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Psicoterapia acaba com o casamento?

Casal em crise durante terapia familiar
KatarzynaBialasiewicz / Getty Images / Canva
Escrito por William Sousa

O casamento é uma das mais antigas instituições da sociedade que se mantêm até hoje.

Com o passar dos séculos, não pôde deixar de passar por transformações no que se refere aos motivadores para seu estabelecimento, às concepções culturais, às formas de escolha do parceiro, entre outros aspectos.

Na antiguidade, o matrimônio era defendido para que houvesse a procriação e a continuidade da espécie humana. O pai, desse modo, tinha a função de proteger e proporcionar alimento à prole, reduzindo as chances de mortalidade do recém-nascido. Com o passar do tempo, essa função foi sendo reduzida a partir da ascensão do controle e da influência do Estado sobre as famílias.

No cristianismo, o casamento passou a ser defendido por São Paulo como uma alternativa à fornicação, que era considerada um pecado ligado à luxúria por ser uma relação sexual entre pessoas que não estavam inseridas no matrimônio – portanto, sem que houvesse a intenção de procriar.

Em épocas em que a mulher vivia completamente sob o domínio físico e emocional masculino, casar-se era o caminho imposto pelo pai, que escolhia o noivo segundo suas crenças, seus valores e seus interesses sociais. É sabido que é recente o direito adquirido pelas mulheres de escolher o parceiro para estabelecer o matrimônio ou a liberdade de poder não o constituir. Do mesmo modo, outras conquistas aconteceram, como o direito ao voto.

É fato que os casamentos têm durado cada vez menos no Ocidente e, diante dessa conjuntura, muitos indagam: por que os casais da antiguidade permaneciam mais tempo em comunhão? As respostas e possibilidades são muitas, mas acredito que uma das principais esteja relacionada ao declínio da dominação da mulher e ao fortalecimento das concepções feministas, fundamentais para o movimento constante de libertação.

Casal sentado em sofá, se olhando, durante terapia de casal. A terapeuta está na frente, observando.
Anthony Shkraba / Pexels / Canva

Até o século passado, ocorria que a maioria das mulheres eram colocadas em posição de subserviência e total dependência econômica do homem. Com a emancipação das mulheres, que passaram a participar dos círculos do trabalho e política, muitas passaram a não depender economicamente de um casamento que não lhes satisfazia emocionalmente.

Hoje, mesmo com toda a emancipação das mulheres, não é raro encontrar resistências e inseguranças, não só das mulheres, para terminar uma relação conjugal.

A pergunta que me fez escrever este texto foi feita por uma nova cliente, que me procurou para entender com funcionava a psicoterapia. Dizia ela que gostaria de falar sobre os problemas que sempre enfrentou em seu casamento, mas tinha medo de tocar nesse assunto. Por um instante, ocorreu-me que a cliente ansiava por garantias em minha fala de que a psicoterapia não fosse responsável pelo término de seu casamento.

A verdade é que a psicoterapia, ainda mais dentro da orientação psicanalítica, sustenta o desejo do sujeito, portanto não deveria se colocar no lugar de transpor a decisão privada. Dessa forma, romper os laços do matrimônio é ato daquele que decide, e é a autonomia da escolha, seja ela qual for, que se pretende viabilizar por meio da psicoterapia.

O que a psicoterapia rompe, se for do desejo do paciente, são as repetições de comportamento fundamentadas em situações traumáticas, medos inconscientes e inseguranças. Outra contribuição importante da psicoterapia diz respeito à possibilidade de compreender o que motivou a união do casal, e esses motivos podem ser muito variados: busca por segurança econômica, segurança emocional e status social; atração sexual; baixa autoestima; medo da solidão; desejo de constituir uma família; fuga da casa dos pais; liberdade sexual; busca de uma figura materna (ou paterna); e até mesmo amor.

A partir dessa compreensão adquirida no processo analítico, muito se pode alterar nas percepções acerca desse consórcio. São essas informações que viabilizam a escolha de manter, ou não, uma relação.

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Não poderia me esquecer de mencionar que é possível também compreender qual é a posição que o analisando ocupa nesse casamento e qual é a posição subjetiva que ele atribui ao parceiro ou à parceira. Dessa forma, a pergunta que resta ao analisando é: o que sustenta a sua relação hoje?

O casamento pode, sim, sobreviver a esse questionamento, uma vez que o sujeito poderá afirmar a si mesmo, conscientemente: “Apesar do que agora sei, é possível, e eu desejo, manter essa união”.

Sobre o autor

William Sousa

Minha história com a psicologia começou quando tinha apenas 13 anos. Foi quando descobri o prazer de ouvir. Segui o ensino médio e prestei o vestibular sem dúvidas de qual curso faria. Formei-me em psicologia há mais de dez anos. Conclui minha licenciatura em 2008. No ano de 2009, conquistei o título de bacharel.

Conclui um MBA em gestão empresarial no ano de 2011 e minha pós-graduação em psicologia hospitalar pelo Hospital Israelita Albert Einstein, de São Paulo, no ano de 2016.

Nesses anos, trabalhei nas áreas clínica, hospitalar, jurídica e de recursos humanos.

Trabalhei no Hospital Geral de Itapecerica da Serra atendendo vítimas de abuso e violência sexual, além de pacientes de UTI adultos, clínica cirúrgica e clínica médica.

No Hospital Sepaco (São Paulo), fui responsável pelo atendimento dos pacientes adultos de UTI.

Nesses 11 anos de atuação também trabalhei em consultórios particulares de psicologia, com pacientes adultos e em avaliação pré-cirúrgica.

Atualmente atendo pessoas do Brasil e do exterior por telemedicina pela abordagem psicanalítica.

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