Saúde Mental

O gato e o inconsciente

Mulher segurando um gato preto.
Helena Lopes / Pexels
Escrito por Pedro Paschuetto

Certa vez, após adotar um gato, seu tutor não queria que ele subisse no telhado, com medo que escapasse. Haviam telhas de fibra bem velhas na lavanderia por onde o gato, após subir numa bancada, achava uma brecha e passava pelas telhas, alcançando o telhado. Seu tutor fazia de tudo para impedir que o gato subisse: colocava placas de madeira, tampava as brechas com isopor, pregava onde as telhas estavam soltas, instalava grade de arame e etc., sempre achando que “agora o gato não conseguirá passar!”, entretanto o gato dava um jeito, encontrava uma brecha e flup!, lá estava ele no telhado novamente.

Segundo teorias psicanalíticas, o inconsciente da psique humana pode ser entendido como um vulcão de pulsões e afetos reprimidos e recalcados a buscarem satisfação em algum objeto ou ato. Entre a barreira do conteúdo passível de ser realizado (inconsciente) e as formas possíveis de realizar este conteúdo (consciente), há uma instância chamada superego, que faz o papel de guarda de fronteira, tentando controlar o que passa pela barreira.

Por mais que passe um pensamento de pular de um prédio, cometer suicídio, homicídio e roubar milhões, o superego atua (ou quase sempre, né?) no impedimento desses atos.

Ocorre que muitas das pulsões e afetos que deveriam passar pelo guarda de maneira mais aceitável possível socialmente, não passam, e esse conteúdo vai se transvestir e se traduzir em sintomas: depressão, neurose, angústia, chiste, obsessão, atos falhos, fobias, perversões etc.

Mulher chinesa olhando para o vidro embaçado e desenhando nele com o dedo.
Ike louie Natividad / Pexels

Sabe aquele assunto do qual você tem vontade de falar com uma pessoa mas não fala?

Aquele “não” entalado na garganta para determinada situação que não vira atitude?

Aquele “sim” que você gostaria de se permitir mas que por inúmeras desculpas não se autoriza?

Aquela situação familiar emaranhada há décadas envolvendo diversas pessoas, deixando todas de rabo preso, sem ninguém tocar no assunto?

Então… é sobre isso.

Seja da forma que você achar melhor (e existem diversas técnicas para tratar desse conteúdo), a sugestão é cuidar urgentemente disso. Aceitar que existe, olhar, tomar consciência, agir sobre e dar o próximo passo para realizar essas pulsões e afetos. Isso faz parte do desenvolvimento do amor-próprio. Somente assim se abrem entendimentos sobre emoções, sentimentos e pensamentos que constantemente você sente mas não entende a origem.

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O conteúdo inconsciente precisa ser visto — caso você não queira sofrer, claro. Não que ele deixe de existir, mas ter consciência dele permite a você uma autonomia que antes não se encontrava capaz de ter.

É só acender a luz que a sombra sai correndo!

Pode ser colocada a barreira que for, mas inevitavelmente o gato encontrará uma forma de subir no telhado…

Sobre o autor

Pedro Paschuetto

Pedro Paschuetto é natural de São Bernardo do Campo, SP. Iniciou sua trajetória em 2010, quando ingressou no curso de filosofia livre na academia, na Escola de Filosofia Livre, onde se formou como professor e orientou aulas de filosofia livre e meditação durante cinco anos.

Em 2011 iniciou sua prática de Tai Chi Chuan pelo Shobu Dojo, arte marcial que ensina desde 2014, ano em que se formou no curso de instrutor de Tai Chi Chuan pelo Espaço Caminho da Luz – professor Laércio Fonseca.

Fortemente identificado com a meditação, experimentou diversas técnicas. Se estabeleceu na Vipassana, tendo concluído seu primeiro curso em 2012.

Admirador das artes orientais, pratica Iaidô (espada japonesa) e Sumi-ê (pintura com tinta preta).

Por sua intensa necessidade de investigação da natureza da mente humana, em 2018 iniciou seus estudos em psicanálise.

CONHECE-TE é um projeto para a extinção do sofrimento por meio de autoconhecimento, consciência e verdade.

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