Despertei-me hoje com um barulho estridente de serra elétrica. Em seguida, pude ouvir o estrondo do tombo do tronco de uma árvore ao chão. Quando foi que perdemos a compaixão pelos seres da natureza, impondo nossas vontades e ganâncias?
Na verdade, eu já sei a resposta para essa pergunta. Há muito que o homem não se compadece de seus semelhantes, animais e vegetais. No Dia da Natureza, 4 de outubro, temos o que comemorar? Nossas florestas devastadas por queimadas, frutos do superaquecimento do Planeta, ou para virarem pasto ao gado consumido desenfreadamente; sim, a soja, já quase praga, não para consumo humano, que é ínfimo, quando comparada à que origina a ração das pobres vacas, até exportadas vivas, dilaceradas, que poderiam viver até 22 anos e, em meses, já têm a vida ceifada para virar bife; nossas espécies da fauna desaparecendo, como o lindo e imponente rinoceronte-branco, já não tão poderoso frente à maldade humana. Precisamos de consciência, leis e políticas públicas para preservação. Punição dos culpados.
O índice de radiação solar cresceu avidamente, assim como a temperatura da Terra, em um grau por ano, aproximadamente. A quantidade de gases do efeito estufa que assolam a atmosfera é tamanha, porque os países que mais poluem não se comprometem em diminuir, de forma considerável, suas emissões – os Estados Unidos da América e a China são alguns deles, para dar nome aos bois. E, por falar em bois, novamente, ser ambientalista de carteirinha, mas consumidor de carne e derivados é tão contraditório quanto não utilizar canudos de plástico (o que é, sim, uma prática louvável), mas consumir peixes desenfreadamente, peixes inclusive contaminados com mercúrio e outros metais pesados.
O desmatamento na Amazônia cresceu 51% nos últimos onze meses, disse estudo do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia. A devastação do bioma no período é a maior dos últimos dez anos, aponta o Imazon. Mais da metade do desmatamento está concentrada no Pará e na Amazônia, mas ele, o desmatamento em si, seja na floresta Amazônica, seja em outras matas, ocorre em todos os locais do globo. Terras indígenas exterminadas, animais morrendo, por caça ou por incêndios, extrações de madeira e de minérios indevidas e indiscriminadas. Tão rico é nosso país e nosso planeta, mas não aprendemos a preservar nossos recursos naturais. Enquanto o ser humano moderno se preocupa em comprar carros caros, apartamentos de luxo, com práticas não renováveis de energia, consumindo água descomedidamente, seus irmãos animais padecem e perecem – em aquários, zoológicos, rodeios, vaquejadas, touradas, tráfico da vida silvestre, comercialização de vidas (quando bem se podem adotar e esterilizar animais já existentes, para conter a superpopulação abandonada)… Entristece escrever tudo isso. Entristece e dá desesperança.
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Mas retorno à pergunta inicial: no Dia da Natureza, 4 de outubro, temos o que comemorar? Nossa ganância e impiedade não são comemoráveis, mas a Natureza sim. Esta precisa ser diariamente referenciada e louvada. Pensar na Natureza, na vegetação, nos animais, nos fungos e nos minerais, nos mares, rios e matas, nas montanhas e morros, em todas as obras criadas e que estão no Universo é necessário e essencial. Em outro texto, disse que, possivelmente, não sejamos fundamentais à manutenção da vida, mas todas essas outras criações, é lógico que são. O planeta viveria bem, sem nós, homens, mas, sem a Natureza, jamais existiríamos. Contemplar, preservar e respeitar são palavras-chave para a vida em harmonia, não fugindo do clichê inevitável.