Mesmo antes de saber o real significado da páscoa, sempre vivi uma grade expectativa pela chegada dessa época do ano. Essa condição foi gerada muito mais pelas tradições culturais e o sincretismo religioso que envolvem a data e nos leva em curto espaço de tempo à dor e ao prazer. Vivia sob as regras que me apontavam os extremos da vida e da morte que se repetia ano a ano num ciclo infinito.
Enquanto me cobrava pelo que era imposto pelas minhas convicções religiosas à época, enchia-me de ansiedade pelas recompensas materiais que as festividades ofereciam, principalmente as culinárias e o saborosíssimo chocolate, transformando o suposto “sacrifício” das rezas e jejuns numa verdadeira apoteose gastronômica.
Hoje, pensando no que verdadeiramente representa a Páscoa, vejo que mudei a forma de pensar, mas o sentido da Páscoa continua o mesmo, ou seja, é o modo contínuo da vida que constantemente se repete no morrer e renascer, na dor e no prazer, na luz e na sombra.
Emicida, em uma de suas canções, disse que “a vida é um constante partir, voltar e repartir” numa perfeita alusão aos compromissos mútuos que temos quando da nossa passagem (Páscoa) na jornada arquetípica da vida que é tão bem retratada pelos Arcanos Maiores do Tarot.
Percebi que a Páscoa, assim como o Tarot, também é carregada de simbologias que representam a jornada que está em permanente recomeço, renovando-se e se atualizando a cada instante, apresentando nossas responsabilidades e remetendo a um diálogo constante com o nosso interior.
Ao analisar os símbolos pascais, verificamos uma forte relação com alguns Arcanos e o contexto arquetípico que carregam ao demonstrar a riqueza existente na permanente busca do equilíbrio diante da dualidade do mundo.
Como não fazer relação entre a passagem de recolhimento de Jesus no deserto e o Eremita que comporta a energia da sabedoria, da prudência e iluminação interior, sem com isso desprezar a força e a importância da solidão e da amargura? E a Morte? Que traz em si o medo natural do desconhecido e ao que está por vir, mas que também é revelação, nascimento, renascimento ou ressurreição.
Assim como o Arcano Julgamento, a ressurreição pode representar uma nova oportunidade para o alcance de uma nova consciência, trazendo à vida todo esplendor contido na luz do Sol. Luz que vai possibilitar a expansão da energia da Imperatriz emanando prosperidade, generosidade, criatividade e fertilidade e a do Imperador, que, com sua força, institui poder e estabilidade.
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E assim segue a humanidade pela Roda da Fortuna que é a vida de todos nós, um eterno ir e vir, subir e descer como a caminhada do Louco, mas sempre olhando para o infinito buscando com alegria alcançar o triunfo que se concretiza quando encontramos nosso lugar no Mundo.
Então, o que podemos entender como Páscoa senão a grande candeia que, com sua luz, vai nos guiando e mostrando o caminho? É o farol do Carro que nos conduz nessa viagem rumo à conquista, ao direcionamento, ao movimento constante da vida, ao pulsar do coração que faz o corpo caminhar. É a vitória que tem sabor, é a força do conquistador, do vitorioso com coragem, confiança, iniciativa e disposição para entrar em ação.
E como já mencionei, o Tarot, assim como a vida e a Páscoa, leva-nos a uma constante revisão dos nossos valores, sempre seguindo o que determina o ciclo: partir na busca do que ensina o caminho, voltar com novas experiências e repartir conhecimentos com elevação de sentimentos, ou seja, partir, voltar e repartir.
Enfim, Páscoa é luz! Luz que nasce do sacrifício e da dor, mas que tem como resultante a mais sublime das energias: o amor.
Feliz Páscoa.