Há muito tempo, em um pálido planetinha azul orbitando um pequeno e singelo sol, se desenvolveu uma espécie bastante promissora. Em pouco tempo, se levantaram e, com certa facilidade, dominaram a competição com as demais espécies que disputavam a sobrevivência por aquelas terras ricas. Essa espécie, de olhos brilhantes e curiosos, descobriu rapidamente como usar as leis mais básicas da existência a seu favor. Em poucos milênios, foram da sobrevivência selvagem para um conforto caro, digno de reis.
Com suas mentes afiadas, sempre dissecando tudo, parecia que iriam criar o mundo perfeito naquele sistema solar solitário onde viviam. Porém, essa espécie, deslumbrada com suas próprias invenções, não chegou a perceber o caminho que trilhava de fato. Não se deram conta de que os brinquedos mirabolantes que criavam lhes distraíam bem e lhes facilitavam o sobreviver, mas que nada lhes trazia de base para prosperarem, como as formas de vida cheias de possibilidades que eram.
Passaram todo seu tempo brigando por terra e por verdades imaginadas. Depois, por um curto período, se organizaram de maneira mais ou menos equilibrada, em grupos pertencentes a territórios conquistados. Nesse tempo, muitos da espécie tiveram um certo descanso das guerras e insanidades (mas não todos) que aconteciam em grande escala por todo lado.
E nessa época, eles se tornaram mais e mais aficionados por seus brinquedos, e cada vez mais ensandecidos em vendê-los para obter meios de adquirir mais brinquedos e acesso a todo tipo de brincadeiras. Tudo isso era divertido e válido, mas essa espécie queimou tudo que tinha para inventar mais e mais brinquedos, cada vez mais extravagantes, cada vez mais cômodos, mas quanto mais criavam, menos satisfação obtinham.
Isso durou por muito tempo, não tanto quanto eles pensaram que iriam, mas o suficiente para muitos perceberem que nada daquilo fazia de fato sentido. Porém, para a maioria das pessoas, a cegueira era cômoda, e aquela espécie se acabou, soterrada em uma pilha ridiculamente grande de seus brinquedos.
Hoje, por todos os mundos, a história desse planetinha é contada, não como entretenimento ou curiosidade, mas como alerta. E em todos os mundos que conhecem essa história, o cuidado maior é para que a espécie não se perca desenvolvendo ao máximo seus brinquedos, não que não os façam, sim, o fazem, porém, nesses mundos a prioridade é desenvolver primeiro a espécie, que os criadores estejam sempre em um estado mais elevado que suas criações.
Que a verdade da vida, o terreno fértil para a jornada das espécies, seja a base de toda exploração que começa em si e depois extravasa para o mundo. Pois naquele extinto planetinha azul, a espécie pouco mudou em milênios de avanço material; apenas os brinquedos se tornavam mais e mais inteligentes, como eles adoravam chamá-los, enquanto cada indivíduo da espécie pouco avançava em compreensão essencial da vida.
Assim, o coletivo acompanhava apenas as manchetes e novas ideias que ditavam o estilo de vida mais cômodo e adaptado às necessidades do grande mercado mundial que criaram. A espécie se tornou consumidora apenas, e esse é o alerta para os mundos que conhecem essa antiga história.
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Este é o alerta para cada indivíduo de qualquer espécie que já tenha alcançado a capacidade de olhar para si e perceber a existência. Esse é o alerta: que a prioridade seja sempre a vida e não as invenções de nossas mentes inquietas e insensatas.
E por fim, termino esta carta, caro amigo, lhe desejando que esta não seja a história de sua espécie.