Vamos começar com um pouco de história. A homeopatia surgiu em 1790 pelas mãos de Samuel Hahnemann, médico alemão insatisfeito com a medicina praticada em sua época. Hahnemann foi um humanista, e não aceitava que o custo dos tratamentos médicos vigentes para o restabelecimento da saúde fosse, às vezes, a própria vida do paciente. A exemplo disto temos as sangrias, muito praticadas na época de Hahnemann, e que esvaíam as forças vitais dos doentes até sua morte; ou o excesso de drogas utilizadas (muitas vezes na mesma prescrição), arruinando a saúde ainda mais pelos seus efeitos tóxicos. Ao fim, os médicos diziam “fizemos de tudo, mas a doença era mais forte”.
Hahnemann nasceu em 1755 em uma família modesta. Sua educação foi feita inicialmente por seus pais, e depois em escolas públicas. Dominando 11 línguas, aos 20 anos dava aulas de idiomas para sobreviver e bancar seus estudos, até formar-se em medicina em 1779. Nos primeiros anos, Hahnemann fez muitas traduções para complementar seu orçamento, e rapidamente torna-se um médico muito requisitado, tanto pela sua inteligência incomum quanto pelos princípios também incomuns que usava na sua prática clínica: medicar e intervir o mínimo possível, orientar quanto aos hábitos de vida, de higiene, de alimentação, auxiliando a entender que posturas (inclusive emocionais) poderiam contribuir para o surgimento e/ou manutenção das doenças; enfim, respeitar o ser humano acima de tudo. Mesmo assim, percebeu que todas as medidas de orientação eram insuficientes para curar em profundidade as doenças e, cada vez menos disposto a utilizar os recursos da medicina de seu tempo, parou de clinicar, vivendo exclusivamente de traduções.
Em 1790, ao traduzir o livro “Materia Medica” de Cullen, estuda o medicamento Cinchona (China officinalis), utilizado para tratamento da malária. Então, ao contrário daquele autor, percebe que a doença (malária) era curada porque o medicamento usado (China) provocava no doente sintomas semelhantes aos da doença. Este princípio não era novo; Hipócrates já o tinha descrito na Grécia antiga, e denominado “Lei dos Semelhantes”: aquilo que provoca determinada condição tem o poder de curá-la. Hahnemann percebe que China curava malária porque tinha a capacidade de produzir sintomas semelhantes àquela doença.
A partir daí, Hahnemann motiva-se para voltar a praticar Medicina, e direciona-se para o resgate deste princípio. Começa suas pesquisas com um método que chama de “Experimentação no Homem São”, e que consistia em administrar a si mesmo as substâncias que desejava estudar, começando pela própria China, para observar quais sintomas elas eram capazes de produzir no ser humano saudável. Profundo conhecedor de química, descobriu uma forma para reduzir os efeitos colaterais das substâncias (a Diluição), e percebeu que isto potencializava a ação das substâncias sem produzir danos à sua saúde. Posteriormente, supervisiona grupos de experimentadores, entre os quais muitos que vieram a ser seus discípulos. Hahnemann foi tão minucioso e criterioso ao anotar suas observações que até hoje podemos repetir os mesmos experimentos, e chegar aos mesmos resultados.
Em 1796, Hahnemann publica seu primeiro livro a respeito desse novo sistema médico que viria a chamar depois de Homeopatia. Este livro, chamado “Ensaio sobre o Novo Princípio para Descobrir a Força Curativa das Drogas”, foi onde Hahnemann descreveu seus primeiros achados, e onde publicou suas primeiras conclusões, tanto relativas às suas pesquisas com os medicamentos, quanto os resultados obtidos na prática clínica, utilizando os novos princípios no tratamento e cura das pessoas. Dois casos tornam-se importantes: um deles, um caso psiquiátrico curado com o novo princípio – talvez o primeiro descrito sobre o tratamento humanizado de um doente mental; além da cura, Hahnemann demonstra um profundo respeito pela pessoa adoecida, e mostra caminhos de não-violência para o cuidado destes pacientes. Outro, uma epidemia de escarlatina curada com sucesso, tanto de forma preventiva quanto curativa. Os dois primeiros relatos de caso curados com a ajuda da homeopatia foram, portanto, na psiquiatria e na saúde coletiva. Em 1810, com bastante experiência, publica enfim a primeira edição do “Organon”, onde explicita com clareza as bases da homeopatia. Ainda hoje este é um livro base para quem quiser se aprofundar no conhecimento deste sistema médico.
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A Homeopatia, desde o início, se ocupa da abordagem integral ao ser humano. O seu objetivo não são as doenças, mas as pessoas adoecidas. Durante uma consulta (e mesmo depois dela), o médico homeopata olha para a “pessoa total” à sua frente, buscando compreender como esta pessoa adoeceu, e o que pode fazer para amenizar seus sofrimentos. E este é um trabalho feito em conjunto pelo médico e pelo paciente.
No próximo texto vamos aprofundar este assunto. Por ora, ficamos com as palavras de Hahnemann: que todos possamos nos tornar melhores o tanto quanto possível, e melhorarmos tudo que nos rodeia e que pudermos melhorar. Até a próxima!