Saúde Mental

Neurotipicidade, normalidade e psicopatologia

Médico apontando para um desenho de um cérebro que se encontra na parede
Khakimullin Aleksandr / Shutterstock
Escrito por Fabiano de Abreu

O ser humano não possui um padrão definido de personalidade nem de modos de abordar a sua forma de viver. Há uns anos li um texto interessante em que o autor comparava a nossa forma de estar, assim como as nossas ambições e o nosso desempenho, com os tipos de vida que frequentemente podemos encontrar no início da nossa história enquanto humanidade: pastores, agricultores e caçadores-recolectores.

Como podemos depreender dos modelos da história de vida da psicopatologia (por exemplo, Del Giudice, 2016), algumas desordens estão associadas ao fim rápido ou ao fim lento da estratégia da história de vida. Traços sombrios da tríade psicopatia, narcisismo e maquiavélico seriam mais caracteristicamente ligados ao fim rápido (início da puberdade) da história da vida (tomada de riscos mais elevados, menos empatia). As pessoas com autismo seriam mais tipicamente encontradas no final lento do espectro (puberdade posterior, e são tipicamente filhos de pais que começaram a ter filhos relativamente tarde, o que levou à presunção equivocada de que o autismo se deve a mutações acumuladas).

Ora, fazendo a comparação dos três grupos pré-históricos com os exemplos apresentados no parágrafo anterior, os caçadores-recolectores seriam o extremo lento do espectro; os primeiros agricultores (que tiveram vidas mais duras) estavam localizados no meio; e os pastores, que possivelmente tiveram as vidas mais violentas, estavam posicionados no extremo rápido do espectro. Convém referir que quanto mais uma pessoa está fora da faixa da “normalidade” menos neurotípica ela é, e o risco de distúrbios mentais aumenta.

Desenho de uma cabeça com o cérebro em relevo e pedaços de quebra cabeça em volta.
atlascompany / Freepik

Se fizermos uma analogia direta com a nossa cultura, podemos dizer que grande parte de nós somos agricultores, escolhendo uma vida de compromisso com a rotina, tendo como objetivo último a produtividade e o estatuto. É também comum afirmar que quem não se encontra nesse grupo raramente tende a tentar entrar nele e querer um emprego que seja apresentado nesses moldes. Por norma, pessoas que não se encaixam nesse tipo de rotina costumam ficar aborrecidas e deprimidas quando são a ela sujeitas. E aí vemos o surgimento do tipo “pastor”, ou seja, pessoas que têm a necessidade de criar algo mediante as suas necessidades e a sua conceção de vida, sendo normalmente os próprios patrões. Por último, os caçadores-recolectores buscam frequentemente empregos como criadores de software, professores universitários ou empregos sociais ou criam realmente algo único que lhes convém.

Tendo já o cenário montado, podemos indagar que o grupo dos agricultores é o mais consciencioso e domina as regras sociais, aceitando e respeitando. É o grupo da serotonina. Todos os outros inseridos nos dois grupos restantes têm mais propensão a algum desvio e perturbações mentais, exatamente porque a sua vida não é tão linear, e surgem muito mais dificuldades, que vão desde rendimentos mais baixos e estatuto inferior até menos aceitáveis, ao ponto de se sentirem ou de se tornarem proscritos.

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Podemos depreender que pessoas que não se reveem num estilo mais sóbrio de vida, que se tornam disfuncionais em relação à maioria da sociedade, ou seja, mentes que não estejam calibradas para o foco constante que a serotonina proporciona têm muito mais chances de sofrer de depressão, mudanças no sono, dor crônica, questões de memória ou aprendizagem, ansiedade, esquizofrenia, problemas com o relógio interno do corpo e problemas de apetite.

Sobre o autor

Fabiano de Abreu

Fabiano de Abreu Rodrigues é um jornalista, psicanalista, neuropsicanalista, empresário, escritor, filósofo, poeta e especialista em neurociência cognitiva e comportamental, neuroplasticidade, psicopedagogia e psicologia positiva.

Pós PhD em Neurociências e biólogo membro das principais sociedades científicas como SFN - Society for Neuroscience nos Estados Unidos, Sigma XI, sociedade científica onde os membros precisam ser convidados e que conta com mais de 200 prêmios Nobel e a RSB - Royal Society of Biology, maior sociedade de biologia sediada no Reuno Unido.

É membro de 10 sociedades de alto QI, entre elas a Mensa, Intertel, ISPE, Triple Nine Society, coordenador Intertel Brazil, diretor internacional da IIS Society e presidente da ISI e ePiq society, todas sociedades restritas para pessoas com alto QI comprovados em testes supervisionados. Criou o primeiro relatório genético que estima a pontuação de QI através de teste de DNA e o projeto GIP - Genetic Intelligence Project com estudos genéticos e psicológicos sobre alto QI com voluntários.

Autor de mais de 50 estudos sobre inteligência, foi voluntário em testes de QI supervisionados, testes genéticos de inteligência e estudo de neuroimagem já que atingiu a pontuação máxima em mais de um teste de QI em mais de um país corroborando com os demais resultados genéticos e de neuroimagem.

Proprietário da agência de comunicação e mídia social MF Press Global, é também um correspondente e colaborador de várias revistas, sites de notícias e jornais de grande repercussão nacional e internacional.

Atualmente detém o prêmio do jornalista que mais criou personagens na história da imprensa brasileira e internacional, reconhecido por grandes nomes do jornalismo em diversos países. Como filósofo, criou um novo conceito que chamou de poemas-filosóficos para escolas do governo de Minas Gerais no Brasil.

Lançou os livros “Viver Pode Não Ser Tão Ruim”, “Como Se Tornar Uma Celebridade”, “7 Pecados Capitais Que a Filosofia Explica” no Brasil, Angola, Paraguai e Portugal. Membro da Mensa, associação de pessoas mais inteligentes do mundo, Fabiano foi constatado com o QI percentil 99, sendo considerado um dos maiores do mundo.

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