O ser humano não possui um padrão definido de personalidade nem de modos de abordar a sua forma de viver. Há uns anos li um texto interessante em que o autor comparava a nossa forma de estar, assim como as nossas ambições e o nosso desempenho, com os tipos de vida que frequentemente podemos encontrar no início da nossa história enquanto humanidade: pastores, agricultores e caçadores-recolectores.
Como podemos depreender dos modelos da história de vida da psicopatologia (por exemplo, Del Giudice, 2016), algumas desordens estão associadas ao fim rápido ou ao fim lento da estratégia da história de vida. Traços sombrios da tríade psicopatia, narcisismo e maquiavélico seriam mais caracteristicamente ligados ao fim rápido (início da puberdade) da história da vida (tomada de riscos mais elevados, menos empatia). As pessoas com autismo seriam mais tipicamente encontradas no final lento do espectro (puberdade posterior, e são tipicamente filhos de pais que começaram a ter filhos relativamente tarde, o que levou à presunção equivocada de que o autismo se deve a mutações acumuladas).
Ora, fazendo a comparação dos três grupos pré-históricos com os exemplos apresentados no parágrafo anterior, os caçadores-recolectores seriam o extremo lento do espectro; os primeiros agricultores (que tiveram vidas mais duras) estavam localizados no meio; e os pastores, que possivelmente tiveram as vidas mais violentas, estavam posicionados no extremo rápido do espectro. Convém referir que quanto mais uma pessoa está fora da faixa da “normalidade” menos neurotípica ela é, e o risco de distúrbios mentais aumenta.
Se fizermos uma analogia direta com a nossa cultura, podemos dizer que grande parte de nós somos agricultores, escolhendo uma vida de compromisso com a rotina, tendo como objetivo último a produtividade e o estatuto. É também comum afirmar que quem não se encontra nesse grupo raramente tende a tentar entrar nele e querer um emprego que seja apresentado nesses moldes. Por norma, pessoas que não se encaixam nesse tipo de rotina costumam ficar aborrecidas e deprimidas quando são a ela sujeitas. E aí vemos o surgimento do tipo “pastor”, ou seja, pessoas que têm a necessidade de criar algo mediante as suas necessidades e a sua conceção de vida, sendo normalmente os próprios patrões. Por último, os caçadores-recolectores buscam frequentemente empregos como criadores de software, professores universitários ou empregos sociais ou criam realmente algo único que lhes convém.
Tendo já o cenário montado, podemos indagar que o grupo dos agricultores é o mais consciencioso e domina as regras sociais, aceitando e respeitando. É o grupo da serotonina. Todos os outros inseridos nos dois grupos restantes têm mais propensão a algum desvio e perturbações mentais, exatamente porque a sua vida não é tão linear, e surgem muito mais dificuldades, que vão desde rendimentos mais baixos e estatuto inferior até menos aceitáveis, ao ponto de se sentirem ou de se tornarem proscritos.
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Podemos depreender que pessoas que não se reveem num estilo mais sóbrio de vida, que se tornam disfuncionais em relação à maioria da sociedade, ou seja, mentes que não estejam calibradas para o foco constante que a serotonina proporciona têm muito mais chances de sofrer de depressão, mudanças no sono, dor crônica, questões de memória ou aprendizagem, ansiedade, esquizofrenia, problemas com o relógio interno do corpo e problemas de apetite.