A série tem por objetivo partilhar saberes, experiências e práticas da abordagem integrativa Meditação e Yoga Lúdico na Educação, para inspirar profissionais da educação e pais na prática de (auto)cuidado com crianças, jovens e adultos, de maneira lúdica e criativa.
Yoga – a Pedagogia do Ser Mais Humano
Jamais Cascio, antropólogo, historiador e membro do Institute for the Future, afirma que o mundo mudou, e entramos na era do caos.
O cenário da vida cotidiana, em seus diferentes setores, segundo o pesquisador, está alicerçado em quatro eixos: fragilidade, ansiedade, não linearidade e incompreensibilidade.
Aquilo que era incerto passa a ser ansioso, apresentando-nos a dificuldade de compreender as relações de causa e efeito, a sensação de estar à deriva é forte, e o medo surge como fator paralisante.
Ansiedade, descontrole emocional, medo, insegurança, não aceitação do diferente, relações humanas fragilizadas e baixa autoestima são alguns dos comportamentos que impactam a qualidade de vida, o bem-estar e o desenvolvimento integral de crianças, jovens e adultos, nesse cenário de não término da pandemia de Covid-19.
A educação formal e a não formal já sofriam com demandas complexas, antes da pandemia, e, quatro meses depois do retorno às aulas presenciais, o que observo e acompanho é a urgência de cuidar do Ser.
O mundo caótico não permite ou facilita o ato de cuidar, e afinal o que é cuidar?
“Etimologicamente, a palavra ‘cuidar’ vem do latim cogitare (houve a supressão do ‘g’ e conversão do ‘oi’ em ‘ui’, chegando próximo à palavra cuidar), denota pensar; para poder cuidar de algo ou alguém, precisa-se, antes, pensar no objeto ou na pessoa. Além de pensar, significa ‘zelar pelo bem-estar, ocupar-se de, tratar de, sustentar’.
Leonardo Boff afirma que existe, ainda, outra vertente etimológica que explica a palavrar cuidar, que também advém do latim: coera, significando a nossa palavra portuguesa cura. Ambas as raízes apresentam a atitude de colocar atenção sobre, mostrar interesse. Cuidar de significa ter responsabilidade sobre este alguém.
Conforme Boff afirma, o cuidado emerge da importância da existência de alguém para o sujeito. Boff pondera, ainda, que o cuidado seja essencial ao humano, tornando-o um ser humano.
Antes mesmo de o sujeito pensar o cuidado, ele já existe; o cuidado existe como algo a priori, possibilitando a sobrevivência.
Assim, o cuidado independe do gênero, constituindo algo da condição humana em si”. (Fonte)
O cenário caótico contemporâneo atinge todos os atores da comunidade escolar, e as práticas pedagógicas precisam ser nutridas com abordagens integrais e integrativas, favorecendo, facilitando e nutrindo o zelo pelo bem-estar de pessoas, ambientes, materiais e, sobretudo, das relações humanas fragilizadas.
Criar e aplicar a abordagem integrativa Meditação e Yoga Lúdico na Educação, há 8 anos, é minha contribuição para inspirar e instrumentalizar crianças, jovens, profissionais da educação e pais na prática de (auto)cuidar.
Minha vida foi profundamente impactada quando conheci e comecei a praticar meditação e Yoga. Insights surgiram, e o desejo de partilhar minhas experiências com meus pares (profissionais da educação) cresceu. Porque cuidar é garantir a manutenção da vida com qualidade.
Minhas práticas e experiências pedagógicas demonstram que o Yoga é a pedagogia do Ser + Humano, em que o Ser pode tornar-se mais harmonioso em tudo que pensa, sente e realiza na vida.
Trago o professor Júlio Maram para reafirmar: “A finalidade do Yoga é harmonizar o Ser”. Ele indica seis caminhos para essa harmonização:
1- Amor e respeito à Natureza (suas leis e ritmos).
2- Disciplina física (por meio das posturas).
3- Disciplina mental e emocional (por meio da respiração e concentração).
4- Silêncio criativo.
5- Concentração (“ser para dentro”).
6- Descentração (“ser para fora”).
Portanto práticas de cuidado, inspiradas pela meditação e pelo Yoga, são caminhos potentes para o desenvolvimento integral, qualidade de vida e bem-estar na constituição de escolas, comunidades, sociedades, países e mundo mais sustentáveis.
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Encerro o artigo introdutório da série, com a citação do psicólogo Carl Rogers, criador da terapia centrada na pessoa:
“Ser o que realmente se é, só é possível quando o indivíduo se harmoniza consigo mesmo, quando a harmonia nele é algo operacional.”
Nos próximos artigos da série, vou aprofundar os princípios e as práticas da abordagem.
Para inspirar, deixo o link de meditação roteirizada e guiada por mim – “Meditação Tempo de Amor”:
Saiba mais neste link: Academia Confluência
Anna Maria de Oliveira