Como é a sua relação com o lixo? Você tem consciência do que produz, ou apenas descarta sem saber o destino final? O estudante Lucas Chiabi, de 24 anos, criou o Ciclo Orgânico em um projeto da faculdade, e hoje essa ideia tornou-se o seu trabalho.
Trata-se de um sistema de coleta domiciliar de lixo orgânico, feito através de bicicleta por meio da compostagem. A equipe do Eu sem Fronteiras conversou com Lucas, que nos contou um pouco mais sobre o projeto.
Eu sem Fronteiras – Me fale um pouco de você, onde nasceu, cresceu, estudou, mora:
Lucas Chiabi: sou de Belo Horizonte – MG, mas morei a maior parte da minha infância em Carajás – PA, em uma cidadezinha no meio da Amazônia que, sem dúvidas, me influenciou bastante na escolha do trabalho que eu resolvi seguir.
Quando era criança e me perguntavam o que queria ser quando crescesse, respondia: motorista de caminhão de lixo. Agora, aos 24 anos, estou terminando o curso de Engenharia Ambiental na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e começando uma nova empreitada no Ciclo Orgânico, uma empresa de coleta e compostagem de resíduos orgânicos, feita através de bicicleta.
ESF – Como surgiu a ideia de montar o Ciclo Orgânico?
Lucas Chiabi: a ideia começou na faculdade, em um projeto de extensão (MUDA), em que tive o meu primeiro contato com a compostagem, levava o meu lixo orgânico em um balde de margarina de ônibus até o fundão.
Fiz isso durante alguns anos e foi muito bacana ver a transformação que isso gerou dentro de casa, a minha família começou a se preocupar mais com a destinação do lixo, começou a se engajar mais e a curtir essa história de separar e transformar lixo em adubo, e tudo isso sem ter muito trabalho.
Mais a frente, eu percebi que existiam outras pessoas que também realmente se preocupavam com o destino do seu lixo orgânico, mas que na hora de fazer a compostagem, a falta de tempo e espaço eram empecilhos.
Foi aí que surgiu o Ciclo Orgânico, entrei no Shell Iniciativa Jovem, um programa de incentivo a criação de startups de impacto socioambiental, que foi um grande empurrão para tirar o negócio do campo das ideias e pôr na prática.
ESF – Qual foi a maior dificuldade?
Lucas Chiabi: a maior dificuldade até agora tem sido coordenar toda essa logística de coletas, compostagem e, ainda assim, fazer a empresa crescer. Tem sido muitas horas de trabalho diário, mas estamos conseguindo.
ESF – Vocês atuam somente em alguns bairros do Rio de Janeiro? Pensam em expandir o trabalho?
Lucas Chiabi: o nosso sonho é ver esse modelo de gestão de resíduos sendo aplicado em cidades inteiras, seria incrível ver todos os resíduos de uma cidade sendo coletados de bicicleta e transformados em adubo. Por enquanto, estamos em 8 bairros do Rio: Ipanema, Leblon, Copacabana, Leme, Botafogo, Humaitá, Jardim Botânico e Gávea. A ideia é expandir para outros bairros ainda esse ano. Tijuca, Barra, Laranjeiras, Glória e Flamengo são os próximos da nossa lista.
ESF – E como tem sido a procura das pessoas?
Lucas Chiabi: temos tido bastante procura, até mais do que eu imaginava. Foi uma surpresa ótima, sinal que existem muitas pessoas que querem mudar o destino dos seus resíduos.
ESF – Como você vê a relação das pessoas com o lixo que produzem?
Lucas Chiabi: é muito bacana ver de perto essa relação das pessoas com o lixo produzido, e essa mudança de deixar de vê-lo como um problema e passar a enxergá-lo como um recurso, algo positivo que pode ser reaproveitado, é o mais legal disso tudo. Já tiveram pessoas que participam do ciclo dizendo que estavam apegados ao seu lixo, que não conseguiam mais jogar o orgânico na lixeira comum. É muito gratificante ver esse tipo de transformação.
ESF – Fique a vontade para escrever algo:
Lucas Chiabi: acredito muito no poder do indivíduo. Muitas vezes, nem imaginamos o tamanho do impacto que pequenas atitudes podem causar. A partir do momento que a gente para de reclamar do governo, políticos e empresas e começarmos a criar soluções para os problemas que nos cercam, muita coisa bacana acontece!
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ESF – Deixe uma mensagem:
Lucas Chiabi: quando comecei com essa ideia do Ciclo Orgânico, um amigo me fez uma pergunta que fiquei sem saber o que responder: “Pô, Lucas, legal essa história de coletar lixo de bicicleta, mas fala sério, isso é a maior utopia, né?” Mais tarde, escutei uma frase que era exatamente a resposta para aquela pergunta: “A utopia é como o horizonte, a gente nunca alcança, a cada dois passos que dou ela se afasta dois, a cada dez passos, se afasta dez. Mas, afinal, pra que serve a utopia? Para que continue a caminhar.” Eduardo Galeano.
Acho que resume bem o trabalho do Ciclo Orgânico.
Para conhecer o projeto, visite o site: http://www.cicloorganico.com.br/
Entrevista realizada por Angelica Weise da Equipe Eu Sem Fronteiras.