É salutar sentir saudade? De todos os sentimentos que permeiam o coração humano, não há nenhum tão peculiar e particular quanto a saudade.
Longe do ideal, seria importante saber relatar se é bom ou ruim sentir saudade, porém, tentando refletir sobre a pergunta do subtítulo deste artigo, vejo-me no dever de dizer que essa é uma pergunta difícil de ser respondida, mas tentarei explicar o porquê.
Vejamos algo interessante:
A palavra saudade não existe em nenhuma outra língua, exceto na língua portuguesa, e sua definição é:
“A palavra saudade tem origem do latim solitas, que significa unidade; solidão; desamparo. No Dicionário Aurélio, a saudade é definida como: (substantivo feminino) sentimento melancólico devido ao afastamento de uma pessoa, uma coisa ou um lugar, ou à ausência de experiências prazerosas já vividas.”
Sob o meu ponto de vista, essa é uma definição quase perfeita!
É exatamente assim que nos sentimos quando estamos com saudade de algo ou de alguém; com um sentimento de melancolia e de desamparo, ficamos tristes e a solidão invade nosso viver.
De lembrança em lembrança, vamos tentando seguir e vivendo ora sorrindo, ora chorando, trazendo conosco o que já se foi, o que passou, o que ficou para trás.
E quando sentimos saudade, temos a oportunidade de reviver e de “preencher” aquele vazio gerado pela ausência de algo ou do outro com momentos de felicidade.
Seguir pelo caminho da dor e da tristeza pode gerar um processo químico também conhecido como depressão, isso com certeza não é salutar; mas analisar o outro lado, o momento de sentir aquele gostinho de estar novamente perto de alguém, mesmo que seja em pensamento, ou apenas lembrar de algo que o faça feliz pode gerar um outro processo químico chamado de felicidade.
Ao se permite sentir saudade, você está gerando a oportunidade de interagir consigo mesmo. E longe de tudo e todos você pode refletir que só sente isso porque viveu, porque esteve “lá”, desfrutou desse momento que o pertence e que nada nem ninguém podem tirar de você.
E não se sente saudade apenas de quem já partiu de um lugar para o outro ou de quem já se foi pela eternidade. Sentimos saudades do cheiro, do gosto, do sabor, da música, dos flashes rápidos e instantâneos que vêm e rapidamente se vão, da dança, da brincadeira, do estar junto, de olhar a fotografia, dos risos, das brigas bobas etc.
Tudo gira lá dentro como um redemoinho e nos transporta para outro lugar como mágica. É como se pudéssemos realmente voltar àquele instante e reviver novamente o que se passou.
Retomando, porém, a pergunta do subtítulo:
“— Sim, é salutar sentir saudade!” Ela é um sentimento bom, prazeroso, pois quando falamos de saudade, estamos falando de amor. Aquele amor que nos deixou marcas e lembranças que podem nem sempre ser boas, mas que nos fazem mergulhar no túnel do tempo passado ou presente, deixando-nos sentir vivos. O coração pulsa com força, num descompasso incontrolável quando sabemos que faltam instantes para o outro chegar e, num abraço, acabar com toda a agonia daquela espera. Falamos da realização e de como o outro é capaz de nos completar, pegando-nos nos braços e confortando o nosso coração.
O problema está quando não podemos fazer isso. Quando o tempo, a distância ou a morte não podem acalentar nosso coração, a saudade dói fundo, machuca a alma, faz sangrar o peito de tanta dor. Somos consumidos pelo desespero e, muitas vezes, não vemos mais sentido para seguir, mas se analisarmos isso como algo propulsor, o qual pode nos tirar do fundo do poço, a saudade passa a ser salutar.
Podem ser dias e noites e pode ser uma vida de espera, mas sabemos que um dia a saudade chega ao fim, nem que esse dia seja marcado com a nossa própria morte. A saudade acabará para nós, mas começará para outrem, que sentirá o que nós sentimos antes, isso é muito salutar, pois renova o ciclo da vida e faz girar o mundo para o lado horário, e não o contrário.
A saudade pode ser a personificação do fim, mas é também a representação do que se inicia e mantém tudo em seu devido lugar, como realmente deveria ser. Um lugar intocado, uma fotografia que eterniza um momento, um objeto que ninguém pode mexer, uma música que sempre será pedida e tocada e a espera de um abraço que nesta ou outra dimensão nos confortará.
É assim, caros leitores amigos, que eu vou me despedindo, já com saudade do meu próximo relato, de mais um escrito e da certeza que deixarei saudades quando me for, assim eu espero (risos)…
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Como deixou escrito Santo Agostinho… “A morte não é nada. Eu somente passei para o outro lado do caminho. Eu sou eu, vocês são vocês. O que eu era para vocês, eu continuarei sendo. Me deem o nome que vocês sempre me deram, falem comigo como vocês sempre fizeram. Vocês continuam vivendo no mundo das criaturas, eu estou vivendo no mundo do Criador. Não utilizem um tom solene ou triste, continuem a rir daquilo que nos fazia rir juntos. Rezem, sorriam, pensem em mim. Rezem por mim. Que meu nome seja pronunciado como sempre foi, sem ênfase de nenhum tipo. Sem nenhum traço de sombra ou tristeza. A vida significa tudo o que ela sempre significou. O fio não foi cortado. Porque eu estaria fora de seus pensamentos, agora que estou apenas fora de suas vistas? Eu não estou longe, apenas estou do outro lado do caminho… Você que aí ficou, siga em frente… A vida continua, linda e bela como sempre foi.”
É ou não é uma bela forma de transformar a morte em poema e o poema em saudade?!
Força sempre!
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