“[…] que minha solidão me sirva de companhia. Que eu tenha a coragem de me enfrentar. Que eu saiba ficar com o nada e mesmo assim me sentir como se estivesse plena de tudo”.
Clarice Lispector
Meu corajoso coração transborda de alegria quando ficamos a sós. Solidão? Que nada… Solitude. Plenitude… Plena e perfeitamente feliz, nesta linda busca empreendida pelos caminhos diversos, que irrompem ao longo da longa estrada da vida. E como é bonita essa estrada! Que maravilhosa a jornada. Rumo ao… NADA.
O que aparentemente é “nada”, na verdade se constitui no mais honesto “tudo”, pois o nada, na verdade, é a ausência do ego e traz como consequência a permanência ou o aparecimento somente do EU.
Logo que nascemos, deixamos de ser “nada”, então iniciamos um processo automático e, na maioria das vezes (até hoje, pelo menos), ininterrupto, no qual passamos a carregar cada vez mais coisas conosco. Coisas como, por exemplo, tudo aquilo que pensamos que somos, mas que, na verdade, não somos. Adereços e etiquetas que nos identificam e apresentam apenas um aspecto superficial acerca daquilo que realmente representa a verdade.
Fernando Pessoa nos deu a dica, tempos atrás:
“Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo”Uma linda canção da banda Engenheiros do Hawaii já dizia: “Na verdade NADA, é uma palavra esperando… Tradução”. Enfrentar, ou melhor, se deleitar com a solitude, nos permite iniciar a mais maravilhosa das jornadas que um ser humano pode vivenciar enquanto transita por este lindo planeta. A tradução de si mesmo.
Tradução que começa a acontecer quando aprendemos a nos desapegar e nos desprender de todos os adjetivos, rótulos, etiquetas e nomenclaturas com as quais fomos nos identificando ao longo do tempo.
Quem sou eu? Quem é você?
Tais questões somente podem ser respondidas quando nos permitimos encarar a solidão, para assim, finalmente, conseguirmos entender quanto deleite a solitude pode proporcionar. É no silêncio divino, que surge quando estamos conectados com nossas profundezas, que podemos buscar a libertação dos falsos selos e pesos que foram sendo emaranhados a nós durante a vida.
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Parafraseando Sócrates, digo: enfrenta-te a ti mesmo!
Medo? Não mais. Coragem! Coragem, porque a plenitude e a felicidade verdadeiras não se encontram em qualquer outro lugar que não seja em nosso próprio coração.
Fabio Pratali