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Lavoisier no jardim: reflexões sobre uma vida melhor

Imagem de uma família composta pelos pais e o filho menor. Eeles estão cuidando do jardim, platando e replatando mudas.
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Escrito por Nina Veiga

Ter um jardim é um convite à conexão com a natureza, seja grande ou pequeno, em casa ou no apartamento. O cultivo, especialmente desde a semente, ensina paciência e valoriza o ciclo de vida. Jardins proporcionam benefícios terapêuticos e fortalecem a energia vital. Transforme seu jardim em uma fonte de beleza e saúde.

É bom ter um jardim. Não importa o tamanho, em casa, na roça ou no apartamento. O importante é que as plantas sejam de verdade. Papoulas, petúnias, girassóis, dálias, zínias, tagets ou rosas. Vale tudo, todas as cores e formas. Movimento e alegria ensinam a viver melhor.

Em 1979, o filme “Muito Além do Jardim”, com Peter Sellers e Shirley Mclaine, já tensionava a ideia do jardim como um lugar de limitação e da tela como a grande janela para o mundo.

A janela do mundo é o jardim. Nele, Cora Coralina se inspirou para escrever seus poemas. Nele, Pu Yi, o último imperador da China, exercitou humildade e sabedoria. Nele, Claude Monet pintou e viveu, eternizando em cores, luzes e traços os momentos fugazes da natureza.

Se você não tem um, por falta de tempo, espaço ou vontade, é pena, deveria experimentar. Tempo e espaço não são problemas. Vontade, um pouquinho para começar já basta, as próprias plantas lhe estimularão depois. Comece com alguns vasos dentro de casa ou na área de serviço. Samambaias, lírios-da- paz, avencas são ótimos para pequenos espaços.

Se tiver um pouco de sol, experimente as flores. Dê preferências às sementes. Não tenha pressa, curta cada parte do processo. É mais demorado, mas a vantagem está em poder observar todo o desenvolvimento desde o início.

Quando compramos mudas já cultivadas, perdemos o melhor da cena e tomamos um ser vivo como objeto de adorno. Se optamos por, pacientemente, cultivá-las da semente a semente, faremos parte do ritual sagrado da natureza.

Com uma olhadinha diária, você estará, sem saber, praticando um caminho de observação como fez Goethe, há quase trezentos anos, em sua viagem de pesquisa botânica pela Itália.

Imagem de um  jardim botânico na Itália.
Alesia Kozik / Pexels / Canva

A maneira como o filósofo e poeta alemão descreveu a metamorfose das plantas foi tão original que muitos anos mais tarde, através do jovem pesquisador Rudolf Steiner, tornou-se o livro “Teoria do conhecimento na cosmovisão de Goethe”. Essa é a obra-base do goetheanismo, uma maneira de ver o mundo sempre em metamorfose. Filosofia extensiva, que pode fazer brotar e crescer nosso pequeno jardim interior.

Na terapia, um pequeno espaço de terra, mesmo que seja em um pote no batente da janela da cozinha, pode ser benéfico para amenizar muitos males do corpo e da alma. As forças de crescimento, regeneração e revitalização que existem nas plantas são as mesmas que vivem em nós.

Algumas vezes, essas forças podem estagnar ou enfraquecer em nós. É neste momento que a pequena planta em desenvolvimento pode nos colocar novamente em movimento, colaborando para que, dentro de nós, o fluxo da vida volte a mover-se, produzindo vigor e saúde.

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Foi o velho e sábio Lavoisier que disse que na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma. No jardim, a Lei da Conservação é a máxima. Muita gente ainda acha que os restos da grama cortada, as sobras das podas de inverno, as folhas das árvores que caem no pátio, tudo isso deve ser queimado ou colocado no lixo para “limpar” o jardim. Aí, saem e compram seus sacos de adubo químico, com enorme custo social e ecológico.

Pois, o composto orgânico caseiro elimina custos e ainda torna nosso lixo limpo e livre de cheiro. As sobras da cozinha e os restos do jardim formam uma bonita pilha, onde a fermentação aeróbica transforma tudo em um excelente adubo. Desta maneira, seguimos a lei da natureza, contribuímos para um meio ambiente mais saudável e, ainda por cima, produzimos beleza.

Sobre o autor

Nina Veiga

A artemanualista e ativista delicada Nina Veiga é doutora em educação, escritora, conferencista. Sua pesquisa habita o território da casa e suas artes, na perspectiva da antroposofia da imanência. É idealizadora e coordenadora do coletivo Ativismo Delicado e das pós-graduações: Artes-Manuais para Educação, Artes-Manuais para Terapias e Artes-Manuais para o Brincar. Desenvolve trabalhos de formação de artífices e escritores. Suas oficinas associam o saber teórico-conceitual às artes-manuais como modo de existir e à escrita como produção de si e do mundo.

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