O que é Deus? Será que existe um Deus separado de nós? Transcendente? Algo ou alguém que iremos encontrar, em algum momento, após a morte? Será que poderemos compreendê-lo?
Para os grandes iluminados que trataram desse assunto, é quase unânime a visão de que não exista um Deus como aquele propalado pelos judeus, ou como o das mitologias antigas, alguém que esteja em um plano diferente, como se vivesse em um Olimpo.
Um Deus patriarcal, grave, circunspecto, muito parecido com a figura do pai, um senhor a ser temido, um juiz, um ser onisciente, perfeito, único, imutável e criador de todo o Universo, como Brahma.
Esse modelo de Deus não é apresentado por nenhum dos grandes avatares que surgiram no decorrer da história humana, mesmo no hinduísmo, Brahma é apenas um dos atributos de Deus.
Ramana Maharshi, respondendo a esse questionamento, disse que Deus não é um objeto a ser visto. Deus é o sujeito. Ele é aquele que vê. Disse ainda que não deveríamos nos preocupar com aquilo que é visto, deveríamos, sim, descobrir quem é aquele que vê e finalizou decretando àquele que o questionava: “Somente você é Deus”.
Jesus dizia que o Pai lhe deu a vida eterna e que, portanto, afirmava: “Eu e o Pai somos um”; ora, o que essas afirmações, que tanto aborreciam os fariseus, queriam mostrar? Jesus era um homem realizado, um ser que conseguiu acordar e enxergar a realidade, com isso, pôde conhecer a própria essência e perceber que nunca fora a máscara que usava.
Quando entendeu que era o próprio Deus que lhe deu a vida eterna, aquele que atuava a favor do seu despertar, percebeu uma profunda união com o Universo. Surge, a partir desse momento, uma nova consciência, uma Consciência Cósmica.
No Taoísmo, o homem precisa se aperfeiçoar para que o Tao (Deus) se manifeste dentro dele. No Budismo, o homem precisa se livrar dos desejos para tornar-se um buda (Deus), no sufismo, acredita-se que é possível obter uma experiência direta de Deus através de uma série de condições adotadas de forma rotineira, e no hinduísmo, a despeito de tantas variações de crenças, tudo é Deus, tudo é Brahma.
O pensamento judaico, que tanto influenciou o paradigma ocidental, apresenta Deus como um Senhor a ser temido. O pensamente cristão tentou introduzir a ideia de um Pai, muito embora, o que vimos predominar durante todos esses séculos foi o modelo hebreu, pois está mais próximo da nossa natureza primitiva. No íntimo da grande maioria dos seres, existe o temor infundado em desapontar ou transgredir quaisquer que sejam as regras impostas por essa entidade grandiosa.
O evangelista João afirma que ninguém nunca viu Deus (Jo 1:18), prossegue dizendo que o filho unigênito é quem o revelou. Ora, o Deus-pai revelado por Jesus não é nada menos do que ele mesmo. Aliás, o próprio Jesus deixou claro que nós também somos Deuses, disse ainda que tudo aquilo que ele faz nós também faríamos, portanto, Deus não é algo transcendente, mas imanente.
O fato é que o homem se confunde com o personagem que interpreta em sua experiência corporal, acredita ser o efeito e esquece que não é o personagem, mas o ator. Vale a pena lembrarmos dos ensinamentos de Shankara:
“Um ator pode vestir-se especialmente para uma representação, mas é sempre a mesma pessoa por baixo da roupa. Da mesma maneira, o perfeito conhecedor de Brahma sempre é Brahma, e nada mais”.
Em seus tratados, ele segue explicando que a vida na terra é como uma folha que cai de uma árvore. Ela se desprende depois de um certo tempo, resseca e acaba sendo consumida pela própria natureza. Que mal poderia causar à própria árvore? Da mesma forma, a seu tempo, essa mesma árvore produzirá uma nova folha.
Está na hora de aprendermos que não somos as folhas, mas a própria árvore. O ser humano vive preocupado com o tempo que irá durar a lâmpada da sua existência. Vive nessa preocupação por ser ignorante, por acreditar que é a lâmpada e desconhecer que, na verdade, é a energia que a alimenta. O homem é a própria usina.
Enquanto viver a insanidade de querer realizar o instrumento, preocupado em lustrar o escafandro de carne que o aprisiona, devotado a conquistar um pódio qualquer para deixar marcas profundas nesse translado, continuará na ignorância. É necessário ter em mente que quanto mais profundas forem as nossas pegadas, mais trabalho teremos para removê-las, pois estamos aqui apenas para testemunhar. Tudo isso é muito complexo, pois implica em desconstruir todos os modelos que sempre nos orientaram.
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Para aquele que faz uma péssima avaliação de si mesmo, carregando culpas e remorsos, acreditando-se merecedor de todo sofrimento, é improvável que concorde com esse postulado. Como convencê-lo de que ele é Deus?