Existem alguns assuntos em relação aos quais precisamos ter conhecimento quando somos responsáveis por crianças e adolescentes. Saber o que é bullying, por exemplo, é indispensável.
Isso porque ficar por dentro não só das tendências, mas também dos problemas e das dificuldades enfrentados por essa comunidade tão vulnerável nos ajuda a entendê-los e ajudá-los com mais facilidade. Apesar de essa situação afetar pessoas das mais variadas idades, esse é um grupo que se torna o maior alvo desse problema, por estar em crescimento e desenvolvimento.
Cheio de nuances, problemáticas e consequências, esse tema ganha cada vez mais destaque. E, nesse artigo, você terá acesso a informações realmente edificantes sobre o assunto.
Direto ao ponto
O que é bullying?
De forma simplificada, o bullying é um conjunto de práticas realizadas com o objetivo de intimidar e machucar uma pessoa. Ela pode ser realizada de várias maneiras, desde agressão física até psicológica, intimidação, assédio, desrespeito e outros.
Porém casos isolados não entram nessa definição, apenas aqueles que são realizados com frequência e contra as mesmas pessoas.
O termo “bullying”, utilizado pela primeira vez nos anos 1970 pelo psicólogo sueco Dan Olweus, não tem uma tradução exata em português. Com origem na língua inglesa, ele vem do termo “bully”, que significa “valentão, brigão”. Ou seja, faz referência direta ao tipo de violência que é cometida por essas pessoas.
Mesmo sem uma palavra semelhante na língua portuguesa, o termo original se tornou tão comentado que foi naturalizado e hoje faz parte do repertório brasileiro — e todos conhecem o seu significado.
Onde o bullying pode acontecer?
Diferente do que muitas pessoas acreditam, o bullying não é uma exclusividade do meio escolar. Apesar de sua ocorrência ser mais discutida nesse ambiente, principalmente pelo fato de ele ser bastante frequentado por crianças e adolescentes, pode ocorrer nos mais variados locais, desde que haja a presença de contato interpessoal.
Em clubes e playgrounds, por exemplo, é possível observar esse tipo de comportamento. Até mesmo a própria família da pessoa pode cometer essa violência contra ela, em sua própria casa ou no lar de familiares.
E não para por aí: ambientes adultos, como faculdades e escritórios, também são propícios para o bullying.
Como esse é um problema causado, principalmente, pela interação de pessoas, é importante lembrar que não existe um “local ideal” para que ele seja realizado: todo lugar com muitos indivíduos corre o risco de enfrentar essa situação.
Tipos de bullying
Como já foi falado, o bullying pode ser praticado de variadas maneiras. De acordo com Ana Beatriz Barbosa da Silva, médica brasileira que escreveu o livro “Bullying — Mentes perigosas nas escolas”, essa violência pode ser apresentada de cinco formas principais.
Conhecer esses métodos facilita a sua identificação e, consequentemente, a resolução do problema. Veja:
— Bullying verbal
É o tipo de bullying mais conhecido e um dos mais fáceis de serem reconhecidos. Consiste no abuso verbal, o que inclui ofensas, insultos, xingamentos, apelidos pejorativos, piadas ofensivas, entre outros. Apesar de, a princípio, não parecer tão problemático, pode causar sérios distúrbios de autoestima, confiança e traumas.
— Bullying físico
Mais severo, o bullying físico diz respeito a uma violência que vai além das palavras e parte para ações que envolvem bater, chutar, espancar, ferir e machucar a vítima. Nesse caso, roubar e destruir pertences do alvo do bullying também são incluídos. Além dos traumas psicológicos que essa situação pode provocar, esse tipo de bullying ainda pode gerar problemas para a saúde física.
— Bullying psicológico
No caso do bullying psicológico, o intuito é de realmente aterrorizar a vítima e fazer com que ela tema a presença de seu agressor. Para isso, táticas como isolamento, desprezo e discriminação são muito utilizadas. Chantagens e intimidações também entram em ação nesse momento, bem como a criação de rumores se encaixa nessa categoria.
— Bullying sexual
O bullying sexual pode incluir as mesmas táticas das categorias acima, com o agravante do abuso sexual.
— Bullying virtual (cyberbullying)
Realizado no âmbito digital, o bullying virtual vem se tornando cada vez mais comum. Isso porque, atualmente, a maioria das pessoas tem acesso à internet. Nesse meio, ainda existe o fenômeno de se sentir invencível e anônimo, o que estimula pessoas que não realizariam esse tipo de violência presencialmente. Essa é uma situação bastante problemática, pois faz com que a vítima não se sinta segura nem mesmo fora do ambiente em que é abusada.
Consequências do bullying
Muitas pessoas consideram o bullying uma ação comum entre crianças e adolescentes, afirmando que esse tipo de situação não passa de brincadeiras, e que é preciso ter paciência e aceitação.
Entretanto esse tipo de violência pode gerar consequências muito graves, incluindo traumas que as vítimas carregam por toda a sua vida.
O lado psicológico dessas pessoas se torna muito afetado e elas podem desenvolver uma série de transtornos, como: pânico, ansiedade, depressão, estresse pós-traumático e até mesmo fobia social.
