Você provavelmente já ouviu falar no budismo e em muitas coisas que ele prega, mas certamente surgem algumas dúvidas. Ainda mais porque, pelo fato de não fazer parte da nossa cultura ocidental, pode haver muita informação desencontrada acerca dessa religião. Aliás, o budismo é mesmo uma religião?
Atualmente contando com mais de 500 milhões de seguidores em todo o mundo, e cada vez mais presente na cultura ocidental, o budismo é uma religião surgida na Índia há aproximadamente 2,5 mil anos. Sua filosofia traz ensinamentos que podem ser aplicados a qualquer outra religião — ou mesmo para quem não segue nenhuma.
E, com toda essa popularidade — inclusive aqui no Brasil, que soma quase 250 mil adeptos —, não é incomum que surjam diversas dúvidas sobre o tema. Se você é um grande interessado no que o budismo tem a ensinar, no que ele significa e em suas origens, acompanhe o artigo para acabar com todas as suas dúvidas definitivamente!
Direto ao ponto
O que é budismo?
Bem, para começar, o budismo é uma doutrina religiosa e filosófica que tem como bases os ensinamentos deixados pelo Buda Sakyamuni (nascido Siddartha Gautama). Trata-se de uma religião não teísta — ou seja, que não comporta a ideia da existência de um ou mais deuses.
O termo “Buda” tem origem no sânscrito e seu significado é “aquele que se iluminou”. Já “Sakyamuni” está relacionado ao clã Sakya, uma das quatro linhagens do budismo (as outras três são Gelug, Kagyu e Nyingma).
A origem do budismo remonta à época em que o jovem príncipe Siddartha vivia em seu palácio, cercado de riquezas e ostentações, isolado da vida real, que era completamente diferente da que ele levava. Ao sair do palácio e se chocar contra a realidade da pobreza extrema e do sofrimento, o jovem resolveu abandonar seus luxos e se isolar, para que encontrasse a uma forma de acabar com o sofrimento das pessoas.
Apartado da vida mundana, Siddartha resolveu se tornar discípulo do ascetismo — uma doutrina que renega completamente os desejos e prazeres da vida e que inclui a prática de penitências físicas e rigorosos jejuns.
No entanto, após anos praticando o ascetismo, o jovem acabou não se identificando com o caminho dessa filosofia, pois ela não estava fazendo sua consciência progredir. A iluminação, as respostas que ele buscava… nada vinha à tona. Sendo assim, abandonou o caminho de sofrimento, porque concluiu que ele não traria equilíbrio mental e emocional. E o equilíbrio é a base do autoconhecimento.
Certo dia, finalmente Siddartha encontrou as respostas para o que o afligia e, aos 35 anos, ele conseguiu alcançar a total compreensão da essência da vida — o famoso ato de iluminação. Daí o nome “Buda”, cujo significado já explicamos mais acima.
A partir de então, Buda começou a pregar sua mensagem por toda a Índia, durante mais de quatro décadas, transmitindo seus primeiros ensinamentos: as Quatro Nobres Verdades. Mas falaremos sobre isso mais à frente.
Como o budismo se difundiu?
Depois de ter se espalhado pela Índia, o budismo, então, saiu do país, expandindo-se ao longo da Ásia. Como dissemos bem no comecinho, por ser uma doutrina completamente adaptável a qualquer religião — e também cultura –, essa filosofia se estabeleceu com facilidade nos países onde chegou. No Tibete, por exemplo, ele se desenvolveu de modo tão peculiar que reservamos um tópico exclusivo para tratar desse tema.
Em seguida foi a vez de os ocidentais conhecerem a filosofia budista, porém sob a vertente tibetana. A quantidade expressiva de adeptos na atualidade fez com que mais e mais pessoas passassem a se interessar sobre os ensinamentos e as crenças do budismo.
Qual é o livro sagrado do budismo?
As mais de quatro décadas (45 anos, para sermos mais precisos) de pregação do Buda lhe permitiram ceder à humanidade 84 mil ensinamentos — ou dharmas. Todos eles foram transformados em sutras — regras para a vida cotidiana.
Esses sutras compõem o conjunto de escrituras sagradas do budismo: o Tripitaka (com a variante “Tipitaka”), ou Cânone em Páli. A obra foi escrita no Sri Lanka, no idioma páli — língua da Índia antiga e muito similar àquela que o Buda em vida falava.
É uma vasta coleção literária divida em três partes, ou “cestos” (daí seu nome — “Ti” significa “três”, e “pitakas”, “cestos”, no idioma em questão). Essas partes que formam o Tripitaka são os livros sagrados do budismo:
Vinaya Pitaka — a Disciplina
Este livro traz um código disciplinar da Ordem dos monges e monjas. Também conta sobre como essas normas se originaram e faz um breve relato sobre a vida e o ministério do Buda.
