Autoconhecimento

Amor de pai

Escrito por Eu Sem Fronteiras

O mundo parece girar em torno das mães. Há vários sites dedicados a elas. Alimentação durante a gravidez, até quando dirigir, cuidados com saúde e beleza, como conciliar carreira e maternidade… Não faltam informações sobre a difícil e prazerosa arte de ser mãe. Existem até grupos de humor no Facebook que contam as peripécias da maternidade. E o que dizer do dia das mães? A comemoração teve início na Grécia antiga. A chegada da primavera, Rhea, a mãe de todos dos deuses era celebrada. No começo do século XVII, a Inglaterra dedicava o quarto domingo da Quaresma às mães das operárias do país. Após muita luta, em 1914, o presidente americano Woodrow Wilson determinou o segundo domingo de maio como o Dia Nacional das Mães em todos os estados. No Brasil, decreto do presidente Getúlio Vargas assinado em 1932 oficializou a data.

Mas, e os pais? Quase nada é falado deles, sobre eles e para eles. Cadê os sites voltados para ensiná-los o que a mulher pode ou não comer durante a gravidez? Que os ensinem a diferenciar as contrações e identificar o trabalho de parto? Que os ensinem a lidar com as cólicas e identificar os choros do bebê. Eles são vistos como meros coadjuvantes. O dia dos pais, por exemplo, não tem o mesmo peso. Aliás, você sabe como surgiu a data? Uma das origens está em 1909. A americana Sonora Louise Smart Dodd, filha do veterano da guerra civil, John Bruce Dodd ouviu um sermão homenageando as mães. Sonora quis celebrar a vida de seu pai, que ficou viúvo e criou os filhos sozinho. Em 1966, o presidente Lyndon Johnson decretou o terceiro domingo de junho como o dia dos pais. No Brasil, o publicitário Sylvio Bhering teve a ideia de dedicar um dia aos pais. O primeiro dia dos pais brasileiro foi em 14 de agosto de 1953, dia de São Joaquim, patriarca da família.

Curiosidade

No Brasil, a data foi mudada para segundo domingo de agosto. O motivo? Fins puramente comerciais. Tal modificação, portanto, torna o dia dos pais daqui diferente dos Estados Unidos e Europa.

O pai no ponto de vista bíblico

Na bíblia, o pai provia nas necessidades materiais, morais e espirituais do filho. Cabia a ele orientar, amparar e abençoar. O pai tinha que ser um exemplo para a família.

Por que os pais são vistos como coadjuvantes?

Mulheres com filhos pequenos sempre ouvem “o papai ajuda a cuidar do nenê?”. A frase já coloca sobre o pai o estereótipo cultural que cabe a mãe fazer o serviço “pesado” e a ele resta a função de dar uma “ajudinha”, sempre seguindo as orientações da mulher. É a lógica das cavernas que parece não mudar nunca. A fêmea fica em casa cuidando dos afazeres domésticos e dos filhotes enquanto o macho vai caçar. Ao final da caça, o macho brinca um pouquinho com os filhotes. A participação do pai na criação não deve se resumir a uma “ajudinha”. Ele precisa estar presente, chamar para si a responsabilidade de dividir com a mulher a missão de educar o filho. Mas, qual a importância do pai na criação? Qual o peso da figura masculina na formação de caráter e personalidade da criança?

A importância do amor de pai

Antigamente, o papel do pai era amparar a família, principalmente no aspecto financeiro. Demonstrações de carinho entre o chefe da família e os filhos eram desnecessárias. Felizmente isso mudou. Muitos homens entenderam sua importância na vida das crianças e para toda a família. A figura masculina possui enorme relevância. A criança precisa saber que tem papel especial na vida do pai. Atitudes simples, como se desligar do trabalho e, de coração aberto assistir um desenho, conversar sobre o dia do filho e contar uma história fortalecem a intimidade e o vínculo entre pais e filhos. Ao dedicar tempo aos filhos, a criança aprende que o carinho é um dos pilares para a harmonia em família, e com certeza repetirá esse modelo quando formar a sua.

