Comportamento Consciência Aplicada Toda forma de amor

Lesbofobia: Desconstruindo preconceitos e promovendo a igualdade

Imagem de uma mulher em um fundo verde com uma roupa branca e um arco-iris desenhado, fazendo sinal de pare com a mão
golubovy de Getty Images/ Canva
Escrito por Eu Sem Fronteiras

Para uma mulher lésbica, o cotidiano pode ser mais complexo do que parece. Além de enfrentar preconceitos quanto a seu gênero, ela também precisa lidar com a discriminação contra sua orientação sexual. Neste artigo, descubra o que é a lesbofobia e como deve ser combatida.

A lesbofobia é constantemente vivenciada pelas mulheres lésbicas. Nas ruas, no trabalho ou até mesmo em casa. Muitas vivem rodeadas pela hostilidade e pelo desmerecimento, simplesmente por sua orientação sexual. Mas você conhece o significado da lesbofobia? Sabe quais efeitos ela pode causar na vida de alguém?

Em primeiro lugar, conhecer o conceito é muito importante para contribuir para a conscientização e luta contra a discriminação que mulheres lésbicas sofrem diariamente. Não importa qual é o seu gênero, identidade ou orientação sexual: não é possível fechar os olhos para essa realidade.

Neste artigo, vamos destrinchar o conceito de lesbofobia, entendendo como ele afeta essa parcela da comunidade LGBTQIA+. Também vamos discutir formas de combater a discriminação que mina autoestimas, fere e até mata. Está preparado para essa discussão? Então vamos em frente!

O que é lesbofobia?

Preconceito e ódio. Esses conceitos são intrínsecos à lesbofobia, que se define como a rejeição e discriminação direcionadas às mulheres lésbicas. Mas é importante frisar que não se trata de atacar apenas sexualidade dessas mulheres: a lesbofobia também é atravessada pela misoginia.

A ideia de mulheres fugindo às regras da sociedade patriarcal sempre sofreu repúdio. Quando uma mulher ousa amar outra mulher, então, a discriminação toma uma forma diferente. Pois essas mulheres não respondem ao único modelo de sexualidade culturalmente aceito. Ou seja, sequer no tocante às relações afetivas e/ou sexuais, as mulheres lésbicas são independentes dos homens.

Olhando por esse lado, já se derruba a ideia de que relações lésbicas são mais aceitas do que relações entre dois homens. Na verdade, muitas vezes trata-se unicamente de uma fetichização e objetificação da mulher lésbica em prol do prazer masculino. “Posso participar?”, é uma clássica pergunta que toda mulher lésbica está sujeita a ouvir de um homem.

Atitudes como essa, sejam sutis ou mais agressivas, colaboram para o apagamento da sexualidade lésbica. Por isso, é tão importante que todos entendam a dimensão dessa realidade. A partir desse pontapé, é possível trabalhar para desconstruir preconceitos e promover a igualdade dessa parcela da população dentro da sociedade.

Impactos da lesbofobia

A lesbofobia começa no campo das ideias, mas sempre parte para a prática de algum modo. Ela se expressa desde as formas mais sutis até as mais agressivas. Está em frases como “É só uma fase”, “Quem é o homem da relação?”, “Só diz que é lésbica porque não transou com o homem certo”.

Se você não é lésbica, talvez não entenda a dimensão dessas palavras. Mas toda lésbica sabe quão forte é o impacto da lesbofobia em sua vida. E sabe, inclusive, que essa discriminação é capaz de alcançar níveis ainda mais violentos, como veremos a seguir.

Agressões físicas e psicológicas

Imagem de um homem ameaçando dar um soco em uma mulher
Kaspars Grinvalds/ Canva

As violências psicológicas decorrentes da lesbofobia englobam situações como ameaças, chantagens, humilhações, silenciamento, proibições, críticas e cobranças pela mudança de atitude. Um exemplo bem cru é a humilhação sofrida por mulheres lésbicas que não performam feminilidade. Elas são comparadas a homens e têm sua existência questionada.