Sutta Pitaka — os Discursos
É uma compilação dos discursos do Buda e de seus discípulos mais próximos, ao longo dos 45 anos em que ele pregou sua doutrina.
Abhidhamma Pitaka — a Doutrina Absoluta
Faz um detalhamento sobre o livro anterior, reorganizando-o de forma mais científica. É uma obra densa, que traz uma análise de conceitos que ajudam no entendimento da natureza da mente e da matéria.
Essas obras são um verdadeiro traçado dos ensinamentos do budismo, mas vamos destacar, a seguir, as lições mais básicas e conhecidas da doutrina, que podem ser aplicadas em todas as situações de nossas vidas.
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Quais são os ensinamentos que o budismo prega?
A pregação do Buda começou com ensinamentos surgidos da experiência pessoal que ele teve com base no que ele viveu com o ascetismo e no momento em que ele ascendeu. Entre esses ensinamentos, estão as Quatro Verdades Nobres:
- A vida é sofrimento, desarmonia e desequilíbrio — a natureza do sofrimento (dukka).
- O sofrimento é fruto dos Três Venenos Mentais (ira, cobiça e ignorância) — a origem/causa do sofrimento (samudaya).
- O equilíbrio pode ser restabelecido — a cessação do sofrimento (nirhodha).
- O Caminho do Meio é o que nos leva ao equilíbrio da vida — o caminho que liberta do sofrimento (maggha).
A primeira das Verdades existe para nos lembrar da existência cíclica de sofrimentos e nascimentos, da necessidade de entendermos que o sofrimento precisa ser inteiramente compreendido — é a tomada de consciência.
Já a segunda Nobre Verdade nos conscientiza de que o sofrimento não é mera obra do acaso, não é um castigo às nossas más ações (não é um deus nos punindo por nossos pecados). O sofrimento é tão somente fruto do nosso apego ao desejo, à nossa falta de saciedade, ao nosso ego. Não que o prazer seja algo condenável; o que é problemático é nos tornamos escravos dele.
A terceira das Verdades vem para nos tranquilizar sobre a possibilidade de cessar o sofrimento, com o fim do desejo insaciável, por meio do enfrentamento à nossa ignorância. Para encerrar, a Quarta Nobre Verdade fala sobre a necessidade de evitarmos os extremos da vida: nem o prazer excessivo, nem a renúncia total. É o chamado Caminho do Meio.
Esse caminho para cessar de vez o sofrimento se divide em oito partes (daí também se chamar Nobre Caminho Óctuplo): Compreensão Correta, Pensamento Correto, Linguagem Correta, Ação Correta, Modo de Vida Correto, Esforço Correto, Vigilância Correta e Concentração Correta.
Ou seja: tudo, segundo o budismo, é uma questão de equilíbrio, com base na ética, para alcançar uma vida plena. E é isso que rege tudo o que envolve a crença dos budistas.
No que os budistas acreditam?
Por não ser uma religião centrada em uma ou mais deidades, nem mesmo Buda se via como uma divindade. Ele se sentia mais como um guia espiritual.
Apesar de o budismo ser uma religião não teísta, os budistas acreditam que todos os seres encarnam e reencarnam — não só os seres humanos. Sendo assim, defendem que a bondade precisa ser direcionada a todo ser, até porque podemos reencarnar sob qualquer forma.
Os seguidores da doutrina também acreditam na consciência física e espiritual como caminho para as felicidades passageiras e a definitiva (iluminação). Para eles, o principal propósito da consciência é o nirvana — o conhecimento físico e espiritual pleno –, que permite acabar com todos os sofrimentos e levar à paz.
Quais são os símbolos do budismo?
Os símbolos budistas representam esse caminho espiritual que leva à paz interior suprema da iluminação. Foram ofertados ao Buda para que ele retribuísse ensinando sobre o que ele conquistou quando se iluminou, ou seja, a sabedoria que liberta do sofrimento.
Esses símbolos também representam proteção, harmonia, fé, inspiração, pureza, desprendimento da ilusão, sabedoria e equilíbrio.
Destacamos aqui os oito símbolos auspiciosos e seus significados, para você entender um pouco melhor sobre cada um deles. Confira:
- Flor-de-lótus — um dos mais importantes símbolos do budismo. A bela flor-de-lótus surge dos pântanos, elevando-se sobre o lodo. A analogia é que, mesmo sob adversidades e toxicidades da vida, é possível manter a essência intacta e digna.