O papel do pai no desenvolvimento da criança

O pai tem papel fundamental no desenvolvimento psicológico infantil. Uma criança rejeitada pelo pai é visivelmente insegura e ansiosa. Também é comum observarmos traços de hostilidade e agressividade. Essa instabilidade emocional pode durar a vida toda. Freud tratou desse assunto na obra “Leonardo da Vinci e uma lembrança infantil”. Nela, o psicanalista fez a seguinte afirmação “na maioria dos seres humanos, tanto hoje como nos tempos primitivos, a necessidade de se apoiar numa autoridade de qualquer espécie é tão imperativa que seu mundo desmorona se essa autoridade é ameaçada”.

O livro “Paternidade: um enfoque psicanalítico”, da psicanalista argentina Arminda Aberastury traz uma concisa relação entre a figura paterna e o amadurecimento psicológico infantil. Para Arminda, a presença do pai entre o seis e doze meses será marcante, apenas se existir contato físico entre ele e o filho. Esse contato exerce grande papel na formação do ego, elemento cuja função é introduzir a razão, planejamento e espera no comportamento humano.

A imagem paterna é associada à imposição de limites. A ausência do pai significa, portanto, que a balança está desequilibrada. Crianças obesas apresentam histórias de abandono paterno, afirma a psicóloga Maria Rosa Spinelli, da Associação Brasileira de Medicina Psicossomática (ABMP). Para especialistas da ABMP, a ausência paterna também contribui para o amadurecimento precoce da sexualidade das meninas. As que tiverem um relacionamento saudável nos cinco primeiros anos de vida entraram na puberdade mais tarde.

Pai e filhos

A figura paterna para os meninos serve de referência. A atitude do pai em relação às mulheres, por exemplo, pode ser um ótimo termômetro sobre a formação do caráter e da personalidade. Um menino que vê o pai tratar bem a mãe, respeitar os sentimentos femininos e dividir as tarefas domésticas aplicará esses conceitos com a mãe e com todas as mulheres que passarem por sua vida. Agora, um menino que assiste o pai agredir a mãe verbal e fisicamente pode seguir dois rumos, repetir a violência, ou ser um ferrenho defensor da igualdade de gêneros. O menino que cresceu sem o pai passa a sentir medo das mulheres. A criança passa a vê-las como indivíduos dignos de medo. Dessa forma, o homem tende a viver relacionamentos afetivos conturbados.

Pai e filhas

O trecho a seguir é uma citação do livro “Pais fortes, filhas fortes”, escrito pela pediatra Meg Meeker. A trecho também está presente no livro “Educando meninas” do psicólogo americano James Dobson. A citação diz muito sobre a relevância do pai na vida das meninas.

“Observei filhas conversarem com o pai. Quando você, pai, entra na sala, elas mudam. Tudo nelas muda: olhos, boca, gestos, linguagem corporal. Nenhuma filha permanece indiferente na presença do pai. Podem até ignorar a mãe, mas não você. Ficam radiantes, ou choram. Observam você atentamente.  

Apegam-se a cada palavra sua. Esperam receber sua atenção e a aguardam com frustração — ou desespero. Precisam de um gesto de aprovação, de um aceno da cabeça indicando incentivo, ou mesmo de contato visual, para saberem que você se importa e está disposto a ajudar”.

O pai tem enorme influência sobre as meninas. O comportamento dele será a base para os relacionamentos delas. Meninas que veem o pai tratar a mãe com respeito, dificilmente terá relações emocionalmente negativas. Mas, quando veem o pai agredir a mãe, são grandes as chances de se envolver com homens violentos e repetir o padrão da mãe. A ausência paterna faz as filhas amarem homens que não apreciam envolvimentos amorosos, e a busca por amor a qualquer custo, mesmo que isso custe a anulação de sua essência.

A presença do pai é fundamental para a formação do caráter e da personalidade. Para ele conseguir passar valores positivos aos filhos, é necessário algumas habilidades. Vamos conferir quais são elas?

Seja presente

Parece óbvio, mas a coisa não é tão simples quanto parece. Estar junto não é apenas compartilhar o mesmo espaço.

Seja um bom exemplo

Você diz que é feio maltratar as mulheres, mas, faz isso com a mãe do seu filho. Assim fica difícil transmitir credibilidade. Os filhos seguem os exemplos, não as palavras.