Pensando em um outro exemplo, podemos falar daquelas que sofrem a ameaça de terem sua orientação sexual exposta. Elas ficam entre a pressão de se sujeitar à pessoa ou sofrer consequências por se assumir à força, nisso podendo ser expostas a outros tipos de violências.

As agressões físicas também são comuns na lesbofobia. Várias mulheres lésbicas relatam já terem apanhado dentro de casa, como punição de seus familiares, ou na rua, rechaçadas ao expressarem quem são. Ainda hoje muitas temem andar na rua de mãos dadas com sua parceira. Isso porque ainda estão sujeitas a sofrer uma agressão física gratuita apenas por esse simples ato.

Mas essa realidade cruel pode ir mais além: em alguns casos, mulheres lésbicas são submetidas a mutilações como forma de punição. Ocorrem decepamentos dos seios ou retirada do clitóris, por exemplo.

Isso quando as agressões físicas não culminam em assassinato. O Dossiê sobre o Lesbocídio no Brasil, realizado entre 2014 e 2017, mostra que só em 2017 foram registradas 54 assassinatos motivados por lesbofobia, estatística que cresceu 237% em comparação a 2014.

Estupro corretivo

Além de tudo que já citamos, a lesbofobia pode culminar em outra violência física extremamente cruel: o estupro corretivo. Ele consiste na violência sexual com objetivo de “corrigir” a sexualidade da mulher lésbica. Lembra daquela frase? “Só diz que é lésbica porque não transou com o homem certo”. Ela está relacionada com a mesma premissa do estupro corretivo.

No Brasil, não temos dados suficientes para entender a dimensão do estupro corretivo na vida de mulheres lésbicas. No entanto, em 2022 foi realizado o primeiro LesboCenso Nacional: Mapeamento de Vivências Lésbicas no Brasil, que traz alguns dados sobre o tema.

Nessa pesquisa, que ouviu 22 mulheres lésbicas – das quais 4,5% relataram já ter sofrido violência sexual –, as violências que se destacaram foram: 39% disseram ter sido forçadas a contato sexual sem penetração, enquanto 25% tiveram relações sexuais com penetração contra sua vontade.

Consequências para as lésbicas

Além do sofrimento vivido no momento, a lesbofobia traz consequências a longo prazo para as vítimas. E algumas delas podem ser duradouras. Confira, a seguir, três das consequências mais comuns.

Ansiedade

Imagine viver com medo de ser agredida na rua ao caminhar com sua parceira, ou de ser rejeitada por sua família e excluída nos grupos sociais que frequenta. Ou, até, de perder o emprego caso descubram que você é lésbica.

Para a mulher lésbica, é isso o que a lesbofobia pode causar: uma constante sensação de perigo. E essa vivência terrível pode desencadear um transtorno de ansiedade. Os sintomas que podem aparecer são: tensão muscular, palpitações, insônia e até crises ansiosas. E esse quadro pode afetar tanto a saúde física quanto mental dessas mulheres.

Tudo sobre Lesbianidade:

Isolamento social

Imagem de uma mulher encostada em uma parede e sentada no chão, chorando e isolada
Artem_Furman de Getty Images/ Canva

Se você vive em um ambiente hostil, não é estranho que arranje formas de se proteger. Para a mulher lésbica em situação de lesbofobia, uma dessas formas pode ser o isolamento social.

A fim de evitar o contato com pessoas intolerantes, ela pode se privar de frequentar determinados locais onde a diversidade sexual não é respeitada – seja de forma visível ou implícita. Além disso, por medo do julgamento, do ódio e da rejeição, pode não compartilhar sua orientação sexual até com amigos, familiares e colegas de trabalho, reprimindo sua essência.

