Ainda que este tenha sido um ano tão peculiar, com a aproximação de um novo ciclo a tendência é que façamos uma revisão, e tenhamos aquela vontade de planejar o ano seguinte.
Como fiz no meu livro “A Namorada do Dom”, convido você para ver comigo as lições que aprendi nestes últimos dois anos, durante a pandemia, e depois a refletir se planejar ainda é a melhor forma de vivenciar estes ciclos.
O amanhã não existe
No meio de 2019, minha meia-irmã me escreveu dizendo que planejava me visitar na Suíça em janeiro de 2020. Os meses foram passando, e um dia escrevi: “já comprou as passagens?” e ela respondeu que estava repensando a decisão porque as passagens estavam muito caras. “Ano que vem compro com mais antecedência”. Bem no começo da pandemia ela morreu, aos 48 anos, vítima de um ataque do coração, apesar de nunca ter tido problemas antes.
Tenho certeza que todo mundo tem uma história dessas pra contar, mas a pandemia deixou isso muito mais evidente: não adianta querermos fazer planos para o amanhã, porque é impossível controlá-lo. O que nos leva à segunda lição:
Quem sou eu sem o controle?
Esta foi a pergunta que aprendi com o meu quiroprata. Sempre que me vejo querendo controlar o rumo das coisas, pessoas, tento me lembrar disto.
Não temos controle sobre as coisas, e tentar controlar pessoas é um pouco como que tirar a liberdade delas. Eu, por exemplo, estudei Antroposofia: a principal obra do Rudolf Steiner é o livro “A Filosofia da Liberdade”. É meio contraditório tentar tirar a liberdade de alguém quando estamos no mundo do autoconhecimento.
Controle, aliás, tem a ver com inconsciência; é uma qualidade do ego. Como falei neste texto, ele é o contrário da rendição (surrender), que é uma qualidade do espírito:
“Rendição: consciência aberta, fácil, tranquila, livre, receptiva, fluida.
Sem rendição (ou no seu contrário: controle, apego, resistência), há a constrição, tensão, limitação.”
O plano é não ter plano
Este ano, a gente planejava viajar, e logo vinha uma nova lista de restrições que impedia tudo.
Na verdade, ninguém nem sabia se estaria vivo no dia de viajar, quanto mais se o país estaria na zona verde. Aliás, viajar, apesar da saudade da família era, na verdade, o menor de todos os problemas que vivemos.
Este foi um ano em que o plano era não ter plano, e acho que esta é uma lição que quero levar para 2022. Viver cada vez mais no presente e aceitando as situações como elas se apresentam.
A preocupação com o futuro está na raiz do problema da ansiedade (a depressão é o pensamento preso no passado). Ansiedade parece ter sido um problema comum a muita gente nesse período: “como vai ser? o que vou fazer? como me encaixo num mundo em transformação?”
O que tenho aprendido é que o melhor que posso fazer é:
1) ter claro o que quero: não num sentido egóico do termo, mas num sentido de autoconhecimento. Por exemplo, o que eu mais prezo neste momento da minha vida é meu tempo. Gosto de fazer as coisas devagar, de poder aceitar um convite que surge espontaneamente, de decidir como quero trabalhar.
2) confiar na sabedoria do Universo para fazer com que o que eu quero (item 1) aconteça, não do meu jeito, de acordo com o que a minha mente pensa ser o melhor para mim, mas de novas maneiras que a minha cabeça nem foi capaz de sonhar ainda.
Deixar para se preocupar quando acontecer
Parece que estou me repetindo, mas tem uma pequena diferença neste caso, já que são coisas mais concretas, não coisas que a minha mente imagina.
Por exemplo, dois amigos do meu marido disseram que viriam para uma visita numa semana em que teoricamente ele não estaria em casa. Já comecei a me preocupar, porque não os conheço direito e tal. Depois pensei: “vou deixar para me preocupar quando eles comprarem a passagem.” No fim, eles acharam que seria uma viagem muito cara e decidiram ir para outro lugar.
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Tive inúmeras oportunidades de vivenciar esta lição este ano.
Você consegue (You can handle it!)
Esta é o lema do livro “Sinta Medo e Faça Mesmo Assim”, da Susan Jeffrey. Ela diz que o que deu-lhe confiança foi o fato de com o tempo ter se dado conta que não importa o que aconteça, 99% das vezes no fim a gente vai lidar, vai resolver.
Problemas pequenos, problemas grandes: a imensa maioria de nós vai resolver. Pode ser que seja mais difícil financeira e emocionalmente para uns, menos para outros, mas a capacidade do ser humano (e do brasileiro!) de resolver problemas é imensa.
Então, para que nos preocuparmos antes? Isto só vai custar nossa saúde.
Bom, tudo isto refletido, acho que não adianta tentarmos planejar o próximo ano. A ideia é viver um dia de cada vez, e confiar tanto no Universo quanto na nossa própria capacidade de fazer o melhor.
Mas podemos sim colocar uma intenção: a minha é de muita saúde para todos nós. E, especialmente, o pensamento budista: “Que todos os seres fiquem livres do sofrimento, e das causas do sofrimento.”
Feliz Novo Ciclo!