A traição sempre foi considerada um tabu em nossa sociedade. Desde cedo, ela é vista como um ato condenável e que mancha a reputação de uma pessoa para o resto de sua vida. Para muitos, traição é falta de caráter, pois, segundo essa concepção, sempre é possível jogar limpo antes de partir para a concretização da infidelidade.
Ainda que vista como algo hediondo e altamente reprovável, a traição é algo bastante comum e corriqueiro na sociedade – muito embora a maioria das pessoas opte por não reconhecer que já cometeram ou se cometeriam tal ato. Segundo a pesquisa Mosaico 2.0, realizada em 2017 pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP e parte do ProSex (Projeto Sexualidade), 40,5% da população admite ter traído seu parceiro; dentre essas pessoas, 50,5% eram homens, e 30,2% eram mulheres.
A traição, para a Psicologia, é muito mais complexa do que uma mera falha de caráter. É por essa razão que trazemos este artigo, para que você possa compreender esse ato para além do senso comum.
Entenda a traição
Por que a traição acontece?
Não há uma resposta satisfatória a essa pergunta, já que as pessoas e seus relacionamentos amorosos são muito individuais e têm suas próprias características. Mas, para te ajudar a entender melhor, fizemos uma lista com quatro principais razões que levam à traição, segundo uma pesquisa conduzida pela doutora em Psicologia Patrícia Scheeren, de Porto Alegre (RS), em 2016.
Insatisfação com a relação
Esse é o principal motivo disparado para uma traição. E essa insatisfação pode ter várias razões – falta amor, carinho ou afeto; o sexo esfriou; a atração diminuiu; o casal tem passado por problemas financeiros, brigas ou discussões, rotina e preocupações… coisas que podem afastar um do outro. Há uma infinidade de causas, pois cada relacionamento é único.
Por mais que a insatisfação seja um sentimento relevante, porém, trair não vai resolver o problema. Pelo contrário, pode até mesmo criar novos conflitos na relação, com consequências que podem ser graves. Uma solução para esse caso é sempre o diálogo, em que ambas as partes devem estar dispostas a expressar os sentimentos e ouvir a outra. Se ainda houver amor, ainda há esperança de tudo se acertar.
Agora, se há a certeza de que não há mais sentimento, existe uma segunda solução: terminar a relação. Pode até soar radical e doloroso, mas é um caminho mais honesto e maduro frente à traição. Pense no contrário: você gostaria de ser traído? Além do mais, é bem melhor liberarmos o outro para ser feliz, em vez de segurar uma relação que não existe mais.
Insatisfação pessoal
Essa é a segunda causa mais comum para a traição e pode se originar de várias formas: decepções na vida profissional e pessoal, falta de objetivos e motivação na vida, problemas financeiros, estresse, baixa autoestima. Problemas que não estão necessariamente ligados com o relacionamento, mas que podem levar alguém a ser infiel.
Aqui, o diálogo também é a chave para a solução do problema. Relacionamentos envolvem companheirismo e parceria, são dias pessoas dividindo a vida. Então conversar sobre o que te aflige pessoal e profissionalmente pode ser um alívio e uma forma de os dois superarem tudo juntos.
Agora, se você preferir não expor suas dificuldades para seu parceiro, tenha a maturidade de não deixar que elas interfiram na vida dele. Lembre-se de que ele não merece “pagar” pelas frustrações com as quais você não soube lidar.
Busca por uma aventura
Essa é a terceira causa mais apontada pelos homens como motivador de uma traição, segundo a pesquisa. Se você busca uma aventura extraconjugal, então precisa refletir se quer mesmo estar em um relacionamento, dividindo sua vida com outra pessoa, gerando expectativas e envolvendo-a no seu projeto de vida. Questione-se também se seu parceiro merece (ou deseja) ter essa experiência.
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Se você tem uma pessoa que não curte essas aventuras sexuais, o melhor é terminar a relação e se manter solteiro para desfrutar essa liberdade ou então procure alguém que esteja na mesma vibe que você. Se a sua intenção é ter um relacionamento aberto – o que é muito válido, desde que faça ambas as partes felizes – procure alguém que também tenha essa mesma visão. Relacionamentos não monogâmicos também existem, não é nenhum problema, desde que ambas as partes tenham tudo muito claro.
Interesse/atração por outra pessoa
Entre as mulheres, essa é a terceira causa mais comum para traições. Mesmo estando apaixonadas e felizes em seu relacionamento, elas podem encontrar alguém atraente no trabalho, na faculdade ou em outro lugar. O interesse pode nascer, o que pode levar à concretização de algo fora do relacionamento.
Mas aí cabe a pergunta: será que você está mesmo feliz no seu relacionamento atual? Vale, como sempre, o diálogo e a consciência sobre expressar os sentimentos e jogar limpo com o parceiro. Reflita. Vale analisar o que te fez se interessar por essa outra pessoa, o que ela tem que seu parceiro não tem. As questões são muito particulares, mas é hora de rever se você está com o parceiro certo e repensar o relacionamento.
Se você ainda gosta dele e acha que a relação merece uma segunda chance, lute por ela. Se necessário (e possível), busque se afastar dessa outra pessoa que mexe com você. Vale mesmo a pena deixar alguma esperança pra ela também? Lembre-se de que você estará lidando com dois sentimentos, além do seu.
Como evitar as consequências psicológicas da traição?
Que a traição machuca, isso é um fato. Quando descobrimos que temos um parceiro infiel, uma avalanche de emoções toma conta de nós – desde raiva, por termos sido enganados (já que a traição é uma quebra de confiança), até culpa, tristeza, falta de crença nas pessoas e em novos relacionamentos, e até em nós mesmos.
Mas não pense que a traição só machuca a parte traída. A pessoa que foi infiel também sente o impacto de suas ações, mesmo que seja um ato recorrente. Então, há que se buscar um caminho para tentar evitar os efeitos desse ato.
Em primeiro lugar, como já salientamos – e não custa reforçar –, o diálogo é o melhor caminho. Conversar com o parceiro, falar sobre seus sentimentos e estar aberto a ouvir a outra parte, que também tem suas necessidades na relação.
Uma outra questão relevante é o autoconhecimento: quando você consegue identificar seus sentimentos, fica mais fácil tomar decisões mais maduras e dentro da sua realidade. Se for preciso, busque ajuda psicológica nessa questão, como a terapia, pois ela ajuda a encontrarmos o caminho para nos conhecermos melhor.
Mas, acima de tudo, é preciso ter responsabilidade afetiva, em vez de pensar e agir de forma egoísta, já que você estará lidando com o sentimento de alguém. Pense nas suas ações e nas consequências delas, tanto para você quanto para seu parceiro. Reflita: você gostaria de que ele fizesse o mesmo com você? Como você se sentiria se estivesse do outro lado da situação?
Dessa forma, pensar duas vezes, conhecer seus sentimentos e seus limites, jogar limpo com as pessoas – nem que para isso você abra mão do relacionamento – é o melhor caminho para evitar as consequências de uma traição, uma vez que ela não vai acontecer. Pense nisso!