Vejo, estarrecido, tantas pessoas ao redor do mundo tentando fazer viagens astrais e não vejo, no entanto, o mesmo interesse por viagens dentro de si mesmo. A ânsia por novas experiências, talvez em busca de um Shangrilá qualquer, conduzem multidões de incautos na busca por estados mentais de êxtase nos lugares menos prováveis. Não percebem as armadilhas do caminho e gastam energias preciosas em trilhas que não levam a lugar algum.
Não existe realização no exterior, do lado de fora só existem experiências e, é claro, que elas são necessárias, afinal, fazem parte da dinâmica que envolve a condição humana, são estágios naturais que precedem o nosso despertar, porém, em algum momento, esse interesse pelo mundo, pelo corpo e pela mente irá perder força, simplesmente pelo fato de serem apenas brinquedos colocados pelo universo para o nosso entretenimento.
Na Índia existe uma denominação para isso, eles chamam de “Leela – a brincadeira do Divino”. É como se tudo que existisse não passasse de um pensamento do Absoluto. Se existe, portanto um criador, é justamente essa instância pensante que constrói o universo com seus próprios elementos. O problema é que o objeto pensado crê-se independente e passa por processos de maturação nesse ambiente de ilusões. Para alívio e consolo geral, depois de períodos angustiantes, retorna à própria fonte. A fonte desta mesma perfeição.
Enquanto inconscientes da própria natureza, seguimos em busca da verdade suprema, experimentando e construindo pontes para esse retorno. Nem sempre acertamos as portas, nem sempre escolhemos o caminho certo, mas percebemos um motor que nunca deixou de nos impulsionar, mesmo quando tragados por abismos profundos de ilusões, algo intocável e perene sempre esteve presente.
O mundo é envolvente, por isso tantos obstáculos, por isso pensamos que nele encontraremos a paz e com isso acreditamos nos mais variados discursos.
Sempre haverá uma flauta encantada a nos conduzir, até que deixemos de agir como ratos. Profetas, gurus, pastores, padres, apóstolos, ou quaisquer que sejam os líderes a nos conduzir, não poderão nos mostrar a realidade. Nem eles mesmos sabem! Aqueles que realmente acordam – tal qual no Mito da Caverna de Platão – dificilmente encontram meios de convencer os que dormem, seria como explicar o que é o amarelo para um cego, não existem palavras que possam traduzir a “realidade”.
Em contrapartida, aqueles que se lançam entre as multidões, com discursos sedutores e promessas de felicidade, conseguem arrebanhar legiões. Basta ser um pouco razoável para perceber que são aproveitadores gananciosos em busca do poder. Agem como mercadores de ilusões, com sorrisos e gentilezas, mas no fundo, são pérfidos escravocratas que se autodenominam porta-vozes da verdade.
A única verdade é que conhecemos o que não somos e desconhecemos o que, de fato, somos. Vivemos presos nesse playground de Deus sem percebermos que somos esse mesmo Deus brincando e se divertindo. Tudo isso ocorre, enquanto esperamos o decaimento energético da experiência.
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Toda identidade que criamos com a experiência é sempre trágica, pois não há saída nesse labirinto, a saída está no conhecimento do Eu verdadeiro e ele é a fonte, portanto, é preciso retornar e não avançar cada vez mais no enredo fictício do plano mental.
O fruto só cai do pé quando está maduro, portanto, para muitos esse discurso é absurdo, no entanto, a graça da autorrealização se espalha como nunca pelo planeta. Estamos vivendo o tempo do apocalipse, e apocalipse quer dizer simplesmente revelação.