Talvez nem sempre seja um entregar-se para amanhã desistir. Ouvir para não mais falar ou, então, machucar-se e deixar sentir. A banalidade do próprio contentamento sobre si talvez seja mortal àquilo que se espera ser vindouro. A infelicidade também é resultado, mas o final do processo nem sempre significa o ruim. Pelo contrário.
Perante todas as idas e vindas de ilusões, percebe-se que a vida é transcorrida por capítulos adversos, que variam entre o tudo e o nada. Os extremos são, pois, coexistências nada pacíficas, cujo único intuito é transgredir. Deslegitimar. A verdade falsificada ainda é uma verdade, só que falsa. É delicada a compreensão sobre a mantença de duas forças opostas, ao mesmo tempo em que não se entende que o impossível é só uma questão de identidade. Torna-se individual quando a dinâmica já não reproduz mais de um eixo.
Não há, pois, lei do retorno ou confluência de energias entre quem só sabe se redimir. O erro é a própria constância que permite o ciclo. O fardo da culpa nada mais é do que o universo sobreposto a uma só informação. A um só querer perante os mesmos olhos, sem exceção. Perante às mesmas crenças, sem mudança. A possibilidade de viver livre da culpa é só uma nuance dentro da carga do julgamento. O réu veredito de uma sincronicidade que nem sempre existe.
Aprendi que não posso carregar a responsabilidade pela infelicidade dos outros. Pensar em si é um egoísmo necessário. Lidar sem empatia é uma individualidade distorcida. Não se trata de não se preocupar ou não agir em prol do que gira em torno, mas interpretar o entorno como componente. Não somos peças desligadas do resto, mas sim encaixes necessários ao todo.
Aprendendo a conviver com a derrota perante expectativas frustradas e é consenso que a culpa se esvai quando o amor floresce. Não assumir os próprios erros pode ser tão ruim quanto assumir aqueles que não o são. Viver a própria vida já é difícil, quiçá a penalidades de culpas divisíveis ou então que nem sejam do próprio pertencimento.
Atuamo-nos constantemente por dívidas que não são nossas. Ilusões que não foram criadas em nossas mentes. Sou também vítima de histórias inventadas, de envolvimentos romantizados. De enrolações bem resolvidas. A esperança, quando junto da vontade, é também perigosa. Por isso os extremos que não se adequam. As limitações que não conhecem seus limites. Amor e dor são indissociáveis, bem como culpa e arrependimento. Cura e vontade de doer.
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A lágrima derramada no colo é o indício de qualquer coisa que balança. Que tira de um estado normalizado de consciência. O fardo da culpa que uma lágrima traz, embora tenha a capacidade de molhar não só quem chora, ainda assim não faz parte de quem está de fora. Compadeçamo-nos sem, no entanto, confundir compreensão com o assumir de algo que não precisamos carregar. Peso extra apenas se vier com o discernimento sobre a quem ele pertence, caso contrário, é autoboicote.