Atualmente, mais de 300 milhões de pessoas estão sofrendo com uma única doença cruel no mundo: a depressão. Esses dados, publicados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2018, mostram um quadro preocupante. No Brasil, segundo a entidade, pelo menos 12 milhões de brasileiros (6% da população) são acometidos por esse mal.
Por causa desses números, discutir essa doença é essencial, para que tenhamos mais conhecimento sobre ela e possamos ajudar ou buscar ajuda se conhecermos alguém ou se nós mesmos estivermos passando por um quadro clínico de depressão.
O demônio do meio-dia
Em 1998, o escritor norte-americano Andrew Solomon, à época com 35 anos, passava por quadro grave e incapacitante de depressão. Ele contou sua experiência com a doença e a busca por se curar dela em um artigo da revista New Yorker.
Após a boa repercussão do artigo, e surpreso com a quantidade de respostas ao seu relato sobre como era ter depressão, ele decidiu investigar o assunto a fundo. Depois de três anos de pesquisas e conversas com pessoas que sofrem da doença, ele publicou o livro “O Demônio do Meio-dia: uma Anatomia da Depressão” (Cia. Das Letras, 2014).
Nesse livro, além de explicar o que é depressão e fazer uma apresentação histórica e cultural dessa doença, ele expõe conversas com pessoas que apresentam esse quadro e como suas vidas são afetadas por ele.
Para te apresentar algumas reflexões do livro, que hoje é considerado um dos mais completos sobre depressão, preparamos este artigo com algumas ideias e lições apresentadas por Solomon. Confira!
Depressão versus amor
Em diversos momentos do livro, Solomon demonstra com histórias de pessoas que enfrentam a depressão que é muito mais fácil superar a doença se houver amor envolvido. É claro que o amor-próprio é importante, mas uma rede de apoio é fundamental e essencial para superar o problema.
O próprio livro é dedicado ao pai de Solomon, que, segundo ele, foi o principal responsável por tirá-lo da depressão.
Presente e futuro
“Na depressão, tudo que está acontecendo no presente é a antecipação da dor no futuro, e o presente enquanto presente não mais existe.”
Quando conversamos com alguém que sofre com essa doença, é comum que a incentivemos a fazer atividades ou tomar atitudes no presente. Mas a verdade é que é muito difícil, para essas pessoas, ver o presente, porque a depressão é um eterno visualizar o futuro como algo tenebroso e, dessa forma, ficar paralisado.
Tratar a depressão, portanto, é melhorar as perspectivas a respeito do futuro, não só lidar com os sintomas que afetam o presente.
Doença incapacitante
“Tornar-se deprimido é como ficar cego, a escuridão no início gradual acaba englobando tudo; é como ficar surdo, ouvindo cada vez menos até que um silêncio terrível o envolve, até que você mesmo não pode fazer qualquer som para penetrar o silêncio. É como sentir sua roupa lentamente se transformando em madeira, uma rigidez nos cotovelos e joelhos progredindo para um terrível peso e uma isolante imobilidade que o atrofiará e, dentro de algum tempo, o destruirá.”
Quando dizermos que a depressão é uma doença incapacitante, é sobre isso que estamos falando. Ela vai se instalando aos poucos, de modo que, muitas vezes, a pessoa nem mesmo percebe que está “perdendo a visão” até que percebe que está “completamente cega”.
Sempre que você perceber alguém com sintomas de depressão, portanto, converse com essa pessoa, estenda a mão e faça o possível para ajudá-la, porque pode ser que nem mesmo ela saiba que está passando por um grave problema.
Noção de tempo
“[Os dias parecem] anos terríveis, baseados em alguma noção artificial do tempo.”
O tempo cronológico, como o entendemos, perde o significado para uma pessoa que sofre com depressão, porque cada segundo e cada minuto é tão sofrido e angustiante que parece durar uma infinidade.
É importante, portanto, pegar leve com alguém que está passando por essa doença, porque ela já está carregando um fardo pesado demais. Então, em vez de cobrança e pressa, ela precisa de ajuda e calma.
Desesperança
“Quando se está deprimido, o passado e o futuro são absorvidos inteiramente pelo momento presente, como no mundo de uma criança de 3 anos. Não se consegue lembrar de um tempo em que se sentia melhor; pelo menos não claramente; e certamente não se consegue imaginar um futuro em que se sinta melhor.”
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Uma das piores coisas da depressão é esta: não conseguir se ver melhorando nem conseguir se lembrar de como era antes de ela chegar e fazer morada, o que pode deixar uma pessoa completamente sem esperanças e correndo risco de vida.
Quando estender a mão a alguém com esse problema ou você mesmo estiver passando por ele, é importante frisar que tudo tem um fim. Nada é eterno e imutável. É uma doença, vai ser curada e vai passar. O futuro será melhor, sim. Diga isso. Mostre isso para si ou para a pessoa.
Vitalidade
Muitos associam a depressão ao oposto de felicidade. Em vários momentos de sua obra, porém, Solomon defende que a depressão não é a infelicidade, ou seja, o oposto da alegria. A depressão é a ausência de vitalidade, segundo ele.
Aquele que tem vitalidade supera suas dificuldades, tem energia para viver mais um dia e ir em busca dos seus sonhos, e é isso o que a depressão tira de nós. Para ele, então, é preciso resgatar a vontade e a vitalidade, não algo tão incontrolável quanto a felicidade, que pode ser um ideal inalcançável.
A depressão é uma questão grave, e qualquer coisa que nos ajude a lidar com ela e estarmos mais preparados para nos relacionarmos com pessoas que sofram com esse mal é muito importante, como esse livro de Andrew Solomon. E você? O que achou sobre o que ele compartilha em “O Demônio do Meio-dia”?