Dialogue

Para os homens é um pouco difícil. Porém, conversar com os filhos faz parte de qualquer relação. Pergunte sobre o dia, sobre a escola, se estão com dificuldade em alguma matéria…

Desenvolva uma relação afetiva

Atenção, cuidado e carinho precisam ser cultivados todos os dias. Contato físico é fundamental para o afeto. Pegar nas mãos e abraçar faz um bem danado a pais e filhos.

Ensine

Transmita seus conhecimentos. Ensinar técnicas para fazer palavras cruzadas, cozinhar, tocar um instrumento… Ensinar seu filho é um momento para trocar experiências. Você com certeza aprenderá alguma coisa com o pequeno.

Elogie

Seu filho está aprendendo a ler e escrever? Elogie. Conseguiu andar de bicicleta sem as rodinhas? Elogie. Vai bem na escola? Elogie. Elogiar a boa performance dos filhos os deixará mais seguros em relação as suas habilidades e os farão a se aprimorar mais.

Permissividade não!

Fazer todas as vontades dos filhos é roubada. Seja firme e não colabore para a formação de uma personalidade mimada e arrogante.

Não seja autoritário

Tão grave quanto ser permissivo. O pai precisa ter autoridade, algo bem diferente ao autoritarismo. Este é um comportamento dos controladores. Diga o que não pode ser feito e seus motivos.

Seja verdadeiro

Por mais que seja difícil, fale a verdade sempre. Sabe a o ditado “é melhor uma verdade dolorida, do que uma mentira sofrida”? Quando você fala a verdade, o respeito dos filhos pelos pais só aumenta.

Não prometa o que não pode cumprir

Super relacionado com o item anterior. Não prometa um passeio ou um brinquedo se a família está com pouco dinheiro. Seja sincero, diga que a situação está difícil, mas, que o passeio ou brinquedo sairão assim que as coisas melhorarem.

Peça desculpas

Ninguém é perfeito. Quando errar, peça desculpas ao seu filho. Ele vai crescer vendo que ninguém está livre de errar, mas, que um sincero pedido de desculpas tem muito valor.

Para turbinar os momentos entre pais e filhos

Falamos que a convivência entre pais e filhos deve ser cultivada. Conversar e assistir filmes são ótimas ideias. Quer outras sugestões? Confira nossas dicas.

  • Brincar de bolinha de gude;
  • Bater figurinhas;
  • Fazer e soltar pipas (em lugar longe dos fios de eletricidade);
  • Brincar de polícia e ladrão;
  • Mímica;
  • Boliche.

O pai é visto como um coadjuvante, porém, sua presença é importantíssima. A figura paterna é valiosa para a formação do caráter e da personalidade. O pai deve estar presente desde a gravidez, conversando com o bebê para começar a fortalecer os vínculos desde a gestação. Após o nascimento, pegar no colo, trocar fraldas e dar banho devem ser atitudes naturais, e não meras “ajudas”.

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O papel do pai é semelhante ao da mulher. Ele precisa conciliar a rotina de homem, pai e profissional. Ele não deve misturar trabalho e vida em família. Brincar com os filhos enquanto faz os relatórios não é proveitoso para ninguém. O pai não executa direito seu trabalho, nem consegue estabelecer vínculos sadios com as crianças. Outro grande desafio é conciliar autoridade e ternura. Os homens, geralmente são educados para não expressarem suas emoções. Mas, o tempo das cavernas acabou.

O amor de pai é uma pedra preciosa que deve ser cuidada. Ela pode ficar opaca ou se quebrar, tudo depende do que pais e filhos fazem no dia a dia. Pais, não percam nenhuma oportunidade de estarem junto com seus filhos, de corpo e alma. A convivência terá momentos difíceis, com certeza virá o famoso choque de gerações, entretanto, o verdadeiro amor entre pais e filhos supera qualquer dificuldade.

Pouco é falado sobre os pais. Isso é uma tremenda injustiça. Nosso pai é nosso primeiro heroi. Não aqueles que podem voar, ficar invisíveis ou congelar os objetos. Nosso pai é o heroi da vida real, aquele que enfrenta trânsito, trabalha e defende a honestidade em todos os momentos.

Não dá para terminar esse artigo sem o velho slogan “não basta ser pai, tem que participar”. É clichê, porém, resume bem esse assunto.


Texto escrito por Sumaia Santana da Equipe Eu Sem Fronteiras

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