Continuando a analisar as transformações da Humanidade através do tempo – e como estas mudaram também a visão sobre a morte – vamos resumir os períodos que se seguiram à Idade Média: a Renascença e o Iluminismo.
A Renascença (ou “Renascimento”) é o período que se segue após a Idade Média, aproximadamente entre fins do século XIV e início do século XVII. O humanismo é um dos principais valores cultivados neste período: é valorizada a razão e análise individuais, ao contrário do período medieval (onde o importante era a autoridade do passado, principalmente ligada à Igreja). O humanismo afirma a dignidade do homem e o torna investigador da natureza. O ser humano, não mais Deus, é o centro do mundo – ainda que a Igreja ainda dominasse a sociedade e procurasse glorificar a obra de Deus exaltando a perfeição humana.
Essa característica contraditória de progresso, por um lado, e apego às tradições cristãs medievais por outro, pode ser notada numa das maiores obras da literatura, a Divina Comédia, escrita pelo italiano Dante Alighieri. Nesta obra, o autor descreve uma viagem entre os reinos espirituais (Inferno, Purgatório e Paraíso) refletindo muito as noções correntes na época sobre a morte e a vida além-túmulo.
O desenvolvimento de uma nova atitude perante a vida ia deixando para trás a espiritualidade excessiva da época medieval e via o mundo material, com suas belezas, como um local a ser desfrutado, a ênfase passava a ser agora a experiência individual e as diversas possibilidades latentes do homem, com a plena expressão de suas faculdades espirituais, morais e físicas. A Antiguidade Clássica, vista como uma época de busca da perfeição em todas as formas, é retomada nas artes e na cultura.
Na religião, a mudança foi assinalada pela busca de explicações racionais para os fenômenos da natureza.
O desenvolvimento das ciências impulsionou esta mudança. O mundo não deveria ser renegado – pelo contrário, deveria ser investigado e compreendido – e a salvação poderia ser obtida também através do serviço público e o embelezamento das cidades e igrejas, além da prática de outras ações virtuosas.
O Iluminismo foi um movimento cultural de elite na Europa, durante o século XVIII, que procurou mobilizar o poder da razão a fim de reformar a sociedade e o conhecimento, até então ainda fortemente influenciado pela tradição medieval. A natureza deveria ser conhecida para ser útil ao homem e ao progresso. Ficou mais evidente a oposição entre fé e intelecto.
O Iluminismo exerceu uma vasta influência sobre a vida política e intelectual da maioria dos países ocidentais, culminando em profundas transformações políticas e redução da influência de instituições hierárquicas, tais como a nobreza e a Igreja.
Aos poucos, o materialismo e o racionalismo passaram a ser mais valiosos do que aquilo que é natural e espiritual, incluindo a morte, encarada como algo vulgar. Os iluministas admitiam que os seres humanos pudessem tornar este mundo um lugar melhor – mediante a introspecção, o livre exercício das capacidades humanas e o engajamento político-social.
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O conhecimento racional e crítico deve ser aplicado a todos os campos do mundo humano, contribuindo para o progresso e a superação das superstições herdadas da Idade Média, bem como das ideologias tradicionais – especialmente a ideologia cristã. Assim, a morte começou a ser encarada como um dos vários fenômenos físicos naturais.
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