Autoconhecimento

Esvaziar para me preencher

Homem olhando pela janela.
Norbert Kundrak / Unsplash
Escrito por Leandra Dib

Dia desses estava me sentindo inquieta. Uma inquietude não manifesta em meu corpo, e sim na minha mente. Os pensamentos acelerados, uma certa dificuldade para encontrar foco ou definir uma direção.

Costumeiramente, movimentar meu corpo me auxilia muito nesses momentos, mas não era o que eu estava sentindo que deveria fazer. Abri meu armário no escritório e dei de cara com um caderno que há muito tempo eu não visitava. Um caderno que recebia minhas palavras escritas à mão.

Ele não é um diário, pois nossos encontros não ocorriam todos os dias, mas era um lugar muito visitado em diferentes situações. Eu sei que nele tudo pode: posso manifestar por meio dos meus escritos agrados e desagrados, gostos e desgostos, sonhos, receios e lamentações; e ali não serei julgada — nem por mim.

Lá eu não preciso me preocupar com a minha caligrafia, muito menos com o número de linhas para compor meu pensamento.

Resolvi me sentar para escrever e confesso que só esse simples gesto já fez com que eu me sentisse diferente. Senti meu corpo e minha mente se organizarem prontamente, como se fosse um pedido de longa data sendo atendido.

Percebi que estava sentindo falta de ver a mágica acontecer, meus pensamentos ganharem forma e contorno usando as minhas mãos. Cada letra vai se unindo a outra como se estivessem passeando de mãos dadas num fim de tarde acompanhado do pôr do sol.

Mulher marrom com as mãos na cabeça.
Uday Mittal / Unsplash

Aquilo que nasce de mim, expresso, manifesto por meio do meu próprio corpo. O tempo ganha uma outra dimensão, parece que os ponteiros do relógio transcorrem mais lentamente, a velocidade dos meus pensamentos precisa respeitar o tempo que minha mão leva para deslizar no papel. Uma dança acontecendo diante de meus olhos e o palco era o papel.

Percebi que escrever à mão era desacelerar, me fez sair do piloto automático. A materialização do meu pensamento ganhando contorno e cor foi aprofundando minha respiração. Um bocejo e um suspiro apareceram também. Espreguicei lenta e prazerosamente, como se estivesse despertando de um sono profundo e reparador.

A tensão foi dissipada, bem como a tensão física e mental. Senti-me energizada, sangue fluindo e oxigenando todo meu corpo. Um sorriso brotou em minha face.

Você também pode gostar

Poder sentir o deslizar da caneta pelo papel teve lá sua magia. Esse encontro comigo mesma e a aproximação de algo que tanta falta estava me fazendo fizeram com que eu assumisse o compromisso do retorno não tão demorado.

Ao me esvaziar, senti-me profundamente preenchida. E agora eu estendo o convite a você: que tal pegar caneta e papel e deixar a mágica acontecer

Sobre o autor

Leandra Dib

Meu nome é Leandra e contar sobre mim é sempre uma oportunidade de reescrever a minha própria história, de trazer para o papel em forma de palavra aquilo que em meu corpo está registrado como memórias, lembranças, encontros, experiências.

Isso de alguma forma me conecta ao movimento que tanto aprecio. Movimento do corpo, movimento da vida.

Ao concluir a faculdade de fisioterapia o corpo tornou-se meu ‘campo’ de pesquisa. Cursei uma primeira especialização em Fisiologia do Exercício pela FM-USP. Tenho formação nos métodos de Reeducação Postural Global e Estruturação Postural Integrada, Reprogramação Músculo-Articular e Watsu (Water Shiatsu).

A dinâmica do corpo em movimento que evidencia um desejo posto em ação sempre me instigou, o que fez com que eu vivenciasse em meu corpo diferentes técnicas e passei a aliar isso ao que era proposto em terapia aos meus pacientes.

Percebia como eles estavam desconectados de seus corpos, lembrando que ele existia em função do desconforto que apresentavam, ou seja, a dor os fazia lembrar que tinham um corpo.

‘Ter um corpo’, como se fosse algo distante do que eram. Isso me chamava muito a atenção. Esse corpo de lamentações era o companheiro diário. Iniciei meu caminho em busca do ‘ser um corpo’ e não só ‘ter um corpo’.

Encontro nas práticas de yoga e meditação o meio para facilitar estes processos de (re)encontro comigo, e resolvo então buscar por uma formação em Hatha Yoga e Yogaterapia pela Humaniversidade Holística. Neste caminho me especializo em Yoga para Crianças pela Metodologia Yoga com histórias.

Estar presente neste corpo, neste lugar. Habitá-lo com tranquilidade e com prazer.

Foi quando me aproximei da educação e entrei em contato com a antroposofia, com os ensinamentos para a vida que nos deixaram Rudolf Steiner, Emmi Pikler, Maria Montessori, Paulo Freire.

Decido estudar sobre o começo da vida, sobre as infâncias, sobre o brincar como uma condição humana e as biografias despertaram meu interesse.

Uma costura de saberes de diferentes áreas do conhecimento que tanto dialogam entre si e que me possibilitam a especialização em Escutas antropológicas das infâncias - a vez e a voz das crianças.

Hoje atuo como professora de yoga e meditação, cuido de crianças e adultos que sintam o chamado de retorno a morada corporal.

Trabalho também com rodas de mulheres, onde abordamos temas relacionados ao feminino em nós, ressignificando a relação com nosso corpo e nossos ciclos.

Ofereço grupos de estudos e rodas de conversa sob a perspectiva do ‘cuidar de quem cuida’ um trabalho voltado para os educadores, pais e professores.

Contatos:
Email: leandra.vozdocorpo@gmail.com
Site: vozdocorpo.com
Instagram: @leandradib