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A descriminalização do funk, como quebra de barreiras do preconceito e racismo

Pessoas negras dançando
RODNAE Productions / Pexels / Canva

O funk é um ritmo musical que surgiu nas periferias brasileiras. Por esse motivo, é alvo de racismo e de elitismo. Está na hora de mudar esse cenário. No artigo a seguir, entenda como a descriminalização do funk pode quebrar as barreiras impostas aos funkeiros e aos ouvintes desse gênero.

Há alguns dias eu estava assistindo reels no Instagram e cheguei até a página do Baile da DZ7, que fica localizado na Zona Sul da Capital de São Paulo, em Paraisópolis. Esse baile existe há quase 20 anos e é um baile funk. Entrei na página e comecei a ler os comentários sobre os vídeos e posts. Notei que, em sua maioria, eram comentários pejorativos como: “Não devem ter nem terminado o ensino médio”, “Não devem ter diploma da faculdade” etc.

Comecei a pensar como a cultura do funk é criminalizada por contar a história real que a comunidade vive, assim como o rap, hip-hop e o atual trap. Em seus anos de atuação, o Baile da DZ7 promove a economia local da comunidade, incentivando comerciantes locais a ofertarem seus produtos, como roupas, assessórios e bebidas, para a própria comunidade. Há também ações sociais promovidas em datas festivas, como Natal e Dia das Crianças, além de o baile ter desempenhado um papel importante na pandemia da Covid-19, distribuindo e arrecadando cestas básicas para a comunidade.

Fonte: https://batalhafunk.com/12-anos-de-baile-da-dz7/

Mas, por que o funk brasileiro é tão criminalizado enquanto o funk norte-americano é considerado um sucesso?

Primeiro porque tudo que é produzido fora do país a sociedade considera melhor do que aquilo que é produzido aqui, diminuindo nossos esforços de criação e realização de novas tendências.

O funk surgiu na década de 1960 nos Estados Unidos. Na época o ritmo era derivado da soul music e consistia em uma batida mais leve, seguida de uma batida mais rápida, ritmo e blues. Um dos nomes mais conhecidos que revolucionou o mundo da música é James Brown. Assim como outros ritmos, o funk foi sofrendo modificações ao longo dos anos.

Chegando ao Brasil por volta dos anos 1980, acrescido de ritmo e blues estadunidenses, o funk brasileiro, mais precisamente o DJ Malboro, incluiu a música eletrônica a essas batidas, caracterizando assim um novo ritmo da música popular brasileira, o qual é um grande fenômeno hoje.

Homem tocando música eletrônica.
Ivan_Neru / Getty Images / Canva

Vale ressaltar que o funk chegou ao Brasil na elite, mas depois passou a ser tocado nas periferias e sofreu modificações. Como forma de manifestação das desigualdades e de exigência de direitos da população periférica e negra, hoje o funk é composto como uma forma de exaltar as conquistas da comunidade.
Isso incomoda muitas pessoas, uma vez que, além de abordar desigualdades, preconceito, racismo, mesmo com todas dificuldades e enfrentamentos, existem músicas sobre conquistas, lutas, rede de apoio, amor e afeto.

É importante ressaltar que o funk é música popular brasileira e compreender suas historicidade, bem como entender que o preconceito é um fenômeno social, o que me fez pensar em escrever este artigo. É preciso compreender que as pessoas que gostam de funk são julgadas e colocadas em um lugar de minorização, como se não tivessem conhecimento algum sobre seus deveres e direitos, quando na realidade pessoas escolarizadas também podem gostar de funk sem que isso interfira em seus conhecimentos e/ou formação.

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O funk é arte, cultura, história e resistência. Enquanto houver racismo estrutural e preconceito, não há como compreender sua narrativa.

Sobre o autor

Beatriz de Andrade Silva

Psicóloga Clínica, Supervisora Clínica, Escritora, Palestrante, Taróloga, Mestranda em Psicologia Social (PUC-SP), Especialista em Diversidade nas Organizações (PUC-SP), Pós-Graduada em Direitos Humanos, Responsabilidade Social e Cidadania Global (PUC-RS), Pós-Graduada em Psicologia e Desenvolvimento Infantil, Mentora de Carreira (FGV) e Pesquisadora das Relações Étnico-Raciais. Associada à ABPN - Associação Brasileira de Pesquisadores Negros.
Atuei por oito anos no mercado financeiro, na área de gestão de pessoas, com foco em talent acquisition, treinamento & desenvolvimento.

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