Esse isolamento social traz efeitos prejudiciais para a saúde mental, visto que o ser humano é naturalmente social e necessita de conexão e da sensação de pertencimento. Quando falta esse apoio, a solidão pode dominar, piorando ou levando a quadros de depressão e ansiedade, além de impedir o desenvolvimento de relacionamentos saudáveis.

Depressão

O constante ataque sofrido por ser quem você é pode culminar em quadros depressivos. Afinal, a discriminação tende a minar a autoestima, gerando sentimentos de desvalorização e desesperança.

A depressão se manifesta em diferentes sintomas, variando de pessoa para pessoa, mas algumas possibilidades são: falta de energia, perda de interesse em atividades prazerosas, pensamentos negativos recorrentes e alterações de sono e de apetite.

Em alguns casos, o quadro pode ficar tão grave que surgem as ideações suicidas como uma forma de eliminar o sofrimento. O Dossiê sobre o Lesbocídio no Brasil, inclusive, levantou um dado importante: só em 2017 foram registrados 19 casos de suicídio de mulheres lésbicas, número em crescente desde 2014, quando eram registrados 2 casos.

Formas de promover a igualdade

Seja você uma mulher lésbica ou não, é um dever cidadão promover a igualdade. E isso pode ser feito no dia a dia e de formas simples. Veja, a seguir, algumas delas.

Empatia

Não é preciso ser lésbica para ser minimamente tocada pelas dificuldades dessas mulheres. Por meio da empatia, é possível adotar uma postura de ouvinte e apoiadora. Colocar-se no lugar delas é essencial para entender e abraçar sua dor. Assim, pode ser feito o acolhimento, quando necessário, formando uma rede de apoio para a comunidade lésbica.

Visibilidade lésbica

Imagem de duas mulheres atrás de uma bandeira LGBTQIA+ fazendo coração com as mãos
Pavel Danilyuk de Pexels/ Canva

Promover a visibilidade lésbica é outra atitude poderosa para combater a lesbofobia. Reconhecendo e valorizando as contribuições de mulheres lésbicas para a sociedade, também trabalhamos para desconstruir os estereótipos e preconceitos que as rondam.

Isso pode ser feito de formas muito simples: ouvir mulheres lésbicas sobre suas lutas e suas vitórias; disseminar a conscientização em seus grupos sociais e educar seus filhos sobre o tema; incentivar a representatividade de lésbicas nos meios de comunicação; apoiar grupos e organizações LGBTQIA+; participar de eventos e manifestações abertos a todos, contribuindo para o debate e fortalecimento da causa; consumir conteúdos, produtos e apoiar empreendedoras lésbicas.

Denúncia

E, é claro, a denúncia de casos de lesbofobia é essencial para combater a prática. Caso você presencie alguma violência física, psicológica ou privação de direitos de mulheres lésbicas, denuncie.

Enquanto as pessoas se sentirem livres para alimentar seus preconceitos, a lesbofobia tende a crescer. E o que queremos é que a conscientização e a responsabilização sejam cada vez mais fortes contra a discriminação.

Você também pode gostar

Com tudo isso em mente, podemos construir uma sociedade mais igualitária e respeitosa quanto à diversidade de orientações sexuais. Lésbicas merecem respeito, merecem viver sem medo e ter as mesmas oportunidades que qualquer outra pessoa. Então espalhe essa importante discussão: compartilhe o artigo e conscientize mais pessoas ao seu redor.

Sobre o autor

Eu Sem Fronteiras

O Eu Sem Fronteiras conta com uma equipe de jornalistas e profissionais de comunicação empenhados em trazer sempre informações atualizadas. Aqui você não encontrará textos copiados de outros sites. Nossa proposta é a de propagar o bem sempre, respeitando os direitos alheios.

"O que a gente não quer para nós, não desejamos aos outros"

Sejam Bem-vindos!

Torne-se também um colunista. Envie um e-mail para colunistas@eusemfronteiras.com.br