Espiritualidade

Bruxaria islandesa — O que é e como funciona?

Mulher segurando livro com velas ao seu lado
Anete Lusina / Pexels
Escrito por Eu Sem Fronteiras

É comum ler ou ouvir a palavra bruxaria e sentir certa repulsa por ela… Conforme o cristianismo foi dominando o nome, passou a usar essa palavra para tudo o que não fosse cristão, por isso reagimos mal a ela. Mas há muitas religiões antigas que envolviam magia e nada tinham de ruim, como a bruxaria islandesa.

Conhecida também como galdrastafur (palavra islandesa que pode ser traduzida como “bastões mágicos”), a bruxaria islandesa era um grupo de crenças, rituais e sigilos que faziam parte do dia a dia do povo da Islândia no século XVII. Entenda tudo sobre essa antiquíssima religião neste artigo que preparamos!

O que é e onde fica a Islândia?

Antes de mais nada, é importante contextualizar onde nasceu essa religião. A Islândia é uma pequena ilha que fica acima do Reino Unido, onde está a Inglaterra. Como foi povoada por navegadores noruegueses, foi lar de vikings e da cultura escandinava de países como Noruega, Dinamarca e Suécia.

A Islândia é um país vulcânico, onde, até hoje, as pessoas só habitam o litoral. As temperaturas são baixíssimas e no inverno algumas rodovias ficam intransitáveis. No passado, muitos episódios de fome assolaram o país, especialmente no inverno, por isso o povo era muito apegado às crenças, em busca de proteção divina contra as mazelas.

Montanhas da Islândia
Evgeny Tchebotarev / Pexels

O que é a bruxaria islandesa?

Antes de o cristianismo fincar suas raízes na Islândia, o que aconteceu a partir do século XVII, as pessoas desse país tinham seu próprio conjunto de crenças. Além de acreditarem nos deuses nórdicos, como Odin, Thor e Loki, havia a bruxaria islandesa, um conjunto de rituais, feitiços e conhecimentos ocultos.

Basicamente a bruxaria islandesa é composta de sigilos, que são símbolos mágicos entalhados ou construídos com argila para ser possível alcançar o que é desejado. A maior parte desses símbolos foi compilada no grimório Galdrarbók, escrito por volta do ano 1600 e que pode ser visto até hoje em um museu da Islândia.

Imagem de um museu
Charles Parker/ Pexels

Os principais sigilos da bruxaria islandesa

O grimório Galdrarbók compila um total de 47 sigilos mágicos, entre outras receitas de poções e ervas, além de tradições orais. Confira abaixo 10 dos principais sigilos:

  1. Ægishjálmur: pode ser traduzido como Elmo do Assombro ou Elmo do Terror. Citado em várias sagas e histórias do folclore islandês, esse símbolo de oito pontas era usado para induzir medo nos adversários, proteger um guerreiro em batalha e ajudá-lo a vencer seus combates;
  2. Vegvísir: também bastante popular, é uma bússola, ou melhor, um encontrador de caminhos, segundo a tradução literal. Era usado por aqueles que iam navegar ou que passariam por jornadas ou aventuras perigosas. Tem representados os nove reinos da mitologia nórdica, nas pontas e no centro;
  3. Feingur: é um sigilo que atrai fertilidade para a terra. As terras da Islândia são conhecidas até hoje por serem muito inférteis por causa da atividade vulcânica, por isso esse sigilo era bastante importante;
  4. Draumstafir: esse sigilo sinuoso e com pontas que lembram o símbolo da psicologia moderna era usado por aqueles que queriam sonhar com os desejos que ainda não tinham conseguido realizar ou para descobrir quais eram seus desejos;
  5. Stafur gegn galdri: as lendas islandesas contam de muitas bruxos e magos bondosos, que viajavam o país ajudando quem estava precisando, mas falam também sobre bruxos e feiticeiras gananciosos e maldosos, e esse sigilo serviria para afastar esses últimos;
  6. Veiðistafur: esse sigilo era usado para atrair sorte nas atividades de pesca. Até hoje a pesca é a principal atividade comercial e também de abastecimento doméstico dos islandeses, daí a importância de ter uma pescaria com sorte;
  7. Smjörhnútur: prepare-se que esse é bastante específico! Esse sigilo era usado para descobrir se um tilberi havia infectado o leite das vacas de uma fazenda. Tilberis eram criaturas que, segundo as lendas, eram criadas por bruxas para roubar e amaldiçoar o leite de uma fazenda;
  8. Máladeilan: esse era um símbolo usado para ser favorecido em julgamentos e discussões. A Islândia sempre teve uma democracia organizada e mediações eram frequentes. O parlamento islandês, o Althing, para se ter uma ideia, foi fundado no longínquo ano de 930;
  9. Lásabrjótur: esse era um poderoso sigilo que poderia ajudar qualquer pessoa a abrir um baú ou um cadeado que estivesse trancado à chave;
  10. Lukkustafir: aquele que carregasse esse símbolo consigo jamais encontraria qualquer tipo de mal, fosse na terra, fosse no mar.

O cristianismo e a bruxaria islandesa

A partir do século XVII, o cristianismo chegou à Islândia, imposto pelo rei da Dinamarca, da qual a Islândia era uma colônia. A partir da chegada dessa religião em solo islandês, as tradições mágicas do país começaram a ser proibidas, inclusive o uso de sigilos, por isso quase nenhuma informação sobre eles restou.

Foto de uma área interna de uma igreja
cottonbro / Pexels

Uma peculiaridade em relação à caça às bruxas que aconteceu no continente europeu é que a maioria das pessoas acusadas de bruxaria pelo cristianismo na Islândia eram homens. Dos 120 julgamentos com acusação de bruxaria documentados, somente 10 rés eram mulheres. Vinte e uma pessoas foram queimadas; uma delas era mulher.

O primeiro islandês condenado por bruxaria pelas autoridades cristãs foi Jón Rögnvaldsson, um fazendeiro acusado de criar um fantasma para causar danos aos seus vizinhos e ao gado deles.

Você também pode gostar

O renascimento da bruxaria islandesa

Recentemente, há um movimento de renascimento das tradições da bruxaria islandesa no país, especialmente porque esse povo é muito apegado à sua cultura, às suas tradições e à sua história.

Há pequenas organizações tradicionais que realizam rituais e disseminam os ensinamentos dos grimórios islandeses, como os sigilos que foram proibidos pela Igreja no passado.

Para se ter uma ideia, a organização Ásatrúarfélagið, que é um grupo de pessoas que adoram os deuses nórdicos, está desde 2016 trabalhando na construção de um templo para os deuses Odin, Freya e Thor. É a primeira vez, depois de cerca de mil anos, que um templo a essas divindades será construído no país.

Essas são as principais informações sobre a bruxaria islandesa, um conjunto de crenças tradicional e que representa o povo da Islândia. Infelizmente, o avanço do cristianismo sufocou a disseminação dessas tradições, mas elas estão voltando a ser praticadas pelo povo desse país bastante interessante e singular!

Sobre o autor

Eu Sem Fronteiras

O Eu Sem Fronteiras conta com uma equipe de jornalistas e profissionais de comunicação empenhados em trazer sempre informações atualizadas. Aqui você não encontrará textos copiados de outros sites. Nossa proposta é a de propagar o bem sempre, respeitando os direitos alheios.

"O que a gente não quer para nós, não desejamos aos outros"

Sejam Bem-vindos!

Torne-se também um colunista. Envie um e-mail para colunistas@eusemfronteiras.com.br