala muito hoje é a ordem social. Mas a ordem social é somente a da tranquilidade nas ruas? Não é certo. […] Talvez ajude para saber o que é a ordem social a comparação com a conduta individual. Quando dizemos nós que um indivíduo pôs a sua vida em ordem? Quando ele vive de acordo com ela e conformou a sua conduta ao que julga verdadeiro. Um insurreto que, sob a desordem das paixões, morre por uma ideia que fez sua, é na verdade um homem de ordem, porque ordenou toda a sua conduta segundo um princípio que lhe parece evidente. Mas não podemos nunca dizer que tem a vida em ordem um privilegiado que fazem regularmente, durante toda a sua vida, três refeições por dia, e baseia a sua fortuna em valores seguros, mas que se fecha em casa quando ouve barulho na rua. Trata-se somente de um homem com medo e poupado. E se a ordem francesa fosse a da prudência e a da secura do coração, estaríamos tentados a ver nela a pior das desordens, já que, por indiferença, se passariam a permitir todas as injustiças. De tudo isto se concluiria que não há ordem sem equilíbrio e sem acordo. Não basta exigir ordem para bem governar, porque bem governar é a única forma de atingir uma ordem que faça sentido. Não é a ordem que dá força à justiça, mas a justiça que dá a certeza da ordem.”

“A miséria impediu-me de acreditar que tudo está bem sob a luz do sol da História; o sol ensinou-me que a História não é tudo.”

A PESTE: “Mas, nos dias que se seguiram, a situação agravou-se. O número de roedores apanhados ia crescendo, e a coleta era a cada manhã mais abundante. A partir do quarto dia, os ratos começaram a sair para morrer em grupos. Dos porões, das adegas, dos esgotos, subiam em longas filas titubeantes, para vir vacilar à luz, girar sobre si mesmos e morrer perto dos seres humanos. À noite, nos corredores ou nas ruelas, ouviam-se distintamente seus guinchos de agonia. De manhã, nos subúrbios, encontravam-se estendidos nas sarjetas com uma pequena flor de sangue nos focinhos pontiagudos; uns, inchados e pútridos; outros, rígidos e com os bigodes ainda eriçados. Na própria cidade, eram encontrados em pequenos montes nos patamares ou nos pátios. Vinham, também, morrer isoladamente nos vestíbulos das repartições, nos recreios das escolas, por vezes nos terraços dos cafés. Nossos concidadãos, estupefatos, encontravam-nos nos locais mais frequentados da cidade. A Place d’Armes, as avenidas, La Promenade de Front-de-Mer apareciam conspurcados. Limpa dos animais mortos ao amanhecer, a cidade voltava a encontrá-los pouco a pouco, cada vez mais numerosos durante o dia. Nas calçadas também, ocorria a mais de um noctívago sentir sob os pés a massa elástica de um cadáver ainda fresco, Dir-se-ia que a própria terra onde estavam plantadas nossas casas se purgava dos seus humores, pois deixava subir à superfície furúnculos que, até então, a minavam interiormente. Imaginem só o espanto da nossa pequena cidade, até então tão tranquila, transtornada em alguns dias, como um homem saudável cujo sangue espesso se pusesse de repente em revolução!”

PENSAMENTOS ATEMPORAIS: “O mundo deve hoje escolher entre o pensamento político anacrônico e o pensamento utópico. O pensamento anacrônico está em vias de nos matar. Por mais desconfiados que sejamos (e que eu seja), o espírito da realidade logo nos reconduz a esta utopia relativa. Quando essa utopia entrar na História, como sucedeu com muitas outras utopias do mesmo gênero, os homens lhe chamarão realidade. É assim que a História não é senão o esforço desesperado dos homens para dar forma aos seus sonhos mais clarividentes.”

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Muitas informações surgem na internet e nas redes sociais dizendo que determinados medicamentos ou procedimentos seriam úteis para combater a infecção por coronavírus. Como surgem essas informações? E como elas são testadas pelos cientistas?

“Não há vida sem diálogo. Mas o diálogo foi, hoje, na maior parte do mundo, substituído pela polêmica. O século XX é o século da polêmica e do insulto. Eles ocupam, entre as nações e os indivíduos, e mesmo ao nível das disciplinas outrora desinteressadas, o lugar que tradicionalmente cabia ao diálogo refletido. Dia e noite, milhares de vozes, empenhadas, cada uma por seu lado, num tumultuoso monólogo, lançam sobre os povos uma torrente de palavras mistificadoras, de ataques, de defesas, de exaltações. Mas qual é o mecanismo da polêmica? Consiste em considerar o adversário como inimigo, por conseguinte a simplificá-lo e a recusar vê-lo. Aquele que insulto, já não sei de que cor são os seus olhos, ou se acaso sorri, e como o faz. Tornados quase cegos por obra e graça da polêmica, já não vivemos entre os homens, mas num mundo de sombras.”

