Vejam o conceito de inteligência segundo o relatório Intelligence: Knowns and Unknowns produzido pela Associação Americana de Psicologia, em 1995:
Os indivíduos diferem na habilidade de entender ideias complexas, de se adaptarem com eficácia ao ambiente, de aprenderem com a experiência, de se engajarem nas várias formas de raciocínio, de superarem obstáculos mediante o pensamento.
Embora tais diferenças individuais possam ser substanciais, nunca são completamente consistentes: o desempenho intelectual de uma dada pessoa vai variar em ocasiões distintas, em domínios distintos, a se julgar por critérios distintos. Os conceitos de ‘inteligência’ são tentativas de aclarar e organizar esse conjunto complexo de fenômenos.
Direto ao ponto
O assunto é alvo de discussões. Vários pesquisadores tentam desvendar os mistérios que rondam o assunto. Uns defendem a existência de uma inteligência geral. Outros acreditam que existem diversas formas de inteligência. A ideia de medir a inteligência surgiu há mais de 100 anos. O quociente de inteligência (QI), o mais conhecido teste foi um dos primeiros mecanismos de teste.
O pedagogo e psicólogo francês Alfred Binet foi recrutado pelo ministro da educação francês, a fim de antecipar as crianças que teriam êxito na vida escolar. Binet, em conjunto com o psicólogo Théodore Simon, desenvolveu em 1905 a escala Binet-Simon, primeiro teste para medir a inteligência. O método foi aperfeiçoado em 1916, pelo psicólogo Lewis Terman, da Universidade de Stanford. Ele passou a ser conhecido como Stanford-Binet.
Como é calculado o QI?
O QI determina a idade mental do indivíduo. O cálculo é feito pela divisão da idade mental pela idade cronológica. Este resultado deve ser multiplicado por 100. Embora existam muitos testes na internet, a psicóloga Denise de Souza Fleith explica que não há teste de QI universal. Ele é adaptado para cada idade. A cultura local ou nacional também está inserida no contexto. Denise relata que os testes na internet são mero entretenimento.
O valor médio é 100. Desse é estipulado um desvio de 15. A inteligência média representa os valores ente 85 e 115. José Aparecido da Silva, autor do livro Inteligência Humana: Abordagens Biológicas e Cognitivas conta que os brasileiros possuem QI 87. Abaixo disso é sinal de atraso intelectual. Resultado maior que 130 indica que a pessoa é superdotada. Apenas 2% da população mundial estão dentro dessa faixa.
Howard Gardner
O psicólogo cognitivo americano Howard Gardner revolucionou os estudos educacionais. O profissional formado em Harvard não concordava com a visão unilateral da inteligência. O quociente de inteligência focava apenas nos predicados importantes para o êxito escolar. Sua experiência pessoal contribuiu para este questionamento. Exímio pianista, Gardner entendeu que existem várias formas de inteligência, cada uma voltada para áreas específicas. Influenciado pelo psicólogo e biólogo suíço Jean Piaget, Gardner estudou o desenvolvimento de crianças de inteligência dentro da média e super dotadas, como os adultos com lesões cerebrais continuam com atividade intelectual, como os autistas, mesmo com comprometimento intelectual conseguem desenvolver outras habilidades e a história do desenvolvimento cognitivo.
Em 1983, Howard Gardner consolida sua teoria. Ele apresentou ao mundo a Teoria das inteligências múltiplas no livro Frames of Mind. O psicólogo não contesta que a inteligência seja a “capacidade de entender ideias complexas e resolver problemas”, mas, explica que existem várias formas de fazê-lo. Na obra, Gardner afirma que todos nascem com o básico de cada inteligência e que a cultura é sua base. De acordo com sua percepção, cada ambiente valoriza determinada habilidade.
O desenvolvimento das habilidades acontece por estágios. O padrão cru é o primeiro deles é a capacidade dos bebês em processarem os primeiros estímulos. O segundo estágio ocorre aos cinco anos. A criança passa a codificar os símbolos, como a escrita, música, conversas e desenhos, por exemplo. Dos cinco anos até a adolescência ocorre o aprimoramento dessas capacidades relatadas. Na adolescência e na fase adulta, algumas inteligências se sobressaem e o indivíduo começa a trabalhar as habilidades valorizadas pelo seu habitat.
As inteligências múltiplas de Gardner
Gardner contextualizou oito tipos de inteligência. Algumas se apresentam mais intensamente, porém, todas são importantes, tanto que se entrelaçam dependendo da atividade. Vamos conhecer cada uma delas e entender suas aplicações:
→ Inteligência linguística
A inteligência linguística não está restrita a oralidade. A comunicação escrita e a gestual estão integradas a esta inteligência. Os escritores, poetas, jornalistas e políticos são exemplos onde a inteligência linguística é mais latente.
