“Liberdade ou solidão?”: quem nunca se deparou com essa indagação em legendas de imagens de indivíduos sozinhos em locais públicos, como restaurantes e cinemas? O ato de estar sozinho, por si só, é um assunto polêmico. Por que tendemos a julgar tanto alguém que parece se dar bem com a própria companhia?
Num mundo de mais de 7 bilhões de habitantes, no qual a comunicação é instantânea e globalizada, será mesmo que é impossível ser feliz sozinho? Uma parcela notável da população sul-coreana defende que não. Isso ocorre porque essa comunidade é adepta da filosofia Honjok, que fala sobre o prazer de se estar sozinho.
Tudo sobre Honjok
O que é Honjok?
O fenômeno das “tribos de um só” se alastrou pelo continente asiático nos últimos 10 anos. Na Coreia do Sul, porém, esse costume intensifica-se cada vez mais, a ponto de ser considerado uma legítima filosofia de vida. É o Honjok, o prazer de estar sozinho. Em suma, “Hon” significa “homem só” e “jok” significa “tribo”.
Em entrevista para a BBC, a psicoterapeuta Francie Healey, que realizou uma imersão na cultura de adeptos do Honjok, aponta que essa ideia é mais do que um estilo de vida, “é uma forma de estar no mundo”.
O termo é tão abrangente que, na Coreia do Sul, criou-se um mercado próprio para atender as pessoas que passaram a realizar atividades diversas sozinhas. O Honjok, inclusive, ganhou nomenclaturas específicas para cada tipo de atividade: Honbap, ato de realizar refeições sozinho; Honsul, ato de sair sozinho para beber em bares e Honnol, ato de praticar hobbies sozinho.
Ensinamentos do Honjok
Embora o rótulo da solidão esteja frequentemente associado a ideias negativas e defeitos de personalidades, o que se vê é que quem opta pelo Honjok toma uma decisão consciente de se explorar e mergulhar profundamente em suas próprias vontades e interesses, cultivando seu verdadeiro mundo interior. Healey, a psicoterapeuta, define os praticantes desse ideal como “solitários de sucesso”.
No livro “Honjok: The Art of Living Alone” (“Honjok: a arte de viver sozinho”), as autoras Francie Healey e Crystal Tai explicam que muitos jovens, especialmente mulheres, abraçaram o individualismo para rejeitar os valores coletivistas da sociedade sul-coreana, vendo a solidão como alternativa às normas e imposições sociais de se viver em bando.
Estudiosos não apenas desse tema, como interessados também no próprio conceito de “solitude”, apontam que a solidão realmente permite que seus adeptos tenham relacionamentos mais frutíferos e positivos com outras pessoas. O ato de estar sozinho é um nobre caminho de autoconhecimento, e este último é a chave para o sucesso em muitas relações interpessoais.
Com a obrigação do isolamento social causada pela pandemia da Covid-19, muitas pessoas ficaram na berlinda da saúde mental por falta de contato com os outros, ao se depararem com seus próprios excessos, numa intensa e súbita rotina de ter que conviver com a própria solidão. E como aprendemos a lidar com isso?
O Honjok é um caminho para entender que, mesmo que seja desconfortável no início, o convívio consciente com a solidão provoca um cultivo profundo da autoconsciência. Numa relação com o seu mundo interior, você pode sentir uma verdadeira riqueza espiritual estando apenas consigo.
Maneiras de praticar o Honjok
Em primeiro lugar, é importante entender que se sentir sozinho não é o mesmo que estar plenamente sozinho. Se você pretende adquirir hábitos de solitude e adentrar na vivência do Honjok, é preciso tomar consciência de sua solidão e enfrentar esse processo com razão e certeza.
Para praticar essa filosofia, é preciso realizar atividades e atos que se voltem ao seu íntimo e ao silêncio. De início, começando com alguns minutos por dia, você pode realizar coisas simples, como se atentar à sua respiração e aos seus pensamentos. Nessa etapa, você pode escrever um diário ou simplesmente anotar os seus pensamentos e as percepções dos seus sentidos (como tato, olfato, paladar) que chamem sua atenção; porque isso o ajuda a tomar consciência de si, tornando-te um ser reflexivo e autoconsciente.
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Praticar meditação e técnicas de mindfulness também são excelentes caminhos para o Honjok. Desenvolver interesses criativos e artísticos também, já que realizar trabalhos manuais e/ou fora do comum que envolvem a expressividade requer muito da nossa relação conosco.
Se você se sente atraído pela ideia de viver pleno consigo mesmo e sua solidão, aposte no inédito e tente aderir ao Honjok. Pode parecer assustador ou muito difícil no começo, mas os resultados a longo prazo são promissores. Tenha em mente que se tornar um “solitário de sucesso” não implica virar um misantropo — muito pelo contrário! Ao se dar bem consigo, você estará se munindo a se tornar cada vez melhor para conviver com aqueles que você ama.