Costumamos falar que a morte é um acontecimento inconsolável. Quando alguém próximo de nós falece, a dor que sentimos é sem igual, e há muitas pessoas que apenas superam a passagem de um ente querido depois de muitos anos de tratamento terapêutico ou psiquiátrico. Para algumas culturas específicas, porém, a morte pode ser motivo de grande celebração. Estranhou? Entenda!
Se você já assistiu ao filme “Viva – a Vida é uma Festa”, então já sabe pelo menos um pouco a respeito do Día de Los Muertos, tradicional do México. A animação conta a história do jovem Miguel, que embarca na Terra dos Mortos para ir atrás de um falecido músico que admira muito, e sua jornada por coloridas caveiras e ambientes alegres, repletos de música e de dança, ilustram bem esse acontecimento da mexicana.
Direto ao ponto
O que é o Dia dos Mortos?
O Día de Los Muertos (Dia dos Mortos) é uma celebração de origem indígena, cultuada até os dias de hoje na América Central e que tem mais força no México. Apesar de a data ser comemorada em todo o país, ela é mais tradicional em Aguascalientes, Cidade do México, Morelos, Oaxaca e Quintana Roo, que são distritos mexicanos.
No dia 2 de novembro, data que conhecemos por ser o Dia de Finados, tem-se, para os povos que herdam e mantêm acesa essa cultura, que as almas mortas são autorizadas a visitar os parentes vivos. Por isso, nesse dia, as famílias mexicanas vão aos cemitérios encontrar os túmulos dos entes queridos para preparar os altares deles com alimentos, velas, flores e outros enfeites, a atraí-los e recebê-los com todo o amor e alto-astral possíveis.
A data é tão importante que, em 2003, o Dia dos Mortos foi declarado Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura).
Como acontece o Dia dos Mortos?
A celebração do Dia dos Mortos é, na verdade, um grande evento, que pode durar até 7 dias. A festa costuma começar por volta do dia 26 de outubro e se estende até o dia 3 de novembro, logo após o Dia de Finados, o que faz com que o período coincida com outras datas tradicionais católicas, como o Dia de Todos os Santos e o Dia dos Fiéis Defuntos. E, apesar de as festividades se intensificarem nessa época do ano, é importante ressaltar que, na verdade, essa relação do povo mexicano com a morte é constante e se dá com esse entusiasmo e calor por todo o calendário.
Origem e significados do Dia dos Mortos
No período anterior à colonização espanhola, praticava-se, nos territórios indígenas da América Central, a conservação de crânios como forma de prêmios, que eram exibidos em cultos para celebrar o renascimento e a morte. O uso da caveira como símbolo sagrado foi, então, incorporado à cultura mexicana, por essa influência antepassada dos maias, incas e astecas. Até os dias de hoje, os crânios de falecidos são mantidos com respeito e zelo pelos povos que cultuam o Dia dos Mortos.
Para a maioria de nós, que temos a morte como algo pesado e ruim, gatilho para dores emocionais e sofrimentos, causa estranhamento a ideia de se celebrar o falecimento de alguém. Mas devemos expandir a consciência para entender que esse costume festivo do Día de Los Muertos vem dos povos nativo-americanos que traziam a concepção de que a morte é, na verdade, parte do ciclo da vida; e que deve ser respeitada, não temida. Há registros históricos e arqueológicos de que, há pelo menos 3 mil anos, essas civilizações já celebravam a passagem para o mundo espiritual de forma inusitada aos olhos estrangeiros.
Por isso, para essas culturas, quando alguém querido morre, deve-se propagar alegria e entusiasmo, abrindo bons caminhos com enfeites e fartura, para que essa pessoa realize uma boa passagem e seja feliz em outro plano vital, apartado do nosso.
Um outro ponto muito importante da tradição do Dia dos Mortos é manter sempre boas lembranças do ente falecido. Como se pode ver na animação “Viva – a Vida é uma Festa”, os parentes esquecidos ou abandonados pela família simplesmente desaparecem da Terra dos Mortos. A lição que podemos tirar, então, tanto do filme quanto dessa festa no geral, é que a real importância e a própria vitalidade de uma pessoa se dão no coração e na mente daqueles que a guardam viva na memória.
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Por mais dolorido que seja ter que lidar com a partida de um ser vivente, que compartilhou momentos e histórias diversas conosco, é importante que tentemos enfrentar essa passagem com perspectivas mais positivas. Não existe cura para a saudade de alguém que se foi; mas, com a lembrança acesa e o carinho sempre em cultivo, consolaremos melhor as nossas almas quanto a essas faltas.