A PESTE: “Sem elevar a voz, Rieux disse que não sabia nada disso, mas que era a linguagem de um homem cansado do mundo em que vivia, mas que amava, contudo, seus semelhantes e estava decidido a recusar, de sua parte, a injustiça das concessões. […] Eram quatro horas da tarde. Sob um céu pesado, a cidade ardia lentamente. Todas as lojas tinham baixado os toldos. As ruas estavam desertas. Cottard e Rambert andavam por ruas com arcadas e caminhou longo tempo sem falar. Era uma das horas em que a peste se tornava invisível. Esse silêncio, essa morte das cores e dos movimentos podiam ser tanto os do verão quanto os do flagelo. Não se sabia se o ar estava carregado de ameaças ou de poeira e de ardor. Era preciso observar e refletir para chegar à peste, já que ela só se traía por sinais negativos. Cottard, que tinha afinidades com ela, fez notar a Rambert, por exemplo, a ausência de cães que, normalmente, deviam estar deitados de lado, à entrada dos corredores, de língua de fora à procura de um frescor impossível. Seguiram pelo Boulevard dês Palmiers, atravessaram a Place d’Armes e desceram para o Quartier de Ia Marine. À esquerda, um café pintado de verde abrigava-se sob um toldo oblíquo, de grossa lona amarela. Ao entrar, Cottard e Rambert enxugaram o suor da testa. Sentaram-se em cadeiras dobráveis de jardim diante de mesas de ferro verde. A sala estava absolutamente deserta. Moscas zumbiam no ar. Numa gaiola amarela pousada no balcão, um papagaio, de penas caídas, estava abatido no poleiro. Velhos quadros representando cenas militares pendiam das paredes, cobertos de sujeira e de teias de aranha em espessos filamentos. Em todas as mesas de ferro e diante do próprio Rambert, secavam excrementos de galinha, cuja origem ele não compreendia muito bem até que de um canto obscuro, depois de um certo rebuliço, saiu saltitando um galo magnífico.”

“O século XVII foi o século das Matemáticas, o XVIII das Ciências Físicas, o XIX da Biologia. O nosso século XX é o século do Medo. Dir-me-ão que o medo não é uma ciência. Mas também a Ciência aqui se encontra implicada, já que os últimos progressos teóricos a levaram a negar-se a si própria, e os avanços práticos hoje ameaçam destruir toda a terra. Além do mais, se o medo não pode considerar-se em si uma ciência, não há dúvida que ele é, apesar de tudo, uma técnica. O que mais nos impressiona hoje, com efeito, é que no mundo atual, em geral (e à exceção dos crentes de todas as espécies), a maior parte dos homens se encontra privada da noção de futuro. Ora não há vida vivida sem projeção no tempo, sem esperança de amadurecimento e progresso.” E o século XXI, pra que veio?

PENSAMENTOS ATEMPORAIS: “E assim nos tornamos profetas do absurdo! […] De que me servia depois afirmar que, na experiência que me interessava e sobre a qual aconteceu escrever, o absurdo não era senão um ponto de partida, ainda que a sua lembrança e emoção acompanhem os caminhos seguintes?”

Existem várias outras perguntas importantes às quais precisamos responder para que possamos obter avanços consistentes na prevenção e tratamento da Covid-19. A comunidade científica de todo o planeta respondeu de forma rápida e com muito empenho a esta crise. Com tantas pessoas pensando e trabalhando com um objetivo comum, é possível que, em breve, tenhamos boas notícias.

“Talvez não passe de um pouco de cobre e vidro o que eu tomo por ouro e diamantes.”

Faz de conta…

Que a imaginação não se transforme em delírio,

Que a ilusão não ultrapasse o limite do capricho,

Mulher branca segurando máscara azul.
Sylwia Bartyzel / Unsplash

Que o arrebatamento sobrenatural não beba na loucura da miragem desvairada da traíra – alucinando o desatino dos romances indissolúveis de ufania literata.

Que o apólogo alienante, vangloriaste da quimera-antártica repentina de birra, aprimorada da teimosia sem percepção de vivência, siga as borboletas e as bolhas de sabão no caminho do sonho, afortunadamente quero continuar a sonhar.

Reza a história de fora da Igreja que uma aparição de boniteza memória provocou um redemoinho de reflexões inconscientes valoradas pelo desígnio plano de vontade própria, sendo aquilo em que toco torna-se luz. Carvão aquilo que abandono. Sou certamente labareda!

A esperança é o sonho do homem acordado. Quantos dormem! E aqueles que aparentam dançar disfarçam a música impercebida.

O verdadeiro conhecimento vem de dentro. De dentro da TV? No meio das letras dos jornais? Ou nos olhos nus do Homem? É necessário ter o caos cá dentro para gerar uma estrela.

Uma pequena amostra, pois hoje meus textos estão em constante metamorfose…

Sobre o autor

Nelson Niero

Idealista, fui fazer Jornalismo para mudar o mundo... Acabei entrando na Filosofia para entender esse mundo e, no meio dos estudos, trabalhei em duas empresas que prestam serviços cuidando dos funcionários terceirizados, depois repórter esportivo com livro sobre o Corinthians e revista sobre o Santos, acompanhando a performance da Ponte Preta e do Guarani e uma revista de Agropecuária. Fui recenseador e depois tive caminhão com serviço de frete, então uma miniescavadeira para escavar a terra para formar futuras piscinas... Escavei tanto que fui parar na caverna de Platão, mas daí é outra historia.

Email: nnierofyz@gmail.com
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