Havia uma senhora e se via que estava falando sozinha. Não era uma conversa daquelas que somente no segundo momento de observação a gente percebe que tem um fone de ouvido com o microfone do celular.
Era outra conversa. Ela era uma moradora de rua e falava sozinha como tantos que vemos por aí em suas solitárias (?) conversas pessoais.
Fiquei prestando atenção e percebi, no entanto, que ela não falava sozinha simplesmente; contava uma história, dessas que qualquer um de nós pode viver, mas que ninguém parou para ouvir, e sobre o que era ninguém sabe dizer.
E quem ouviu a chamou de louca, ou achou graça, ou teve dó, mas ninguém escutou o que ela dizia. Humanamente seguia em sua história com vigor e dedicação, e ria (sozinha) e fazia pausas (sozinha) e quase chorou.
Depois gargalhou e queria um balde, queria apenas um balde para passar água sanitária e poder usar, era um balde bom e estava jogado na rua, mas ela podia usar. E já que ninguém ouviu, ela continuou falando sozinha (?) em seu intricado universo paralelo que é a mente humana.
Cambiando de lugar com quem está ao nosso lado, o que se sente? Ir além da empatia.
Trocar a alma de corpo, não por um dia, bastam algumas horas para absorver a vivência daquele corpo novo, sentir com nossos próprios padrões morais tudo o que ele viveu e por alguns instantes observar a vida de dentro dele como se fosse uma janela com uma nova vista além daquela que estamos acostumados.
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Vê-se com os mesmos olhos? Esperam-se as mesmas coisas? Ou seria o balde suficiente para querer parar? Sem nenhum alvoroço fazer uma pequena parada, livre e disposta a ultrapassar os limites da mente humana e apesar de tudo viver, simples e humanamente.