A palavra sânscrita que designa atenção plena, smriti, significa “lembrar-se”. Essa técnica consiste em lembrar-se constantemente de voltar ao momento presente. O ideograma chinês para a atenção plena tem duas partes: a parte superior significa “agora” e a inferior “mente” ou “coração.”
A Atenção Plena Correta é a energia que nos traz de volta para o momento presente.Buscá-la significa cultivar a iluminação interior, uma força inabalável, independente das circunstâncias.
O Primeiro Milagre da Atenção Plena é estar presente e ser capaz de entrar em contato com todas as coisas, desde as mais intensas até as mais simples: o céu azul, a natureza ou até mesmo o sorriso de uma criança. Valorizar as pequenas coisas que acontecem em nossa vida e, muitas vezes, não enxergamos nem damos o devido valor que elas merecem, é fundamental para estarmos ligados no momento presente.
O Segundo Milagre da Atenção Plena é fazer com que o outro – e a valorização de todos os momentos ao lado de quem amamos – também esteja presente. No poema épico vietnamita “Conto de Kieu”, a heroína volta ao apartamento de seu amado, Kim Trong, e o encontra dormindo em sua escrivaninha, com a cabeça sobre uma pilha de livros.
Kim Trong ouve os passos de Kieu mas, semi-adormecido, pergunta: “Você está realmente aqui, ou estou sonhando?” Kieu responde: “Agora temos a oportunidade de ver-nos com clareza. Mas se não vivermos este momento profundamente, ele não terá passado de um sonho. Você e seu amado estão aqui juntos.
Têm a oportunidade de se olharem profundamente. Mas se não estiverem completamente presentes, tudo não passará de um sonho.” Trata-se de desenvolver essa interconexão entre você e as pessoas ao seu redor, principalmente aquelas de seu grande apreço e amor.
O Terceiro Milagre da Atenção Plena é nutrir o objeto de sua atenção. Olhe nos olhos da pessoa amada e pergunte: “Quem é você?” O importante nesse momento é não querer uma resposta rápida e superficial. Pergunte novamente, olhando nos olhos da pessoa amada: “Quem é você, que assumiu o meu sofrimento como seu, minha felicidade como sua, minha vida e morte como suas.
Do que você precisa?” Se não prestar a devida atenção à pessoa que ama, é como se estivesse cometendo um delito. Pratique a atenção apropriada para que ambos nutram sempre apreço um pelo outro. Lembrando que não se trata de algo superficial ou somente para agradar a pessoa ao lado, mas sim desenvolver esse apreço e torná-lo sólido para todo o sempre.
O Quarto Milagre da Atenção Plena é aliviar o sofrimento de outra pessoa. “Eu sei que você sofre, e é por isso que estou aqui para você.” Mesmo se no momento não saber o que fazer, seu coração estará disposto a aliviar o sofrimento da pessoa amada. Esse sentimento pode ser externado através de palavras ou somente na forma como você olha e trata a pessoa.
Em momentos difíceis, quando temos pessoas realmente preocupadas com nossa felicidade, somos afortunados. Amar significa nutrir a vida do outro com a atenção correta. Quando se pratica a Atenção Plena Correta, nós e o outro estamos presentes aqui e agora. “Sua presença é muito importante para mim.”
Se você não demonstra isso quando está junto à pessoa amada, nunca terá sabido valorizar esses momentos, e só perceberá na ausência dela.
Os primeiros Quatro Milagres da Atenção Plena pertencem ao primeiro aspecto da meditação shamatha: parar, acalmar-se, descansar e curar-se. A partir do momento que você conseguir se acalmar e parar de se dispersar, sua mente ficará autofocalizada e você estará pronto para a contemplação profunda.
O Quinto Milagre da Atenção Plena é a contemplação profunda, vipashyana, que também é o segundo aspecto da meditação. Você está preparado para contemplar a pessoa em nível profundo e, simultaneamente, amplo. Você irradia a luz da atenção plena sobre o objeto que observa e, ao mesmo tempo, irradia a luz da atenção plena para si mesmo.
O Sexto Milagre da Atenção Plena é a compreensão. Quando entendemos algo, nós dizemos: “Oh, sim, eu posso ver perfeitamente.” Estamos vendo algo que antes não percebíamos. As vezes, são coisas que sempre estiveram perto de nós e nos fugia a atenção.
Ver e compreender são processos que surgem dentro de nós com o tempo, conforme amadurecemos ao longo da vida. Ao usar a atenção plena, entramos em contato com o momento presente, profunda e amplamente, e podemos ver e ouvir com mais clareza as pessoas.
Isso gera frutos, que são a compreensão, a aceitação, o amor e o desejo de aliviar a dor e trazer alegria. Um termo conhecido para essa questão é o empoderamento. A compreensão é a chave da prosperidade e do amor.
Companheirismo
“Sei que existem ocasiões de muito sofrimento;
Sei que existem ocasiões de muita tristeza;
Sei que existem noites em que choramos de dor;
Sei também que existem dias em que somos magoados injustamente.
Nessas ocasiões, minha companheira,
Experimente bater à porta do meu coração,
O meu coração está sempre aberto para você,
Os meus olhos possuem lágrimas para chorar junto com você,
Os meus ouvidos estão sempre prontos para ouvi-la.
De coisas alegres, não é necessário falar,
Percebo perfeitamente em seu semblante.
De coisas tristes e ruins, conte tudo a mim,
Deixe-me carregar a metade de seu corpo pesado de tristezas
para que juntos, possamos caminhar
até quando a nossa amizade for permitida durar.”
Daisaku Ikeda
O Sétimo Milagre da Atenção Plena é a transformação. Quando praticamos a Atenção Plena Correta, entramos em comunhão com as energias positivas da vida inerente e começamos a transformar a dor e sofrimento em positividade. Trata-se de uma autoreforma, de uma revolução nas profundezas da vida e de transformação positiva.
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É necessário eliminar os vícios, não somente físicos – como procurar diminuir o consumo de álcool e cigarro – mas também os vícios e tendências negativas de nossa mente. Não é um processo de mudança da noite para o dia. Essa transformação literal de algo ruim para melhor é realizada todos os dias.
Praticar os Sete Milagres da Atenção Plena nos ajuda a levar uma vida mais feliz, saudável e sustentável. Trata-se não apenas da felicidade pessoal, mas também da felicidade coletiva em sociedade.
Texto escrito por Bruno da Silva Melo da Equipe Eu Sem Fronteiras.