→ Inteligência lógico-matemática
Por muito tempo, a capacidade lógico-matemática foi considerada fundamental para determinar o nível de inteligência. Quanto mais rapidamente a pessoa resolve problemas matemáticos, mais intensa é essa inteligência. O teste do quociente de inteligência (QI) é baseado na inteligência lógico-matemática. A inteligência linguística também é utilizada, mas, em menor escala. A inteligência lógico-matemática é fortemente encontrada nos cientistas, economistas, acadêmicos, engenheiros e matemáticos.
→ Inteligência Espacial
Observar o mundo e os objetos sob outra perspectiva é a característica da inteligência espacial. Quem possui esta habilidade desenvolvem imagens mentais, desenham e identificam detalhes que outras pessoas não conseguem. Pintores, designers, fotógrafos, publicitários, arquitetos e todos profissionais que têm a criatividade como ferramenta de trabalho apresentam fortes traços de inteligência espacial.
→ Inteligência Musical
O estudo de Gardner aponta que todos possuem inteligência musical. Entretanto, em alguns ela se mostra mais latente. Nessas pessoas, as áreas relacionadas à música trabalham mais intensamente. A inteligência musical se demonstra através do domínio de instrumentos musicais e da execução de peças musicais.
→ Inteligência corporal e sinestésica
A capacidade motora é essencial para operar ferramentas e expressar emoções. A capacidade intuitiva está ligada a esta inteligência. Vemos a inteligência corporal e sinestésica em dançarinos, atores, atletas e até mesmo cirurgiões e artistas plásticos
→ Inteligência intrapessoal
A inteligência intrapessoal é a capacidade de entender e controlar os sentimentos. Quem possui esta habilidade consegue analisar a forma de pensar das outras pessoas.
→ Inteligência Interpessoal
Professores, educadores, psicólogos, terapeutas e advogados possuem inteligência interpessoal. Eles têm a habilidade de interpretar palavras, gestos e objetivos que muitas vezes estão nas entrelinhas. Esses profissionais entendem que abruptas mudanças de comportamento sinalizam problemas. A inteligência interpessoal pode ser resumida como empatia em grau elevado.
→ Inteligência naturalista
A inteligência naturalista foi integrada a obra original em 1995. Detectar, diferenciar e categorizar assuntos pertinentes aos animais, vegetais, fenômenos climáticos e naturais garante a sobrevivência humana e de outras espécies.
Para cada pessoa um tipo de educação
Para Howard Gardner a escola deve modelar papeis e repassar valores. Entretanto, a missão não para por aí. A escola precisa estimular o debate de ideias e respeitar as diferenças de personalidade. A Teoria das Inteligências Múltiplas refletem a singularidade. Gardner tirou a venda e os rótulos que os educadores tradicionais colocaram nos alunos. A teoria provocou nos educadores a necessidade em “pensar fora da caixa” e enxergarem as pessoas não como meros alunos que precisam decorar datas e fórmulas, mas, sim como pessoas que possuem necessidades e habilidades especiais.
Gardner já declarou que as escolas continuam a preparar os alunos para os séculos 19 e 20. Em entrevista concedida para o site Revista Escola em 2009, Gardner afirmou que o Brasil precisa encontrar uma maneira de educar compatível com sua cultura e não apenas imitar o que é feito na Europa e nos Estados Unidos.
Cada indivíduo é um universo a parte
Howard Gardner causou furor com a sua descoberta. Entretanto, é difícil crer que acreditassem em um único tipo de inteligência. Todos nós possuímos várias habilidades. Algumas se sobressaem e indicam qual profissão seguiremos. Uma criança com talentos para a linguagem e têm talento para tocar instrumentos poderão ser ótimos compositores.
O ensino é o maior bem que transmitimos. Educadores que enxergam seus alunos individualmente fazem um bem ainda maior. Alunos que têm suas particularidades respeitadas conseguem expressar seus talentos com mais segurança. A chance de se tornarem pessoas e profissionais mais realizados é grande.
Modesto, Gardner diz que suas descobertas não causaram forte impacto. Ele não fica incomodado por não existirem escolas que ofereçam cursos sobre sua teoria. Para ele, o mais importante é saber que as pessoas conhecem suas ideias e procuram colocá-las em prática.
Good Work
Gardner atua no projeto Good Work, cujo objetivo é formar trabalhadores com habilidades técnicas, mas, sobretudo, disciplinados, engajados e éticos. Condicionar as atitudes pela moral e a responsabilidade é o maior desafio da atualidade. Para Gardner, o bom cidadão pergunta o que é bom para o seu país.
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Howard Gardner fez o que todos nós devemos fazer. Não se conformou com as velhas ideias. Primeiro buscou respostas em suas experiências pessoais. Depois partiu para a investigação em quem é referência no assunto. Suas descobertas refletem um óbvio que ninguém sequer foi capaz de imaginar. Tão interessante quanto a Teoria das Inteligências Múltiplas é a capacidade de Gardner não se colocar em um pedestal e seguir com seu trabalho.