Sacudir: a forma correta de escrita é sacudir, de acordo com a língua portuguesa. Sacudir significa agitar(-se) em vários sentidos, forte e sucessivamente; fazer tremer, estremecer(-se); pôr em movimento; abanar ou mover, ora para um, ora para outro lado.
Eu diria que uma forte emoção tomou conta de mim quando passei por essa experiência. Doar-se, permitir-se, deixar-se ser cuidada e amparada: foi assim que me senti.
O som dos atabaques, as palmas, a energia da doação, a pureza das intenções. A quantidade de axés recebidos e doados. Como foi bom sentir-me amada.
Fazia algum tempo que eu não experimentava a sensação de desapego, de sentir-me leve e saciada com tão pouco. Em uma lista com menos de 10 itens, eu pude experimentar os cuidados e toda a magia daquele momento que me marcou tão intensamente.
Recomendações que antecederam esse momento de cuidado intenso também fizeram parte do preparo para esse esperado dia. Quando eu cheguei, parecia que um grande abraço já me esperava. Eu nem podia imaginar que outras pessoas também iriam compartilhar essa experiência única comigo. Na minha pequena ingenuidade, eu pensava que seria aquele um momento único e individual, como de fato fora, mas fiquei surpresa quando outros consulentes foram chegando com seus itens de descarrego.
Um a um, fomos sendo cuidados com o mesmo amor e passamos pelo mesmo processo de cura. Repetindo as palavras do “pai”, eu escutei, de uma forma tão simples e bonita: “Hoje começa um novo ciclo na sua vida! É hora de deixar para trás mágoas e tristezas. Sacudir é uma bênção. O sacudimento vai trazer boas energias, alívio, confiança. Vai fazer você se sentir mais forte e segura. Quando você perceber e olhar para trás, vai ver como as coisas vão mudar!”
Tanta confiança me fez sentir, no fundo da alma, o verdadeiro amor do próximo. Numa mistura de músicas, elementos naturais e reza, aquela energia foi tomando conta de mim, e eu fui sentindo várias sensações diferentes.
A primeira foi uma forte curiosidade. Pediram-me para fechar os olhos, mas eu podia sentir cada movimento fora e dentro de mim. As plantas que eram passadas em meu corpo e batidas no chão me traziam a sensação de que tudo de ruim estava sendo retirado de mim. Depois veio o calor das velas, que me encheu de acalento e confiança. Por último, e não menos impactante, veio aquele surpreendente banho de pipoca. Os montes de pipoca sendo raspados no meu corpo e jogados em cima da minha cabeça eram como uma limpeza profunda e uma chuva de bênçãos, principalmente na minha alma.
Aqueles “pontos” ao fundo, na reunião de pessoas que se doavam em amor, foi me emocionando profundamente.
O pai Abaloaê foi o que mais me emocionou. Pude enxergar, por meio da minha mediunidade, o seu profundo cuidado. Pude enxergar, mesmo com os olhos fechados, sua figura de amor e firmeza. Uma emoção tão gostosa. Por último, o fechamento com o círculo de pólvora. O medo e a ansiedade de estar ali, à mercê do calor daquele fogaréu, foram uma emoção tão intensa. Ao mesmo tempo que a gente se sente vulnerável, se sente protegido. É como se nada nem ninguém pudesse mais nos atingir. Você está ali, presa, e, ao mesmo tempo, livre e forte, sentindo todo aquele calor correr em volta de você. De repente, tudo se acaba.
Para finalizar, fui levada a um lugar reservado, onde minha roupa física foi “cortada” e um banho de ervas abre-caminhos, cheiroso e quentinho, me foi jogado pelo corpo. Uma massagem na aura; um carinho gostoso: sentir cada poro do meu corpo ser preenchido com aquela água bendita. Era como se a purificação daquele momento estivesse realmente “lavando minha alma”.
Ao me vestir, fui levada até a frente do congá, onde uma vela de sete dias foi acesa em oferenda, para agradecer e pedir tudo o que desejava meu coração. Uma emoção muito intensa tomou conta de mim. Percebi o quão pequena eu era, assim como grata e feliz. Pedir mesmo só a bênção de viver com paz e saúde.
Depois de alguns minutos, fui levada para uma sala reservada, onde, um tempo depois, meus companheiros de sacudimento foram chegando, um a um, tão assustados e acalentados quanto eu. Ali era como se o relógio tivesse parado, e somente eu e o relógio tivéssemos ficado naquele lugar e naquele tempo. Eu e eu mesma — essa foi a sensação. Pude ouvir as batidas do meu coração e sentir o sono reconfortante, depois de todo aquele processo.
Em alguns instantes, a sala foi se enchendo, e fomos sendo aconselhados em grupo pelo baiano. Vou chamá-lo carinhosamente, assim, de Z. P., para não revelar sua identidade. Um ser sábio e de luz. Ele veio, ficou alguns instantes a nos explicar o que eu já escrevi mais acima e depois despediu-se, num bonito ritual de canto e dança em grupo, em que cada um pôde doar-se um pouquinho e deixar sua contribuição. Em minutos, como em um passe de mágica, um a um foi se despedindo, e a sala foi ficando silenciosa e mais vazia.
Meu momento de ir embora também chegou. Eu me despedi de todos os que ainda ficaram, com um forte abraço de agradecimento e um “axé”, que ecoou dentro de mim como um verdadeiro “sacudimento”.
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Sou grata!
Essas são minhas palavras, por ora.
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