De acordo com o site de vídeos pornográficos Pornhub, o Brasil é o segundo país que mais acessa esse tipo de conteúdo no mundo. Outro dado, de uma pesquisa da ONU (Organização das Nações Unidas), publicada em 2015, mostrou que o Brasil era o 5º país que mais matava mulheres no planeta. Mas como esses dois dados se relacionam?
A violência à mulher é somente um dos malefícios que a pornografia causa no comportamento masculino, já que elas são sempre retratadas como pessoas menos merecedoras de prazer e que estão a serviço dos homens nas produções pornográficas… Confira esse e outros malefícios da pornografia aos homens!
Sexualidade precoce
Vamos começar pelo começo: o início do consumo da pornografia. Dizer que os jovens estão dando início à vida sexual mais cedo não é apenas uma impressão generalizada e de senso comum. De acordo com uma pesquisa feita em 2017 por Carmita Abdo, psiquiatra e professora da Faculdade de Medicina da USP, hoje os adolescentes brasileiros começam sua vida sexual a partir dos 13 anos de idade.
Ainda que desde sempre revistas pornográficas e outros conteúdos sensuais e sexuais estivessem disponíveis, é inegável que o fácil acesso à abundante de pornografia que pode ser acessada atualmente na internet torna o início da sexualidade dos jovens cada vez mais precoce, o que é perigoso, já que adolescentes de 13 anos têm pouca informação sobre sexo.
Isso se reflete em números preocupantes. A mesma pesquisa de Carmita Abdo mostrou que somente um terço dos jovens entre 13 e 17 anos que fazia sexo usavam preservativos.
Vai virando vício…
O consumo precoce de pornografia tem um risco muito grande: virar vício. Um estudo do fisiologista americano Gary Wilson, publicado em 2012, mostrou que a pornografia causa TDAH, ansiedade social, depressão, ansiedade de desempenho e TOC, a longo prazo. A quantidade de dopamina liberada ao assistir pornografia substitui mecanismos naturais de saciedade, segundo Wilson.
Ao longo da vida, portanto, é comum que os homens se tornem cada vez mais ansiosos e deprimidos com o seu desempenho sexual, dentre outros comportamentos, porque a referência que têm de vida sexual costuma ser a dos vídeos pornográficos protagonizados por atores e atrizes.
Insegurança com o corpo
Muito se fala sobre a maneira como os padrões de beleza fazem mal à autoestima feminina, mas eles também têm muitos malefícios à autoestima masculina, sobretudo porque os homens consomem mais pornografia do que as mulheres, segundo números do próprio site Pornhub.
Tamanho do pênis, definição do corpo, altura, desempenho de horas e horas de atividade sexual, ereções que nunca terminam… Todas essas questões martelam a cabeça de homens — e, o que é mais preocupante, de meninos —, que se sentem mal por não estarem à altura do desempenho e das características físicas dos atores pornográficos.
E muitas expectativas irreais
Além desse descontentamento com o próprio corpo, outra consequência grave da pornografia sobre os homens é definir metas e expectativas irreais a respeito do sexo, que vão desde as mulheres gostarem de homens agressivos, algo muito mostrado nesse tipo de conteúdo, a homens que transam sem parar por horas seguidas.
Então o que acontece é uma insatisfação geral. Os homens se sentem inseguros com seu próprio desempenho e incapacidade de reproduzir essas expectativas irreais, mas também ficam decepcionados com o desempenho das mulheres reais, que não reproduzem os exageros dos filmes pornográficos.
A mulher não sente prazer?
Você, homem, consegue imaginar um sexo bom ser orgasmo? Não, né? Pois saiba que uma pesquisa publicada em 2019 pelo instituto Prazerela mostrou que apenas 36% das mulheres brasileiras atingem um orgasmo em suas relações sexuais. Se isso fica abstrato demais, veja: de 100 mulheres que transaram, apenas 36 tiveram orgasmo.
E isso também entra na conta da pornografia. Se você consome filmes pornográficos, puxe na memória: quantos filmes você viu em que o prazer feminino estava em foco? Em quantas produções o homem se colocava a serviço da mulher, não apenas extraindo seu prazer dela?
Os homens que têm a pornografia como referência de vida sexual acabam naturalmente diminuindo a importância do prazer da mulher na relação, visto que reproduzem esse padrão estimulado por essas produções.
E a intimidade?
Não há intimidade nos filmes pornográficos, pelo menos na grande maioria deles. São atores interpretando uma transa satisfatória — repare no “interpretando”; sim, eles estão fingindo. Boa parte das relações sexuais da vida real partem de alguma intimidade, seja atração física, a famosa “química”, tesão pelo parceiro e por aí vai…
Mas isso é o oposto do que mostram os filmes, que exibem mulheres sempre dispostas a servirem ao prazer do homem, que, nessas produções, não precisa fazer esforço nenhum para que elas estejam à disposição, o que distorce a cabeça de muitos homens quanto à necessidade e mesmo ao prazer de desenvolver intimidade com o parceiro ou a parceira.
Diminuição da sensibilidade
Outro malefício do excesso de consumo de pornografia é a diminuição da sensibilidade no sexo real. Quando você acostuma seu cérebro a sentir prazer visual por assistir determinada cena, ouvir determinadas expressões de prazer e por aí vai, a capacidade de se excitar no sexo real tende a ser reduzida.
E o que acontece é que muitos homens que consomem bastante pornografia percebem que são incapazes de sentir prazer no sexo, tão acostumados que estão aos estímulos provocados pela pornografia.
Conteúdo mais pesado
Quanto mais pornografia você consome, menos sensível a ela, a longo prazo, você fica. É comum ir “enjoando” daqueles vídeos que tanto excitavam e, a partir disso, sair em busca de conteúdo diferente, que estimule mais… E esse conteúdo diferente acaba sendo, muitas vezes, mais fetichista, agressivo, violento, considerado “pesado”.
Não há problema nenhum em ter fetiches. O problema acontece quando o homem se torna incapaz de sentir prazer no sexo comum, por estar apegado demais aos estímulos do conteúdo pornográfico mais “pesado” que vem consumindo, o que o distancia do sexo da vida cotidiana.
Violência contra a mulher
Já explicamos aqui como o corpo da mulher, na indústria pornográfica, está sempre a serviço do homem. E é inevitável que esse comportamento seja reproduzido pelos homens na vida real. Mais preocupante ainda é que boa parte desse conteúdo é violento.
Tapas, ofensas verbais, movimentos agressivos, falta de consenso e até mesmo produções que simulam abusos e estupros naturalizam a violência contra a mulher entre os homens que consomem pornografia, e que passam a considerá-las seres inferiores.
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E há um outro problema, que atinge os vídeos chamados amadores, aqueles protagonizados por pessoas comuns, não por atores e atrizes: a maior parte deles é publicado sem autorização e/ou consenso da mulher, o que é, além de crime, uma grande demonstração de como os homens diminuem a relevância delas.
Ter conhecimento sobre todos esses malefícios da pornografia não te obriga a deixar de consumir esse conteúdo, mas te ajuda a descobrir quais são os efeitos dele no seu comportamento e na sua vida sexual. Quem dá a palavra final a respeito de consumir ou não é você, mas agora você tem mais informações para tomar essa decisão!