Convivendo

Capa da invisibilidade

Pessoa com um lenço cobrindo todo o rosto, em um fundo vermelho
Draganab / Getty Images Signature / Canva
Escrito por Leandra Dib

Especialmente, mas não exclusivamente, às mulheres.

Todas nós já experimentamos a capa da invisibilidade. Capa esta que pode ter sido vestida em nós de maneira forçosa ou nós mesmas nos vestimos devido a coisas que ouvimos, vimos e sentimos.

Essa capa de certa maneira está relacionada ao nosso corpo. Lugar que foi e é social e historicamente construído e moldado.

Corpo calado, silenciado, esculpido e formado pelas experiências e que frequentemente carece de correção.

Pare por um instante e pense sobre o que você já ouviu a respeito do seu corpo. Você pode fazer essa busca lá atrás, na sua infância, quando muito provavelmente foi sugestionado que você se sentasse com as “pernas fechadas”; um pouco mais para frente, que você “se preservasse”, e isso significava que tipo de roupas não deveriam ser usadas.

Falar e rir alto e gesticular demais não são os tipos de comportamento esperados de uma “boa menina”, esse adjetivo tão recorrente quando normalmente atendemos as expectativas daqueles que nos rodeiam.

E, assim, fomos nos moldando e nos comportando seguindo aquilo que nos foi ditado externamente.

Essa capa que aparentemente seria para nos proteger, nos afastar dos olhares desejosos sobre nossos corpos, nos preservar, de certa forma nos impede, também, de existir.

Ainda hoje, mesmo diante de um despertar para muitas das questões que atravessam nossos corpos, essa capa da invisibilidade vem sendo constantemente reforçada pelos tantos procedimentos estéticos que nos são ofertados como soluções para nos transformarmos nas nossas “melhores versões”.

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Uma insidiosa e violenta mensagem de que seremos melhores e mais felizes quando deixarmos de ser quem somos. Insustentável! Não podemos existir nos nossos próprios corpos.

Deixo o convite de nos questionarmos a respeito dessas tantas imposições que nos são feitas e que vêm acontecendo cada vez mais cedo, para que, por meio disso, possamos romper com a ideia de um corpo-padrão que exclui outros modos de ser.

Sinto também que, ao nos referirmos ao corpo, o mais adequado seria o uso plural: “corpos”, que abrange a pluralidade das existências, caminho que nos permite reconhecer o corpo como sendo um lugar confiável e confortável para ser e estar, um lugar onde eu posso verdadeiramente habitar e a partir do qual eu posso existir.

Sobre o autor

Leandra Dib

Meu nome é Leandra e contar sobre mim é sempre uma oportunidade de reescrever a minha própria história, de trazer para o papel em forma de palavra aquilo que em meu corpo está registrado como memórias, lembranças, encontros, experiências.

Isso de alguma forma me conecta ao movimento que tanto aprecio. Movimento do corpo, movimento da vida.

Ao concluir a faculdade de fisioterapia o corpo tornou-se meu ‘campo’ de pesquisa. Cursei uma primeira especialização em Fisiologia do Exercício pela FM-USP. Tenho formação nos métodos de Reeducação Postural Global e Estruturação Postural Integrada, Reprogramação Músculo-Articular e Watsu (Water Shiatsu).

A dinâmica do corpo em movimento que evidencia um desejo posto em ação sempre me instigou, o que fez com que eu vivenciasse em meu corpo diferentes técnicas e passei a aliar isso ao que era proposto em terapia aos meus pacientes.

Percebia como eles estavam desconectados de seus corpos, lembrando que ele existia em função do desconforto que apresentavam, ou seja, a dor os fazia lembrar que tinham um corpo.

‘Ter um corpo’, como se fosse algo distante do que eram. Isso me chamava muito a atenção. Esse corpo de lamentações era o companheiro diário. Iniciei meu caminho em busca do ‘ser um corpo’ e não só ‘ter um corpo’.

Encontro nas práticas de yoga e meditação o meio para facilitar estes processos de (re)encontro comigo, e resolvo então buscar por uma formação em Hatha Yoga e Yogaterapia pela Humaniversidade Holística. Neste caminho me especializo em Yoga para Crianças pela Metodologia Yoga com histórias.

Estar presente neste corpo, neste lugar. Habitá-lo com tranquilidade e com prazer.

Foi quando me aproximei da educação e entrei em contato com a antroposofia, com os ensinamentos para a vida que nos deixaram Rudolf Steiner, Emmi Pikler, Maria Montessori, Paulo Freire.

Decido estudar sobre o começo da vida, sobre as infâncias, sobre o brincar como uma condição humana e as biografias despertaram meu interesse.

Uma costura de saberes de diferentes áreas do conhecimento que tanto dialogam entre si e que me possibilitam a especialização em Escutas antropológicas das infâncias - a vez e a voz das crianças.

Hoje atuo como professora de yoga e meditação, cuido de crianças e adultos que sintam o chamado de retorno a morada corporal.

Trabalho também com rodas de mulheres, onde abordamos temas relacionados ao feminino em nós, ressignificando a relação com nosso corpo e nossos ciclos.

Ofereço grupos de estudos e rodas de conversa sob a perspectiva do ‘cuidar de quem cuida’ um trabalho voltado para os educadores, pais e professores.

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Site: vozdocorpo.com
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