Nossa abordagem busca integrar os pacientes de maneira global, ampliando seus conhecimentos sobre práticas de atividade física, sempre enfatizando a importância de uma alimentação equilibrada e acompanhamento médico.
Os avanços científicos, o saneamento básico e a conscientização ambiental têm contribuído significativamente para o aumento da longevidade da população.
Em 1950, a expectativa de vida era de 60 anos em países desenvolvidos e 40 anos em países em desenvolvimento.
Atualmente, esses números ultrapassam 75 e 65 anos, respectivamente. No Brasil, conforme dados do IBGE, a população idosa representava 4,2% em 1950, com projeção de atingir 24% em 2050.
Com o envelhecimento populacional, observa-se uma mudança nas causas de mortalidade. O século XX foi marcado pela redução das mortes por doenças infecciosas e parasitárias, enquanto houve aumento de condições crônico-degenerativas. Isso reflete o impacto positivo dos programas de saneamento básico e de melhorias na alimentação nos países mais pobres, bem como do atendimento médico nos países ricos.
Conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS), doenças cardiovasculares e câncer são responsáveis por 60% das mortes em países desenvolvidos e 34% nos países em desenvolvimento. Apesar da redução na mortalidade, o aumento da morbidade indica que muitas pessoas vivem mais, mas com qualidade de vida comprometida.
Estilo de vida e obesidade
O estilo de vida é um dos principais fatores de risco para mortes decorrentes de doenças cardiovasculares ou câncer. A alimentação e a prática de atividade física têm papel central no controle da obesidade, que, por sua vez, é o principal fator de risco para doenças crônico-degenerativas.
Segundo a OMS, 7% da população mundial é obesa, enquanto entre 14% e 20% apresentam sobrepeso. No Brasil, estima-se que 38% da população adulta esteja acima do peso, com maior prevalência entre as mulheres.
Em 1975, a proporção entre desnutridos e obesos era equilibrada no Brasil. No entanto, em 1989, a obesidade passou a predominar, com a taxa de obesidade saltando de 5% para 11,5% em 1996.
Obesidade e co-morbidades
“Sudden death is more common in those who are naturally fat than in the lean” (Hipócrates, 460–360 a.C.).
A obesidade está associada a diversos distúrbios, como hipertensão arterial, resistência insulínica, hiperglicemia, dislipidemias, doenças articulares, disfunções respiratórias e renais, e vários tipos de câncer. Nos homens, as neoplasias mais comuns são de cólon, reto e próstata; nas mulheres, incluem câncer de intestino, endométrio e ovário.
Esse quadro é resultado de um balanço energético positivo, devido à ingestão alimentar excessiva ou ao gasto energético insuficiente, frequentemente ligado a hábitos alimentares inadequados e sedentarismo.
Hábito alimentar e morbidade
O aumento da ingestão calórica deve-se a desequilíbrios quantitativos e qualitativos na alimentação, frequentemente agravados por falta de conhecimento nutricional. A gordura alimentar, maior fonte calórica, é frequentemente associada à obesidade. Culturalmente, a substituição das refeições familiares por fast food, promovida pela mídia, tem prejudicado o comportamento nutricional de jovens e adolescentes.
Sedentarismo e morbidade
“Take exercise; for whilst inaction weakens the body, work strengthens it; inaction brings on premature old age, work prolongs youth” (De Medicina, 50 a.C.).
O sedentarismo é amplificado pelos avanços tecnológicos que promovem comodidade. Nos Estados Unidos, 28% da população não pratica atividades físicas recreativas. No Brasil, em 1993, a taxa de sedentarismo era de 82% entre mulheres e 69% entre homens no Sul, com taxas de obesidade correspondendo a 27% e 16%, respectivamente.
O envelhecimento é frequentemente acompanhado por inatividade física, aumento de gordura corporal e redução de massa muscular. Além disso, o sedentarismo é o principal fator de risco modificável para doenças cardiovasculares, superando o tabagismo, a hipertensão arterial e o diabetes.
Efeito terapêutico interativo e capacitação profissional
“Exercise was invented and used to clean the body from harmful things” (Christobal Mendez, 1500–1561).
As doenças relacionadas ao estilo de vida, como hipertensão, diabetes e obesidade, são geralmente tratadas de forma isolada, sem uma visão interdisciplinar.
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No entanto, uma abordagem integrada envolvendo nutrição, atividade física e medicina poderia reduzir a dependência de medicamentos, os custos e melhorar o bem-estar do paciente.
Dietoterapia e exercícios físicos devem fazer parte do arsenal terapêutico para controlar doenças crônico-degenerativas, exigindo profissionais de saúde capacitados e com visão holística para promover a qualidade de vida.
Diante do cenário atual, fica evidente que a longevidade da população exige mudanças estruturais na forma como lidamos com a saúde.
A obesidade, o sedentarismo e os hábitos alimentares inadequados são fatores determinantes para o aumento das doenças crônico-degenerativas, comprometendo a qualidade de vida. Por isso, a adoção de um estilo de vida equilibrado, aliando alimentação saudável, prática regular de atividades físicas e acompanhamento médico, deve ser uma prioridade.
Além disso, uma abordagem interdisciplinar na saúde, envolvendo profissionais capacitados, pode contribuir significativamente para a prevenção e o controle dessas enfermidades. Promover a conscientização e incentivar práticas saudáveis é essencial para garantir não apenas uma vida mais longa, mas também mais saudável e plena.
Referências Bibliográficas
Prof. Dr. Roberto Carlos Burini, PhD (em artigo escrito para Nutrição em Pauta).
Prof. Titular de Patologia Clínica do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UNESP em Botucatu.
David L. Palletier and Maike Rahn. Trends in body mass index in developing countries. Food Nutr. Bulletin, v. 19, n. 3, p. 223, 1998.
J. Beare-Rogers, Ghafoorunissa, O. Korver, G. Rocquelin, K. Sundram, R. Uarry. Dietary fat in developing countries. Food Nutr. Bulletin, v. 19, n. 3, p. 250, 1998.