Reflexões do editor

Uma época que desloca

Festas fim de ano
Ziga Plahutar de Getty Images Signature / Canva
Escrito por Nina Veiga

Você já teve a sensação de que a época compreendida entre os meses de dezembro e janeiro te deslocava da sua vida cotidiana? Isso acontece porque esse período de festas nos tira de algumas obrigações diárias, nos dando espaço para sonhar, planejar e relaxar. Descubra tudo que esse período pode trazer para sua vida.

Na época do ano que vai do final de novembro ao início de janeiro, a atenção é deslocada das atribulações do dia a dia para as expectativas e projetos futuros. Há uma intensificação da confiança e uma sensação de abertura, de possibilidade. A construção diária do sentido da vida é dilatada. Entra em cena o questionamento, a pergunta, a avaliação.

Novos sentidos são inventados e a existência passa a ganhar cores outras. Uma oportunidade de reconfigurar o mesmo, que vitaliza e aumenta nossa potência de existir. Temos de aproveitar cada oportunidade que surja para nos reinventar, para conquistar força e esperança de viver. Em tempos sombrios, como o que vivemos, isso não é fácil, mas é justamente quando é mais premente.

A instituição desse hiato temporal, entre as datas do calendário cristão, Natal e Reis, quando repetida anualmente, nos fortalece e pode enriquecer nossa experiência de vida. Alguém poderia dizer, mas todo ano é assim. Ao que eu responderia: que bom. É exatamente a repetição que pode fortalecer. Em uma sociedade que exalta o inédito, que busca sempre o diferente, o diverso, fica difícil compreender o poder ativador do repetido.

Mulher pensando
Los Muertos Crew de Pexels / Canva

O que se sente na repetição? Na criança, por exemplo, a repetição pode ampliar a percepção, pode acalmar, pode dar a sensação de continuidade. Não é à toa que os pequenos adoram as repetições, são capazes de ouvir a mesma história inúmeras vezes.

Para nós, adultos, a repetição vivifica, fortalece nossa capacidade de enfrentamento e, surpresa, aumenta nossa inventividade. É na repetição do mesmo que o novo se dá, e esse novo, que não é uma forma nova, mas uma intensidade do persistir, é capaz de vivificar. Parece que a criatividade e a inventividade estão sempre ligadas ao inédito, ao novo, mas essa visão é apenas superficial.

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Quando repetimos ampliamos a observação e isso possibilita que outra visão se dê no mesmo, intensificando qualidades inventivas e criativas. A potência da variação do mesmo é um tema complexo para entender com o pensamento linear, mas é facilmente sentido quando as luzes do Natal começam a brilhar.

Sobre o autor

Nina Veiga

A artemanualista e ativista delicada Nina Veiga é doutora em educação, escritora, conferencista. Sua pesquisa habita o território da casa e suas artes, na perspectiva da antroposofia da imanência. É idealizadora e coordenadora do coletivo Ativismo Delicado e das pós-graduações: Artes-Manuais para Educação, Artes-Manuais para Terapias e Artes-Manuais para o Brincar. Desenvolve trabalhos de formação de artífices e escritores. Suas oficinas associam o saber teórico-conceitual às artes-manuais como modo de existir e à escrita como produção de si e do mundo.

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