Autoconhecimento

Será que você consegue perdoar?

Silhueta de pessoa com correntes quebradas nos pulsos.
manopphimsit / 123rf
Escrito por William Sousa

É muito comum, no dia a dia do consultório, ouvir meus pacientes falando sobre histórias diversas de traição: entre casais, amigos, no trabalho e no seio familiar.

Chama atenção a escuta sobre as tentativas de perdoar quem cometeu a falta, porém, após o perdão, o assunto quase sempre retorna de alguma outra forma no presente, seja por respostas inflamadas por parte da pessoa que se sentiu prejudicada ou por comportamentos dirigidos a outras pessoas que nada têm a ver com o fato ocorrido.

O direcionamento desses comportamentos a pessoas que nada tiveram de participação no evento traumático ocorre por causa de um fenômeno conhecido como projeção. Por exemplo: suponhamos que você se sentiu traído por seu melhor amigo(a) ao descobrir que havia o planejamento desse(a) para tomar posse do cargo que você ocupa na empresa em que trabalham juntos. Suponhamos que a tentativa foi bem-sucedida e que você realmente tenha perdido seu cargo e tenha sido desligado da empresa para que o amigo(a) assumisse a posição. Hoje, ao reconhecer (inconscientemente) pessoas que apresentam o mesmo tipo de comportamento do “amigo” do passado ou que tenham traços físicos parecidos, você poderá agir com considerável antipatia ou reserva diante dessa pessoa que nada fez a você até o momento. Dessa forma, houve a projeção da figura “amiga” nessa segunda pessoa.

Se questionado por outra pessoa sobre seus motivos por tal antipatia, provavelmente será difícil reconhecer algo concreto, daí a justificativa padrão: meu santo não bateu com o dele(a).

Essa lembrança difícil, que insiste em retornar, deixa evidente quanto é comum as pessoas confundirem a diferença entre perdoar e esquecer.

Um dos primeiros conselhos que ouvimos de pessoas que não conseguem captar a dimensão do sofrimento por parte de quem foi traído é dizer: “Esquece isso” ou “passe por cima”.

Ocorre frequentemente que muitos utilizam como ferramenta de enfrentamento o esquecimento, mas, na verdade, significa apenas uma tentativa bem superficial de não pensar mais no fato e não sofrer com ele.

Perdoar é algo diferente. Difere do simples ato de não pensar em uma situação traumática. Significa, ao contrário, que houve muita reflexão acerca do que ocorreu, houve expressão e elaboração psíquica acerca do acontecimento, viabilizando, dessa forma, o perdão — esse afeto que demonstra aceitação acerca da falha cometida pela outro. Para que esse perdão seja possível, é fundamental que a pessoa que se sentiu prejudicada possa falar abertamente sobre isso e que todas as dúvidas e lacunas da história sejam preenchidas com informações sinceras.

Homem e mulher negros se abraçando.
Gus Moretta / Unsplash

Apesar de ser um processo consideravelmente doloroso, somente ele poderá viabilizar o perdão propriamente dito.

O perdão pode ocorrer a partir da constatação dos acontecimentos motivadores e da aceitação real da personalidade e do comportamento daquele que praticou a falta.

A percepção dessa realidade inviabiliza a fantasia e a continuidade das idealizações criadas acerca dessa pessoa, mas é ao final dessa análise que poderá ser compreensível se será viável ou não o perdão e a continuidade da relação anteriormente estabelecida.

Muitos podem ser os motivos que levam uma pessoa a perdoar genuinamente: a constatação de que a parte que errou não o fez com intenções maléficas; a concepção de que o erro ocorreu sem que houvesse consciência plena por parte do errante; a crença de que novos eventos não vão acontecer, entre outros.

Estamos falando sobre um processo que tem como pré-requisito uma boa dose de coragem de ambos os lados. Por parte daquele que se sentiu prejudicado, será necessária a disposição psicológica para falar e ouvir a verdade acerca dos fatos. Já pelo errante, será exigida a coragem de assumir seus débitos e a realidade das suas atitudes.

Você também pode gostar

Não é motivo para vergonha assumir a incapacidade presente de praticar o perdão. Também não é motivo para se colocar em posição de inferioridade por não conseguir ter forças psíquicas para enfrentar a “exumação” dos fatos. A psicoterapia, nesses casos, poderá ajudar com o fortalecimento emocional, por proporcionar a compreensão do funcionamento subjetivo, viabilizando a tomada de escolhas difíceis, mas necessárias.

Vale lembrar que esse assunto deve ser encarado de forma real, com certo cuidado em relação a conceitos que fogem à razão, para que não se corra o risco de antecipar de forma equivocada a efetivação de um perdão irreal.

Sobre o autor

William Sousa

Minha história com a psicologia começou quando tinha apenas 13 anos. Foi quando descobri o prazer de ouvir. Segui o ensino médio e prestei o vestibular sem dúvidas de qual curso faria. Formei-me em psicologia há mais de dez anos. Conclui minha licenciatura em 2008. No ano de 2009, conquistei o título de bacharel.

Conclui um MBA em gestão empresarial no ano de 2011 e minha pós-graduação em psicologia hospitalar pelo Hospital Israelita Albert Einstein, de São Paulo, no ano de 2016.

Nesses anos, trabalhei nas áreas clínica, hospitalar, jurídica e de recursos humanos.

Trabalhei no Hospital Geral de Itapecerica da Serra atendendo vítimas de abuso e violência sexual, além de pacientes de UTI adultos, clínica cirúrgica e clínica médica.

No Hospital Sepaco (São Paulo), fui responsável pelo atendimento dos pacientes adultos de UTI.

Nesses 11 anos de atuação também trabalhei em consultórios particulares de psicologia, com pacientes adultos e em avaliação pré-cirúrgica.

Atualmente atendo pessoas do Brasil e do exterior por telemedicina pela abordagem psicanalítica.

Email: william.psico@gmail.com
Facebook: psiwilliamsousa
Instagram: @psicologo_williamsousa
Youtube: Psicólogo William Sousa
Linkedin: William Vinicius Sousa