Autoconhecimento Psicanálise

Somos todos especiais: Uma visão sobre a Síndrome de Asperger

Escrito por Ana Racy

Nesta época de Olimpíadas e Paralimpíadas, me chamou muito a atenção os extremos da perfeição. Nas Olimpíadas, via-se a perfeição de cada músculo no trabalho do atleta. Nas Paralimpíadas, via-se o avanço da tecnologia auxiliando o atleta para a perfeição ser apresentada. Dedicação, superação e amor pelo que se faz existem em todos eles.

Escrevo hoje sobre esse tema, porque percebo que as pessoas estão cada vez mais integradas. Se antes existia um olhar de comparação, atualmente o olhar evoluiu. Percebemos os outros como diferentes e não mais como melhores ou piores. A diversidade pertence ao mundo e o mundo, por sua vez, é feito da diversidade! Nela crescemos, evoluímos, respeitamos e amamos. Qualquer coisa que seja diferente disso, denota preconceito, desrespeito e comparação. Essas são características muito fortes do orgulho ainda dominante no indivíduo. Pensar sobre isso e como nos sentimos em relação a cada um desses pontos, nos mostrará um pouco mais sobre o nosso nível de consciência e o quanto ainda precisamos caminhar.

Considerando que somos uma dualidade em termos de nível de consciência – egocêntrica e empática – essas situações nos permitem olhar para dentro de nós mesmos e percebermos como está cada uma dessas partes da dualidade em nós. Para compreendermos melhor onde nos encontramos, precisamos saber que nossa parte egocêntrica diz que somos melhores que os outros. Já a nossa parte empática, não compara, enxerga todos como seres humanos com as suas peculiaridades e limitações.

Ainda sobre a diversidade, assisti a um filme que fala sobre a crise imobiliária nos Estados Unidos em 2008 chamado “A Grande Aposta”. Nele percebemos o personagem Michael Burry com características bem diferentes, como por exemplo, a grande dificuldade para se ajustar socialmente. Ele trabalha em uma sala isolado, ouvindo música alta, vestindo bermudas e chinelos. Ele tem uma capacidade para matemática e números excepcional e consegue prever a crise que chegará. No filme, baseado em fatos reais, fica muito evidente a sua inteligência, o interesse intenso e quase obsessivo na análise dos documentos que indicaram a futura crise no mercado. Essa forma de agir é característica do Transtorno do Espectro do Autismo (Síndrome de Asperger). Estima-se que 3% da população jovem do mundo tenha esse transtorno, que atinge predominantemente os meninos.

https://www.youtube.com/watch?v=R0aKPegDWHY%20

A pessoa com este transtorno pode fazer movimentos repetitivos, criar um ritual para realizar as coisas, pode ter dificuldade em estabelecer contato visual com o outro em uma conversa e costuma ser muito literal na forma de falar, ou seja, ela não compreende brincadeiras de sentido duplo.  E, por isso, alguns podem achá-la ingênua e praticar o bullying. Saber que isso pode acontecer, me faz refletir sobre quem é mais necessitado: aquele que tem o transtorno ou aquele que pratica o bullying?

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O filme nos mostra que, apesar do transtorno, a pessoa pode levar uma vida de realização e sucesso. É possível casar, ter filhos, ter uma profissão e se houver limitações, quem não as tem para viver!?

Roberta Haude que é mãe de Laura diagnosticada com o transtorno, tem um blog chamado Autismo e Maternidade, com o objetivo de interagir e auxiliar todas as mães que passam pela mesma experiência que ela. Roberta sempre estimulou e ofereceu à filha todo o necessário para ela se desenvolver e viver a vida da forma mais plena possível. O sucesso tem se comprovado. Laura estuda, tem sonhos e objetivos e é muito feliz. Da mesma forma, Michael Burry também vive a sua vida bem e feliz. Percebemos que, mais do que o olhar da Laura e de Michael Burry para o mundo, é o olhar do mundo para eles que precisa ser mais amoroso! Para Roberta, o remédio transformador é o amor. E é com essa dica, que encerro este artigo e deixo as seguintes perguntas para reflexão: “Como tem sido meu olhar para o próximo? Comparo e me acho melhor que ele ou tenho olhar de amor, porque somos todos especiais?”

Sobre o autor

Ana Racy

Psicanalista Clínica com especialização em Programação Neurolinguística, Métodos de Acesso Direto ao Inconsciente, Microexpressões faciais, Leitura Corporal e Detecção de Mentira. Tem mais de 30 anos de experiência acadêmica e coordenação em escolas de línguas e alunos particulares. Professora do curso “Psicologia do Relacionamento Humano” e participou do Seminário “O Amor é Contagioso” com Dr. Patch Adams.

E-mail: anatracy@terra.com.br