- Par de peixes dourados — originalmente um símbolo dos rios sagrados Ganges e Yamuna, essa figura representa a abundância, a fertilidade, a prosperidade e a alegria, por se movimentar com liberdade.
- Nó infinito — suas linhas entrelaçadas sem começo nem fim representam a eterna continuidade, a ideia de que sempre haverá algo depois de outra coisa. A reencarnação é um exemplo dessa continuidade. Também simboliza causa e efeito, sendo conhecido como um símbolo do karma.
- Roda do Dharma — seus oito raios representam os oito ensinamentos do Buda que mencionamos mais acima, nas Quatro Nobres Verdades. Simboliza a condução à libertação do sofrimento, promovida pelos ensinamentos budistas.
- Concha branca — é a palavra do Buda, o som do dharma fazendo-nos despertar da ignorância.
- Guarda-sol — simboliza a proteção contra sofrimentos que podem nos desestabilizar e abater.
- Vaso — remete ao conhecimento infinito do Buda e à generosidade dos seus ensinamentos. Também pode representar saúde e vida longa.
- Bandeira da Vitória — simboliza a vitória dos pensamentos positivos sobre os negativos. Também é um símbolo do Buda vencendo o senhor das ilusões, que vivia criando ciladas para impedir o Buda de atingir a iluminação.
Há, obviamente, outros significados para esses símbolos, e eles podem ser usados de diversas formas, com objetivo de resgatar em nós a essência do propósito de cada um e do próprio budismo.
Quem é o líder religioso do budismo?
Falando de simbologias e representações, podemos incluir a figura do dalai-lama, que, além de ser um líder religioso, é como se fosse a personificação dos ensinamentos do budismo, dada a sua responsabilidade de propagar os ensinamentos da doutrina.
Se fizermos uma comparação religiosa superficial, ele seria como o Papa, até porque também é um chefe de Estado, assim como o líder da Igreja Católica.
Dizemos “superficial” porque a escolha do Papa se dá por meio de eleição. Já no caso do dalai-lama, é feita uma busca de sua encarnação em um bebê nascido alguns anos antes da morte daquele que será sucedido.
É valioso entender a diferença entre o Buda e o dalai-lama. O primeiro é uma pessoa que acordou do sono da ignorância. Já o segundo é um título, concedido a um indivíduo da linhagem Gelug do budismo tibetano. Ele representa a encarnação do Buda, porém de um específico — Avalokiteshvara, conhecido como o Buda da Compaixão.
O termo “dalai-lama” significa “oceano de sabedoria”, em mongol. E o primeiro título foi concedido em 1578, por um príncipe mongol, à terceira encarnação de Avalokiteshvara, o Buda da Compaixão.
Na atualidade, o dalai-lama é Tenzin Gyatso. Além da incumbência de difundir o budismo pelo mundo, ele também tem a missão de propagar a causa e a cultura tibetana, responsável pelo desenvolvimento da linha de budismo que conhecemos aqui, em terras ocidentais.
O que é budismo tibetano?
Existem diferentes vertentes budistas. A que apresenta um caráter mais ritualístico do que aquele que lhe deu origem é justamente a que se desenvolveu no Tibete. É conhecida também como budismo vajrayana ou lamaísmo — este último termo referindo-se à figura do dalai-lama, que, como dissemos, é o líder espiritual do budismo.
Quando se espalhou para além da Índia, ao chegar ao Tibete, o budismo sofreu uma série de modificações, associadas às crenças xamânicas típicas da região. Assim, o budismo tibetano acabou sofrendo influência de antigas religiões, como o bonpo, somadas a outras tradições espirituais.
Nessa vertente, as práticas meditativas são mais apuradas, envolvendo grandes cultos ritualísticos que incluem a leitura das sadhanas — textos litúrgicos para a prática de meditação vajrayana —, em que há visualização de divindades meditacionais. Além disso, são entoados mantras, com a utilização de sinos, tambores e outros instrumentos.
Essa foi a variação do budismo que se difundiu com predominância no Ocidente. No entanto, para o Oriente, não existe a denominação “tibetano”, uma vez que não há distinção entre as práticas. E realmente não importa tal distinção; o que importa é que é por meio do budismo que podemos alcançar o equilíbrio e a nossa evolução como pessoas.
Como você pôde perceber, o budismo tem uma série de contribuições para o seu bem-estar, autoconhecimento e melhoria como ser humano, por meio da prática e da adaptação dos ensinamentos que ele traz para o mundo, independentemente de religião ou crença. Se você achou esse conteúdo interessante, compartilhe com seus amigos e familiares. Não se esqueça de consultar outros conteúdos que preparamos sobre o tema!