Caso esses problemas não sejam levados a sério e tratados, consequências ainda mais graves podem surgir.
Além disso, as consequências do bullying também podem afetar o físico das pessoas. O nervosismo e o estresse, por exemplo, são capazes de causar palpitações, dores de cabeça, tensão, problemas de concentração, problemas gástricos e intestinais, insônia e muitos outros.
Momentos nos quais o bullying foi longe demais
As consequências a longo prazo do bullying não são os únicos motivos de preocupação. Muitas vezes, esse tipo de violência vai longe demais e é possível observar o seu resultado de forma imediata.
Em 2018, por exemplo, uma vítima de bullying de apenas 14 anos foi agredida por duas garotas no final da aula. O caso aconteceu na Bahia, na Escola Municipal Clélia das Graças Figueredo Pinto, e a motivação teria sido a denúncia do bullying, reforçando a importância de ser capaz de identificar esse tipo de problema e interferir antes que ele vá longe demais.
Infelizmente, a situação pode se tornar tão grave que resulta na perda de vidas. Em 2012, por exemplo, Cade Poulos, de apenas 13 anos de idade, levou uma arma para a escola e tirou a própria vida em frente aos seus colegas. Ele foi motivado pelo bullying constante que sofria nas salas de aula.
O bullying pode, inclusive, motivar grandes tragédias, como o massacre de Realengo, em que um alvo de agressores invadiu a Escola Municipal Tasso da Silveira, em 2011, e atirou contra vários adolescentes, antes de tirar a própria vida.
Como combater o bullying?
Todos esses acidentes extremamente tristes e preocupantes mostram que combater o bullying é uma tarefa importante e imediata. Não é possível deixá-la para depois, principalmente quando ela está causando tantos problemas psicológicos e físicos.
Felizmente, ele pode ser realizado seguindo alguns passos: identificar a vítima, ajudá-la, identificar os bullys e tratá-los. Entenda mais sobre cada uma das etapas:
— Como identificar o alvo de bullying?
Seja pelo medo de seus agressores, causado pela intimidação feita por eles, ou simplesmente pela vergonha do acontecido, é muito comum que as vítimas de bullying não relatem a violência sofrida aos responsáveis. Porém isso não significa que é impossível identificá-los.
Na verdade, existem várias ações que indicam esse tipo de problema: perda de interesse pela escola ou pelos estudos, aparecimento de machucados misteriosos, isolamento dos amigos, tristeza, crises de choro, dor de cabeça, problemas gástricos e intestinais, perda ou quebra de objetos sem motivo aparente… Esses são apenas alguns exemplos.
— Como ajudá-lo?
Após a identificação do problema, antes de qualquer ação, é importante garantir a segurança da vítima. Ou seja, tomar ações para evitar a retaliação do bully é extremamente necessário.
Depois, é preciso apoiar e acolher a pessoa. Conversar com ela, entender o que aconteceu e incentivá-la a compartilhar os seus sentimentos é indispensável até mesmo para descobrir a melhor forma de lidar com ela e guiá-la pela jornada de recuperação. Nesse momento, contar com a presença de um psicólogo é muito indicado.
— Como identificar as pessoas que fazem bullying?
Identificar os autores do bullying pode ser mais complicado. Isso porque eles normalmente são bastante espertos, realizando suas agressões quando não há ninguém por perto e sendo bastante charmosos. Entretanto existem algumas ações típicas que você pode ficar de olho.
O fato de ele reagir de maneira exagerada e muito negativa quando é contrariado, por exemplo, é um grande indicador. Tentar utilizar a força física para fazer as suas vontades serem realizadas é outro ponto de atenção, assim como a dificuldade em perder. Aparecer com objetos misteriosos também é suspeito, já que ele pode estar roubando de sua vítima.
— Como tratar o bully?
Tratar o bully pode ser bastante complexo, afinal é comum ter a tendência a vê-los como vilões da história. Apesar de eles terem errado e, é claro, merecerem pagar pelos seus erros de acordo com a gravidade deles, entender suas motivações é muito importante para saber como tratá-los.
Muitas vezes, eles mesmos sofrem com algum tipo de violência, por isso sentem a necessidade de descontar a frustração em outras pessoas. Ter ao seu lado um especialista no assunto é indispensável para conseguir analisar a melhor forma de lidar com esse agressor.
Quebre esse ciclo
O bullying é uma das maiores violências que uma pessoa pode sofrer. E o pior de tudo é que ele pode ocorrer nos mais variados tipos de ambientes, inclusive naqueles em que ela deveria estar mais segura: escolas, escritórios e até mesmo as suas próprias casas.
Procurar entender mais sobre esse assunto é doloroso, principalmente quando é possível encontrar tantos casos que foram levados longe demais e resultaram em tragédias. Porém ler esse tipo de notícia é bom, pois abre os nossos olhos e nos impulsiona a agir.
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Quebrar esse ciclo depende de cada um de nós. Seja ajudando uma pessoa que você sabe que é vítima de bullying ou captando sinais de um potencial bully antes que ele evolua, cada um pode fazer a sua parte para garantir um mundo mais justo e menos violento.
Tudo depende da nossa vontade de fazer parte da transformação e da busca por um mundo melhor.
