Convivendo

É para presente!

Pessoa branca segurando presente.
freestocks / Unsplash
Escrito por Leandra Dib

Dias atrás, naquela famosa e cansativa correria para as compras das festas de fim de ano, estava eu atrás de uma roupa para mim, pois, depois de quase dois anos em casa, esgotando até as roupas que antes eram consideradas de sair, eu estava merecendo umas peças novas.

Escolhe aqui, escolhe ali, entra no provador, sai do provador, pronto, peças escolhidas!

Vou para a fila do caixa para pagar, enquanto a moça que me atendeu me faz uma pergunta:

Leandra, é para presente?

Na hora eu respondi:

Não, é para mim mesma!

Exatamente no mesmo instante que pronunciei essas palavras, como uma avalanche veio à minha mente a lembrança dos Natais na casa dos meus pais. Mais especificamente o momento em que, na entrega dos presentes que ficavam debaixo da árvore, deparava-me com um pacote que na etiqueta decorada estava escrito:

De: Zilda

Para: Zilda

Aquele era um presente da minha avó para si mesma! E lembro que ela abria o pacote com um ar de quem não sabia o que lá encontraria, um jeito de quem desejava ser surpreendida.

Presente com fita rosa.
Jess Bailey / Unsplash

“Mostra! Mostra!”, nós pedíamos.

“O que será que tem aqui?”, dizia ela em voz alta e em tom de brincadeira e gozação, olhando para nós, que estávamos ao redor dela.

Então ela começava a desembrulhar o seu presente. Não pense que ela saia rasgando o papel! Abria com cuidado, apreciando a sua ação. Quando finalmente terminava, sorria, suspirava e agradecia a si mesma pelo belo presente.

Concluía com um: “E não é que ela acertou na mosca?”. Um jeito usual de dizer que o presente era aquilo que ela estava querendo.

Ao ouvir aquela pergunta da vendedora me dei conta de que nunca tinha preparado um presente para mim. Sim, eu já me presenteei muitas vezes, comprei roupas, calçados, livros, cursos, enfim, aquilo que compro para mim não deixa de ser um presente.

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O que me chamou atenção neste dia foi o fato de que nunca havia desembrulhado um presente de mim para mim, como minha avó costumava fazer.

Deu tempo de reformular minha resposta à vendedora.

Sim, é para presente! E capricha no embrulho porque é para alguém muito especial!

Sobre o autor

Leandra Dib

Meu nome é Leandra e contar sobre mim é sempre uma oportunidade de reescrever a minha própria história, de trazer para o papel em forma de palavra aquilo que em meu corpo está registrado como memórias, lembranças, encontros, experiências.

Isso de alguma forma me conecta ao movimento que tanto aprecio. Movimento do corpo, movimento da vida.

Ao concluir a faculdade de fisioterapia o corpo tornou-se meu ‘campo’ de pesquisa. Cursei uma primeira especialização em Fisiologia do Exercício pela FM-USP. Tenho formação nos métodos de Reeducação Postural Global e Estruturação Postural Integrada, Reprogramação Músculo-Articular e Watsu (Water Shiatsu).

A dinâmica do corpo em movimento que evidencia um desejo posto em ação sempre me instigou, o que fez com que eu vivenciasse em meu corpo diferentes técnicas e passei a aliar isso ao que era proposto em terapia aos meus pacientes.

Percebia como eles estavam desconectados de seus corpos, lembrando que ele existia em função do desconforto que apresentavam, ou seja, a dor os fazia lembrar que tinham um corpo.

‘Ter um corpo’, como se fosse algo distante do que eram. Isso me chamava muito a atenção. Esse corpo de lamentações era o companheiro diário. Iniciei meu caminho em busca do ‘ser um corpo’ e não só ‘ter um corpo’.

Encontro nas práticas de yoga e meditação o meio para facilitar estes processos de (re)encontro comigo, e resolvo então buscar por uma formação em Hatha Yoga e Yogaterapia pela Humaniversidade Holística. Neste caminho me especializo em Yoga para Crianças pela Metodologia Yoga com histórias.

Estar presente neste corpo, neste lugar. Habitá-lo com tranquilidade e com prazer.

Foi quando me aproximei da educação e entrei em contato com a antroposofia, com os ensinamentos para a vida que nos deixaram Rudolf Steiner, Emmi Pikler, Maria Montessori, Paulo Freire.

Decido estudar sobre o começo da vida, sobre as infâncias, sobre o brincar como uma condição humana e as biografias despertaram meu interesse.

Uma costura de saberes de diferentes áreas do conhecimento que tanto dialogam entre si e que me possibilitam a especialização em Escutas antropológicas das infâncias - a vez e a voz das crianças.

Hoje atuo como professora de yoga e meditação, cuido de crianças e adultos que sintam o chamado de retorno a morada corporal.

Trabalho também com rodas de mulheres, onde abordamos temas relacionados ao feminino em nós, ressignificando a relação com nosso corpo e nossos ciclos.

Ofereço grupos de estudos e rodas de conversa sob a perspectiva do ‘cuidar de quem cuida’ um trabalho voltado para os educadores, pais e professores.

Contatos:
Email: leandra.vozdocorpo@gmail.com
Site: vozdocorpo.com
Instagram: @leandradib